Páginas

domingo, dezembro 30, 2018

Se


Se você soubesse, amor, que eu te quis da cabeça aos pés.
Se você tivesse os olhos abertos e os ouvidos destampados, se você conseguisse exorcizar os seus fantasmas, se livrar do seu passado, me abrir como um livro e apenas me ler, você encontraria alguém tentando te pertencer. Você me veria desnuda, despida dessa versão que me diz que eu tenho que ser minha, apenas tentando ser de você, esperando me dizer coisas insanas, me pondo de quatro ao seu bel prazer. E deixando você me convencer a ser mãe dos teus filhos. Você me veria tentando te encaixar no meu mundo, te trazendo pra minha cidade, pros meus amigos, pros meus pais e pro meu interior. Praquelas partes que você nunca quis visitar: eu quis te levar até lá. Até as profundezas de mim, até onde eu fui capaz de cavar. Pensei que talvez, se você me conhecesse de uma vez por todas, talvez deixasse de ter medo do que você era capaz de criar e começasse a lidar com os problemas reais. Se você soubesse que desde aquele dia em que, sentado, com um cigarro na boca, você soprou a fumaça e deixou junto escapar que eu era tudo o que você sonhou, se você imaginasse que desde então todos os dias eu sonhei em acordar pra sempre do seu lado. Se você entendesse que eu falei de você pra cada pessoa que eu cruzei nessa minha estrada meio sem rumo, que eu fiz planos pra mês que vem e pra nossa velhice, que eu me imaginei te contando que estávamos esperando nosso primeiro filho, e em como seria a nossa lua de mel depois de beber a noite inteira. Se você fosse capaz de entender que eu vislumbrei a gente contando pros nossos filhos como foi difícil mas a gente fez acontecer. Se você entendesse, se você concebesse, se você fosse capaz de ver o quanto eu te amei. O quanto eu quis você. Não porque era conveniente. Não por que "era pra ser". Não porque era fácil. Não porque era o que todos esperavam. Ou porque você fez por merecer. Eu te amei antes de ser capaz de entender. E te quis pra sempre. E me refiz em volta de você. Se você visse, não teria tantos medos, tantas vozes falando por você. Você não teria tanto medo quando eu partisse se entendesse que pra sempre eu iria querer voltar. Não se sentiria tão só quando eu estava ausente se você realmente enxergasse que meu pensamento era todo seu. A todo o tempo. Seu. E sua era eu. Você não brigaria por minutos, quando a gente tinha todo o tempo do mundo. Não haveria tantas inseguranças entre a gente, tantas improbabilidades nos impedindo de nos conectar. E se você tinha meu pensamento, meu tempo, meu corpo e meu amor, você não me pediria mais nada. E a gente finalmente iria se bastar.

Se você fosse capaz de entender, meu bem, o quanto eu te amei, sem nunca querer partir, você enlouqueceria por ter chegado ao ponto de me deixar ir.

segunda-feira, julho 16, 2018

Desde antes do nosso fim, muito antes de você deixar de ser meu primeiro pensamento do dia, eu já sabia: eu iria amar novamente. Eu sabia que eu ia de novo sorrir um sorriso besta parada olhando a tela de um celular. Que outra vez eu iria rir e falar alguma bobeira por ter medo de dizer o que eu realmente queria.
Eu sabia. Então eu tentei seguir em frente numa aposta cheia de fé, rumo a um futuro que fosse 'o melhor' pra todos nós. Mas o que eu não previ, a pegadinha em que o destino me meteu é que eu iria, sim, amar de novo. Mas a minha fé no amor nunca mais seria a mesma. Ela estaria enterrada embaixo de incertezas e sete pés atrás e questionamentos constantes se as coisas merecem o meu esforço, afinal, o mundo é um moinho e ele pode pegar todas as minhas apostas e a minha dedicação e todos os planos pra daqui a um mês ou vinte anos e fazer tudo virar pó. Tudo agora parece volátil demais e incerto demais e, eu não sei, talvez com todos os meus gestos eu quisesse te pedir socorro, como se quem sabe você fosse o único capaz de restaurar a minha capacidade de acreditar. Quem sabe, se você me quisesse mesmo, mas me quisesse de verdade, um sinal de fraquejo da minha firmeza em seguir em frente bastasse pra você entender que uma parte de mim sempre esperou você vir me resgatar. Talvez você viria correndo e gritaria na minha janela que você sempre me quis e tudo foi um erro tolo, um tropeço na nossa história, mas que juntos a gente podia consertar essa bagunça e fazer melhor daqui pra frente. E você me levaria pra almoçar com sua mãe como uma surpresa e ela iria sorrir como quem sempre soube. Talvez, se você me fizesse acreditar que meu lugar é com você, eu me renderia de novo a essa ideia tola de que quem faz o amor funcionar somos nós. E que se eu quisesse fazer dar certo era só uma questão de lutar por ele. E não essa desgraça de mundo em que você pode dar pro outro seu coração, seu fígado e suas tripas e ainda assim o destino pode se revirar e chacoalhar e, com o dedo na tua cara, te foder te dizendo: "não vai ser nada disso, não".

terça-feira, dezembro 12, 2017

Furacão

Chegou criando um redemoinho em volta de mim: de repente tudo o que eu via à minha volta era ele. Chegou avançando rápido: entre o primeiro sinal de que chegaria e o auge da sua presença foi um estalar de dedos. Não veio em silêncio, mas chegou fazendo barulho, trazendo promessas grandiosas e revolução. Arrastou tudo do seu lugar. Fez tremer bases antes tidas como sólidas. Era tão forte, tão intenso, que parecia que nunca iria passar. Se impôs como se fosse durar pra sempre.
Mas quando eu estava no ápice, dentro do olho do furacão, com a mesma força com que me sugou pra dentro desse redemoinho, ele me cuspiu pra fora. Me lançou pro nada, no meio dos escombros. E com a mesma velocidade com que veio, se foi.
E o que ficou foi só silêncio e vazio e o reverberar de suas ações. Uma casa desmanchada, desmoronada.
Mas também um céu limpo e uma chance de recomeçar.

quarta-feira, dezembro 06, 2017

Isso não é Amor

Amor não limita, dá asas
Amor não proíbe, acompanha
Amor não apaga, traz brilho
Amor não possui, compartilha
Amor não enclausura, expande
Amor não domina, é parceiro
Amor não sente ciúme, confia
Amor não isola, multiplica os laços
Amor não é orgulhoso, é humilde pra ceder
Amor não julga, compreende
Amor não é rancoroso, perdoa
Amor não afasta, traz pra perto
Amor não ignora, dá colo e ouvidos
Amor não quer tudo no seu tempo, espera
Amor não tem pressa, pois dura todo o tempo do mundo
Amor não desiste, enfrenta
Amor não abandona, suporta
Amor não provoca, acalenta
Amor não pune, acalma
Amor não ofende, cura
Amor não é opcional, é peremptório
Amor não morre na dificuldade, amadurece
Amor não é um, é dois
Amor não é isso. Amor é outra coisa.

domingo, dezembro 03, 2017

"Eu estou escrevendo aqui porque eu não posso te contar, olhando nos seus olhos, que tudo isso foi uma péssima ideia, que eu nunca concordei... Por que você teve que me empurrar com tanta força pra fora de sua vida? Será que sua memória é tão ruim assim que você já se esqueceu de como a gente era bons juntos? Você não se lembra de cada vez que a gente dançou aquela música de sempre, coladinhos e descalços no chão do seu quarto? Cada um daqueles segundos fazia viver ter um sentido, valer a pena: entende que isso é o quanto eu te amei? Não havia vazio quando o nosso amor me ocupava. Você já se esqueceu de cada momento em que a gente, num gesto de verdadeiro cuidado, cozinhou um pro outro? E a gente sentou lado a lado - mas tão pertinho que chegava a atrapalhar - e comeu e falou da vida e de nós e do nosso futuro? E quando a gente chapados comia deitados no seu colchão tudo o que houvesse nas nossas casinhas? "Nossa casinha", era assim que a gente chamava. Lembra de quando a gente voltava mais cedo pra casa ou pra Viçosa só porque a gente queria ter um momento só nosso? Você não se lembra de cada vez que a gente fez amor? E não importa que fosse intenso ou selvagem: a gente sempre fez amor, porque naquele momento a gente era um do outro. A gente tava ali cem por cento: aquele momento era tudo o que a gente queria. Quando foi que você se esqueceu, meu bem? Quando foi que a sua insegurança e o ciúme suplantou todas as vezes em que eu te olhei nos olhos e disse que nunca mais eu queria ficar sem você? Quando foi que isso te fez esquecer de todas as vezes que eu disse que eu queria te levar pro mundo comigo? Como assim o seu desejo de controle é tão grande que te impede de ver que eu sempre quis estar com você, e sempre por uma escolha? Cada vez que eu te chamei pra fazer parte de cada momento da minha vida... e estar com minha família, com cada um dos meus amigos. Eu te quis do meu lado sempre e isso nunca foi por obrigação ou porque você me disse que tinha que ser assim. Sempre foi porque eu te amei. Quando foi que você deixou de me oferecer colo e passou a fazer sentido que você dissesse coisas pra me machucar?
Dói tanto porque eu acreditei que talvez fosse você o amor da minha vida. E que se a gente conseguisse superar isso, de todo o resto a gente daria conta. Eu não te perderia nem pra distância. Eu não te perderia por qualquer besteira. A gente enfrentaria tudo juntos e teria um ao outro pra ser alívio diante desse mundo de dor.
Quando foi que tudo isso deixou de bastar? A gente tinha tudo: paixão, amor, admiração um pelo outro. O que foi que faltou, me diz?
"Nobody said it was easy
Oh, it's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard"

Artista desconhecido

Quando a gente quer muito uma pessoa, a gente se engana. A gente tenta encaixar aquele outro ser humano em posições que nunca foram dele. A gente clama ao universo para um sim em algo que já começou destinado ao não. A gente quer, e a gente bate o pé e faz pirraça feito criança para conseguir. Mas um dia a gente percebe que amor tem que ser uma via de mão dupla. Amor tem que ser fácil, tem que ser bom, tem que ser complemento, tem que ser ajuda. Amor que é luta é ego. Amor que rebaixa é dor. E então a gente aprende que amor que não é amor, não encaixa, não orna, não serve.

Fique com alguém que não tenha conversa mole. Que não te enrole. Que não tenha meias palavras. Que não dê desculpas. Que não bote barreiras no que deveria ser fácil e simples. Fique com alguém que saiba o que quer e que queira agora.

Fique com alguém que te assuma. Que ande com orgulho ao seu lado. Que te apresente aos pais, aos amigos, ao chefe, ao faxineiro da firma. Que segure a sua mão ao andar na rua. Que não tenha medo de te olhar apaixonadamente na frente dos outros. Fique com alguém que não se importe com os outros.

Fique com alguém que não deixe existir zonas nebulosas. Que te dê mais certezas do que perguntas. Que apresente soluções antes mesmo dos questionamentos aparecerem. Fique com alguém que te seja a solução dos problemas e não a causa.

Fique com alguém que não tenha traumas. Que não tenha assuntos mal resolvidos. Que saiba que para ser feliz, tem que deixar o passado passar. Fique com alguém que só tenha interesse no futuro e que queira esse futuro com você.

Fique com alguém que te faça rir. Que te mostre que a vida pode ser leve mesmo em momentos duros. Que seja o seu refúgio em dias caóticos. Fique com alguém que quando te abraça, o resto do mundo não importa mais.

Fique com alguém que te transborde. Que te faça sentir que você vai explodir de tanto amor. Que te faça sentir a pessoa mais especial do universo. Fique com alguém que dê sentido à todos os clichês apaixonados.

Fique com alguém que faça planos. Que veja um futuro ao seu lado. Que te carregue para onde for. Que planeje com você um casamento na praia, uma casa no campo e um labrador no quintal. Fique com alguém que apesar de saber que consegue viver sem você, escolhe viver com você.

Fique com alguém que não se esconda. Que não te esconda. Que cada palavra seja direta e clara. Que não dê brechas para o mal entendido. Que faça o que fala e fale o que faça. Fique com alguém cujas palavras complementam suas ações.

Fique com alguém que te admire. Que te impulsiona pra frente. Que te apoie quando ninguém mais acreditar em você. Que te ajude a transformar sonhos em realidade. Fique com alguém que acredite que você é capaz de tudo aquilo que queira.

Fique com alguém que você não precise convencer de que você vale a pena. Que não tenha dúvidas. Fique com alguém que te olhe da cabeça aos pés e saiba, sem hesitar, que é você e só você.

Fique com alguém que te faça olhar para trás e agradecer por não ter dado certo com ninguém antes. Fique com alguém que faça não existir mais ninguém depois.

segunda-feira, novembro 13, 2017

Aquilo que não tem rosto

Onde está você que ao invés de virar meu mundo de cabeça pra baixo vai chegar colocando tudo no seu devido lugar? Por onde você anda com esse amor que é calmaria e acalento ao invés de turbulência e dúvidas? Onde se encontra você que tem esse amor paciente, que me deita no colo e me faz cafuné enquanto a gente briga, e que no final me dá um beijo e diz que vai estar ali não importa o que aconteça? Onde tá você que vai ser meu parceiro pra toda hora, e que vai desejar dividir comigo cada pedaço do seu e do meu mundo? Que vai me encorajar pra que eu conquiste o mundo inteiro, mas que ao mesmo tempo vai dar o seu melhor pra poder caminhar ao meu lado? E então a gente vai dividir a Netflix num domingo, um cigarro depois de uma terça estressante, um funk e uns shots numa sexta, e uma pizza naquele lugar romântico numa quarta. E tudo isso vai ser ainda melhor dividido com você. Onde está você, meu confidente? Eu estou te esperando pra te contar todos os meus segredos e meus pecados e minhas falhas de caráter, pra você franzir o cenho preocupado, e logo depois rir de tudo comigo e beijar minha boca sem - nem sequer por um segundo - questionar o nosso amor. E quando a gente precisar passar uma tarde ou uma semana ou um ano separados, ao me ver de novo você vai me abraçar apertado com saudade, mas também com a tranquilidade de quem sabe que somos um do outro e que por isso temos todo o tempo do mundo pra estar juntos. Cadê você que, com sua intensidade, vai fazer eu me sentir a mulher mais sexy do mundo toda vez que a gente fizer amor? E que, com sua doçura, vai me falar como me admira e me acha linda e como venera cada pedaço e parte de mim? E que, com sua sensibilidade, vai escrever sobre nós e me falar de você e das suas dores e fazer um dueto comigo em cada canção e depois me tirar pra dançar? Onde está você que vai sentir tanta sorte de estar comigo que vai querer por um anel no meu dedo e contar pra todo mundo no meio de uma cerimônia que eu sou sua mulher e que o seu amor é meu, e que vai querer ter comigo tantos filhos e cachorros quanto o tempo nos permitir, e que vai chorar feito um menino quando eu te contar que eu e estou esperando um presente tão seu quanto meu? Onde está você que quando me encontrar não vai mais me largar e vai enfrentar o mundo bem aqui do meu lado? 
Olha, eu te peço: não demora não. Corre na minha direção. Porque eu já estou pronta há muito tempo. Eu tô pronta pra ser só de você, de um único alguém. Eu tô cansada de esperar por esse nosso amor que vai ser tão compulsório que vai me fazer querer firmar o pé no mesmo lugarzinho só pra estar perto de você, e ao mesmo tempo vai me dar coragem pra ir pra onde for se for contigo.
Eu tô mais que pronta pra esse amor que transcende o tempo e a dor e os desafios e enche o peito e faz querer gritar pro mundo. Eu juro, eu já tô preparada pra esse amor que chega com ar de epifania e faz perceber que era isso o tempo todo, era sobre isso que os romances falavam, era isso que as canções diziam. E finalmente chegou pra mim o momento em que toda a minha trajetória fez sentido e todas as dores foram justificadas. E todos os meus erros tiveram o único propósito de me tornar melhor pra você.
Então, meu bem, anda logo que eu estou aqui te esperando.. e dói demais cada vez que parte alguém que chegou tentando ser você.
Meu amor, eu já te conheço: só falta o seu rosto.

sexta-feira, agosto 25, 2017

Você se vai e deixa um vazio, mas esse vazio que você deixa é muito maior do que o espaço que você antes ocupou, e não demora muito esse vão é tomado por desesperança. Você não foi o primeiro nem o segundo que ao anunciar sua partida disse que me amava, ouvir de você que eu fui a melhor namorada que você já teve foi certamente lisonjeiro, mas nem de perto me consolou. Eu comparo essas palavras àquelas de quem um dia partiu de mim dizendo que me amava muito e não sabia se um dia iria amar alguém assim de novo, ou de quem um dia me disse 'ei, você é o amor da minha vida', mas também decidiu que a melhor direção era aquela que levava pra longe de mim. E todas as coisas lindas que você me disse em vão, tudo isso gera um eco, reverbera em mim, eu tremo até as pontas dos dedos só de lembrar que você quis um futuro, filhos e um cachorro comigo, dividir suas refeições, as noites com netflix, as festas, os becks, dormir e acordar do meu lado todos os dias, e que isso não chegou nem perto de bastar. Em quantos amores da vida eu ainda vou ter que esbarrar até achar um que vai permanecer? Quantos anos eu tenho que dedicar, quantos planos eu tenho que fazer, até um dia alguém decidir que vai enfrentar o caos do mundo (pra estar) do meu lado? O que vai fazer bastar? Vocês me vêm com essa balela de que eu sou perfeita, a mulher com quem vocês sempre sonharam, mas que na verdade isso é sobre vocês e aí vocês vão embora mesmo sem sequer olhar pra trás. Talvez se você me dissesse olha, você acorda mal humorada ou você bebe demais ou você é controladora ou você cozinha mal. Mas não, você também se vai sem me dar sequer uma pista do que eu posso fazer pra um dia funcionar, porque nem todo o amor, nem a paixão ainda fervendo na pele, nem eu sendo como você me disse aquela vez tudo aquilo que você procura numa mulher, isso não te fez pensar duas vezes antes de partir na primeira turbulência.

segunda-feira, julho 10, 2017

Extravagância

No meio do caos que me circundava, você me aconteceu da maneira mais improvável, quase inoportuna, e igualmente irresistível que poderia ser.
Não foi de uma só vez. Não foi logo naquele primeiro beijo em meio à música alta e a tanta turbulência que eu te senti. Talvez tenha começado quando, na sua casa, bebendo com seus amigos, eu soube pela primeira vez como era ter a sua respiração no meu pescoço: naquele momento eu decidi que eu queria você em mim. Talvez tenha sido naquele dia em que a sua respiração não se conteve à minha nuca, mergulhando nas minhas coxas e invadindo meu corpo: muito rápido a adrenalina dilatou minhas veias, deixando em cada célula minha uma parte de você.
Você é uma extravagância do meu corpo. Um capricho do meu coração.
Talvez tenha sido no dia em que eu acordei cedo, apressada, tropeçando em direção ao despertador antes que ele te acordasse. Levantei bem cedo por afazeres que me esperavam de forma categórica. Mas naquele momento eu parei um pouco, só pra poder te ver dormindo. Você, por sua vez, abriu os olhos só mais ou menos, como geralmente faz, estendeu seus braços e me trouxe de volta, me afogando entre lençóis e beijos.
Foi naquela manhã em que eu te olhei enquanto dormia: naquela manhã eu quebrei a minha promessa de não me entregar.
Não vê que uma noite não basta pra matar essa vontade que eu tenho de ti? Não vê que lá fora está frio? É complicado demais do lado de lá. Contigo aqui é tão simples. Então eu sugiro que a gente feche as cortinas, deixe esse mundo apressado tropeçar no próprio caos e desabar. Enquanto isso eu vou desligar o celular e perdê-lo de vista num canto qualquer, porque aqui há tudo o que eu preciso por hoje. Não há necessidade de ir lá fora, garoto.
E aqui é onde eu desejo existir.

terça-feira, junho 20, 2017

Reserva

A minha partida do seu abraço foi brusca. Mas não tanto quanto a sua mudança de postura diante dos meus primeiros sinais de entrega. É verdade que você foi o primeiro a fazer pequenos planos, a usar a palavra 'amor' e a falar de mim pra sua mãe. Foi você quem me disse pra parar de buscar confirmação de que era isso mesmo: você me queria ali um pouco ou muito mais. Você pediu licença para entrar, e me lembrou de como é valioso se permitir viver as coisas. Sentir sem medir cada consequência. Me falou pra não ter medo. E isso era o que eu mais gostava em nós: o sentir. As vontades não reprimidas. A intensidade transbordando e a gente deixando entornar. Então, quando você fez isso parar... Quando você deu voz ao seu medo e fechou as portas e algumas janelas pra nós, algo em mim desmoronou. Olha, esse texto é sobre mim, não sobre você, porque o medo que eu carrego chegou muito antes de você. O medo que eu carrego vem de todas as vezes em que eu quis me entregar pra alguém, e esse alguém educadamente balançou a cabeça e com um gesto de mão deixou a entender que na verdade, verdade mesmo, não me queria tanto assim. Ele vem de todas as vezes em que me disseram 'calma' quando tudo o que eu estava tentando fazer era amar. Como se desse pra ofender alguém amando demais (Dá?). E eu fui embora de você porque eu estou exausta. Exausta de ter que pedir licença a cada passo que eu dou na direção do outro. Cansada de viver as coisas pela metade. De sentir as pessoas pela metade - e eu te gostava tanto por ser tão inteiro. É que eu nasci pra amar, sim, mas eu não tenho força pra colecionar decepções sem perder a fé no amor. Porque eu ainda me sinto inteira pra amar sem medo. Mas não me parece muito longe o ponto da virada. Eu já não tenho muitas fichas pra queimar. E eu não quero desacreditar. Quando chegar algo verdadeiro eu não quero jogar por água abaixo por estar danificada, submersa em dúvidas, inseguranças. Porque é devastador amar tanto e ao mesmo tempo ter tanta dúvida do outro. O desespero me faz rezar pra um Deus que eu nem sei mesmo se está lá, implorando pra ele mandar logo aquela pessoa que foi feita só pra mim, mesmo sem acreditar que esse alguém sequer exista.
Enquanto isso, há uma parte de mim que eu estou reservando pra me manter forte.

quarta-feira, fevereiro 01, 2017

A coisa mais linda que tive

Acordar juntos. Jantar com a sua família. Passar a tarde na piscina. Cozinhar juntos. Cozinhar pra você. Ver você comer tudo e falar que tá uma delícia. Voltar de uma festa e comer cachorro quente. Andar de mãos dadas. Ter companhia pra tomar qualquer sorvete. Dormir de conchinha. Tirar uma soneca juntos de tarde. Ver o mesmo episódio de friends ou tbbt pela milésima vez. Trocar gifs fofos de bichinhos ou imagens engraçadas. Rir dos seus palavrões. Fazer graça do seu excesso de confiança. Fazer amor com você. Fazer sexo com você. Dançar pra você. Colocar uma música e ouvir do seu lado. Te ouvir contar suas histórias. Ser sua amiga. Ser amiga dos seus pais. Ser amiga dos seus amigos. Falar de você o tempo todo quando não estou com você. Cuidar de você quando você está doente. Buscar remédio na sua ressaca. Te beijar intensamente no meio de uma festa. Comer besteira juntos. Te mostrar orgulhosamente meus músculos de quem tá malhando há uma semana. Procrastinar os estudos pra ficarmos à toa. Ver o vídeo novo do 'porta dos fundos'. Rir das histórias do seu pai. Discutir coisas polêmicas. Falar mal de pessoas rasas. Esperar você ficar bêbado pra conseguir que você dance comigo. Rir do seu palavreado. Comer pizza customizada porque é bom e barato. Ouvir suas músicas ruins. Viajar ouvindo Capital. Viajar ouvindo a sua seleção de músicas. Achar que você é todo meu. Chegar de viagem e ter você me esperando. Ser feliz todos os dias por ter você. Por querer você. Por amar você. Querer tudo isso indefinidamente. Querer fazer planos sobre nós.
Tudo isso é o que vai me doer dia após dia.
Tudo isso é o que me fez chegar até onde eu cheguei, esperando sempre um pouco mais. Eu te amei tanto que eu não me importei que você bebesse além da conta, que você fosse desbocado, ou com os defeitos que você tem. Eu te amei tanto que eu fui feliz apesar disso. E fui até o final. (...)

terça-feira, janeiro 31, 2017

Posso?



Terça-feira, 23 de junho de 2012
 Me desculpa a frase vulgar e pouco original, mas eu quero te conhecer, posso? Me deixa te pagar uma bebida, mas dessas que têm a dose generosa, pra que eu possa ouvir mais tempo sobre você. Mas não me leve a mal. Eu não estou aqui porque o bolso da sua calça denuncia que você pagou muito caro por ela, ou porque seus olhos são os mais lindos desse lugar. Eu estou aqui porque você tem esse ombro curvado de quem pede desculpas por algo, de quem lamenta pela vida, de quem se sente indignado. Estou aqui porque seus olhos azuis acinzentados - difícil definir com essa luz inquieta - se fecham quando você dança. Porque seus olhos não procuram um corpo atraente pra se ajuntar. E eu quero te conhecer, sim. Mas eu não quero saber qual curso você faz, nem qual seu restaurante preferido. Eu quero saber qual a primeira palavra que você disse, e do que você tem mais medo nessa vida. Eu não quero saber quantos anos você tem, nem a cidade em que você nasceu. Eu quero saber se você tinha um balanço no quintal da sua casa, e o que você pensa de pessoas que tiram a própria vida. Eu não quero saber seu endereço, nem o número do seu telefone. Eu quero saber em quem você pensa quando tudo parece meio fora do lugar, o que te tira o apetite e o que te causa calafrios. Eu quero saber quem foi a primeira pessoa que te decepcionou, e o que você acha da morte e da vida. Eu quero saber se você dorme de costas ou de barriga pra baixo e se suas mãos suam quando está nervoso. Eu quero saber se você sai e sorri quando está triste ou se você se esconde. Eu quero saber o que te emudece, e o que te faz ficar sem ar. Eu quero saber se você gosta de café forte ou de sobremesa. Eu quero saber se você fecha os olhos ou se canta alto quando ouve sua banda predileta. Eu quero saber se você segura pelas mãos pensando em nunca deixar partir. E não tem como eu saber nada disso te vendo dançar aqui de longe, ou vigiando suas redes sociais. E é por isso que eu estou aqui, te pedindo: por favor, me deixa te conhecer. Posso?

sábado, janeiro 14, 2017

"[...] E eu não gosto muito desses sonhos que nos parecem tão reais, porque trazem à tona sentimentos que já estavam acomodados. E a gente acredita tanto, e por um momento parece ser tão verdade, que o peito dói como se tudo tivesse acontecido ontem. Hoje, enquanto eu caminhava e me lembrava do que aconteceu, eu pensei que talvez essa dor e esse sonho sejam um bom sinal. Finalmente você está desocupando a minha consciência para só ter lugar no meu subconsciente. E isso vai ser apenas por um tempo. Daqui a pouco você não vai mais estar presente no meu dia-a-dia, como o tem sido: vai ser lembrança. E depois de mais um tempo eu vou me esquecer de lembrar e, apenas um dia ou outro, alguma música ou um cheiro vai me lembrar de você. E, no início, eu vou saber que é de você, mas vai chegar o tempo que eu não saberei mais dizer do que eu sinto nostalgia. E vai se passar mais algum tempo até que outros cheiros e outras músicas me façam lembrar de outros momentos bons e de outras pessoas.
E até que tudo isso fique  impregnado única e simplesmente nestas palavras que aqui estou deixando como prova. [...]"


terça-feira, dezembro 06, 2016

Silêncio

Outubro, 2016

Me desculpa se às vezes eu me calo, desvio o olhar do seu e não te conto o que se passa na minha cabeça. Mas é que eu não consigo mais ter de novo e de novo aquela velha conversa onde eu te pergunto 'o que é que você quer de nós?', onde você me lança um olhar meio perdido e meio indisposto. Indisposto - como quem já está cansado do mesmo papo - e perdido - como quem não sabe de onde vem e nem pra onde vai.
A sua calma em se decidir sempre te leva a um ponto em que o destino escolhe pra você. Você não consegue decidir se vai ou não àquela festa, até que os ingressos se esgotam e você está aí, parado no mesmo lugar.
E você vai acabar ficando nesse mesmo lugar onde você foi à escola e ao colégio e à faculdade, porque você não consegue tomar as rédeas da sua vida e assumir as consequências das suas decisões.
Acontece que eu não vou ficar pra ver. Depois de tantos dias e meses e anos nós deveríamos estar andando pra frente, e não pra trás. Mas eu não vou ficar em volta de você esperando o destino decidir por nós. Na sua calma em se resolver, eu estou criando planos pra seguir minha vida sem você:
Você está me perdendo aos poucos.
E isso pra mim é tão claro que mal chega a doer.
De tanto que você quis seu espaço, eu fui aprendendo a gostar do meu. De tanto que você não quis se prender, eu fui desejando as novas possibilidades. De tanto que você evitou fazer planos pro futuro, o meu agora não conta mais com você: eu me vejo em outra cidade, com outros amigos e com outro amor. 
E eu simplesmente não consigo mais te ver lá (afinal de contas, não era mesmo onde você queria estar...).

terça-feira, setembro 13, 2016

Vai dar tudo certo

13/09/2016
Vai dar tudo certo. A gente se entende, se beija e se perdoa. A gente ri das brigas bobas, e faz piada das nossas diferenças, dizendo que os opostos se complementam. E conta pros amigos achando graça no caos. Vai dar tudo certo. A gente faz amor intenso de reconciliação, a gente compensa num beijo caloroso e num pedido de desculpas emocionado. Vai dar tudo certo. A gente briga falando baixo, a gente não se exalta e nem ofende o outro. Tá tudo sob controle. Vai dar tudo certo.
Até que não dá mais. Até que é impossível suportar quando aquele seu hábito péssimo de não se comprometer com nada começa a desabar sobre mim. Até que a minha necessidade de controle te faz sair do sério. Até que fica insustentável fingir ter a paciência de uma mãe com sua lentidão em se comprometer – com um evento, com uma viagem ou com uma vida a dois. Até que fica complicado lidar com seu hábito de fazer de tudo uma competição. Até que nem todo o cuidado do mundo que eu tenho de te dizer o que eu penso seja o suficiente, e tudo pareça uma dura crítica a você – nunca um ato de amor ou cuidado. Até que qualquer expressão de insatisfação e tristeza te desgaste e faça você ter preguiça de mim – eu te leio, sim. Até que continuar parece querer dizer comprar uma briga eterna, em que ou eu me calo, ou eu me torno o pior dos seres humanos simplesmente por dizer o que dói em mim. Até que o simples fato de eu querer você pra o resto da minha vida pareça um peso sobre você.
Até que nem todo o amor do mundo que eu tenho por você, nem todas as palavras doces, nem todo gesto de cuidado seja o suficiente pra você sequer desejar entender que tudo o que eu digo e faço e falo e peço é buscando o nosso bem - Não o meu. O NOSSO bem.
E aí, meu bem, vai dar tudo errado.

terça-feira, agosto 16, 2016

Existe um certo alívio na sua imperfeição. No jeito que, sorrindo despretensiosa, eu afirmo pras pessoas que você não é nada daquilo que eu procurei. É que dá um medo de por algum acaso a gente esbarrar com a perfeição e isso não bastar, sabe?
Imagina só se você fosse tudo aquilo o que eu escrevi um dia numa lista, só pra lembrar de pedir pra Deus todo o dia antes de dormir? E se tudo fosse perfeito e pleno e milimetricamente encaixado? Imagina só eu conhecer alguém e ser feliz 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem quebra de expectativa? Alguém pode dizer que isso é o que todos gostaríamos. Mas é que aí não há mais espaço para nada que venha depois. O tombo é imenso, o estrago não se pode medir. Imagina conhecer a perfeição, e saber que nada depois daquilo irá bastar?
Temer todos os dias coisas corriqueiras como morte e separação; temer todos os dias que aquele que se tornou razão de sua existência pode escolher amar outro alguém; temer coisas simples como o desgaste e a rotina?
Eu te amo. Sou capaz de te querer todos os dias da minha vida e nunca me cansar. Mas se você se for, depois de você há espaço para muitas coisas. Eu vou poder me lembrar dos seus defeitos e por um momento até aprender a te odiar. Eu vou poder falar mal de você pras minhas amigas, e acalmar minha mãe dizendo que assim foi melhor. Falar de como você era condescendente, ou de como você nunca seria um bom pai, ou de como era chato quando você começava a falar de Direito sem parar. Mas se você fosse tudo aquilo que eu sempre desejei que você fosse; e se então você partisse um dia, se cansasse de mim, ou fosse praquele país no qual você sempre quis viver; o que eu iria dizer pras pessoas? Em que eu iria me içar pra me reerguer? Sairia por aí procurando alguém exatamente igual a você? Torceria pra você mudar de ideia e voltar por mim? Quem sabe, viveria uma vida saudosista, dizendo que ‘meu marido é um ótimo pai’, mas ao pensar em amor, viver apegada nas lembranças de tudo o que a gente viveu?
Não quero conhecer a perfeição. É arriscado demais. Você, suas imperfeições, até mesmo suas falhas de caráter – que todo mundo tem um pouco -, a maneira como você às vezes é inadequado e até quando me faz sofrer um pouco, e me faz dormir com raiva, mas é capaz de me fazer esquecer tudo no dia seguinte: você é o que eu quero pra mim.

segunda-feira, maio 02, 2016

Em todo lugar

Pensei em devolver todos os presentes que você me deu quando você se foi. Cheguei a encher duas ou três caixas com fotos, roupas,  aquele cd que já está arranhado de tanto eu ouvir, e todos os presentes e mimos que você me deu em datas comerciais ou naqueles dias em que você simplesmente se lembrou de mim. Mas me dei conta de que, se eu quisesse chegar a algum lugar, teria que devolver também a almofada que você sempre usava pra ver tevê, e que já é toda o seu cheiro. Teria que devolver a poltrona em que você sempre sentava desengonçado pra tocar incrivelmente bem meu violão. Ah, o violão, esse teria que ir embora, já que você é muito melhor em tirar algo de bom dele.. eu teria que devolvê-lo com a lembrança da sua voz, e de todas as músicas que você costumava tocar. Eu precisaria devolver minha conta no netflix, que me lembra todos os dias daquela série que a gente via juntos no domingo à noite. Precisaria jogar fora todas as minhas lingeries, pois não tem nenhuma que eu não usei antes de fazer amor com você - mesmo aquelas beges ou desbotadas, que a intimidade acabou por revelar. Também teria que abrir mão das gavetas que guardavam as suas coisas que ficavam cada vez mais na minha casa do que na sua. Elas ainda estão vazias esperando pela sua camiseta de dormir.

Pensei em devolver os presentes, mas o que eu queria desesperadamente era ser capaz de devolver as lembranças.
Você está em todo lugar. Minha casa grita seu sussuro, sopra seu cheiro, derrama seu suor. Minha cama te sabe de cor, e minha banheira ficou grande demais de repente. Meus temperos não têm mais o mesmo sabor. O vinho que eu bebo só desce amargo, com gosto de quem bebe pra esquecer.
Nem se eu juntasse tudo e derramasse gasolina e colocasse fogo. Nem as chamas iriam varrer o amor que eu ainda sinto por você.
O que me resta é abraçar aquilo que te traz mais presente: a minha dor. Vou me enrolar na coberta que você se enrolou, deitar a cabeça no travesseiro em que você se confortou, comer aquela sobremesa que você amava e me ensinou a gostar, ver a nossa série e me lembrar de você, com toda a força que eu conseguir. Até que a nossa série seja minha, que o cheiro no travesseiro seja o meu, que aquela sobremesa seja só mais uma. Até que meu lar seja só meu.



quinta-feira, março 03, 2016

Você foi a coisa mais linda que tive. Tanto que ainda sinto a urgência de te doar até a minha última gota. Você a quer? Se sim, o que isso quer dizer? "Afinal de contas, quer meu riso ou meu pranto?"...

Você foi a coisa mais linda que tive. Queria ser a sua.

sexta-feira, fevereiro 19, 2016

"(...)Mas o que foi dito não se pode desfazer. A ideia que atravessa a mente é como um rio que passa arrastando tudo. Nada mais ocupa o mesmo lugar. As coisas estão bagunçadas e talvez isso não seja reversível. Esse é simplesmente o novo e irrevogável lugar das coisas.
E eu, de volta ao princípio. Retornei a dezenas de incertezas e a uma dolorida descrença em nós dois. Outra vez estou naquele lugar onde vejo, a qualquer momento, emergir o fim. A certeza da despedida se materializa. O vazio de não poder acreditar em nada. Pra que apostar? Gastar meu tempo e energia e lágrimas e toda a doçura que eu sei dedicar, pra um fim categórico? (...)"

segunda-feira, fevereiro 01, 2016

Sal e Sol


Sinto muito que você seja a primeira pessoa a descobrir que eu estou num dia ruim, aqueles em que qualquer tom mais áspero me faz desabar.. Me desculpe por ter que lidar com minha TPM, e por todas as surpresas que vêm com ela. Desculpa por ter que me ver com meu pijama surrado ou uma roupa gasta quando chega em casa pra me ver. Sinto muito por ter que aturar meu ciúme bobo que é só um charminho pedindo atenção. Por eu ser carente, por pedir abraço e colo e ouvidos e suas mãos nas minhas a maior parte do tempo. Desculpa por ter que lidar comigo reclamando do meu peso e depois devorando algum chocolate num intervalo de menos de uma hora. Me desculpe pelo fato de eu duvidar constantemente do seu amor, da sua intenção, por eu sofrer sem motivo. Me desculpa por eu me cansar depois de três horas de interação social e matar o clima da festa com o mau humor que costuma vir depois disso. Me desculpa por sempre pensar que dá pra melhorar, ajustar, adaptar, e não ter o dom de me acomodar. Isso cansa, eu sei. Perdoa meus olhos tão transparentes que não sabem disfarçar que não era aquilo que eu queria escutar, mesmo quando eu entendo perfeitamente que era o que eu precisava ouvir. Desculpa por eu chegar muito mais longe do que você quando o assunto é vislumbrar o que vem pela frente..e o meu pessimismo nessas horas.

Você tem meu lado ruim. Meus fantasmas, minhas bagagens, minha luta diária com o peso que é viver.
Mas entenda, nos meus dias de Sol eu quero estar com você. Toda refeição que eu preparo eu quero dividir com você. É pra você que eu visto minha melhor lingerie, e é com você que eu faço os meus melhores planos. Você é minha primeira vontade ao acordar, e a última ao dormir. Se eu como chocolate eu desejo dividir com você, e se eu malho e como salada é pensando em ficar bonita pra você. O meu melhor sorriso é seu. Os meus truques, meu rebolado, a posição nova que eu aprendi. Tudo é inteiramente seu. O meu melhor vestido eu ponho pra você ver. E o meu raro otimismo na hora de sonhar, eu guardo pra sonhar com você.
Você vê meus demônios, mas diariamente eu te dedico o melhor de mim.
Você vê o meu pior, mas o meu melhor, ah, ele te pertence.

quinta-feira, janeiro 21, 2016

Resoluções

Não. Você não é nada do que eu pedi.
Eu nunca dormi desejando um cara desbocado, cheio de marra, metido a esperto e com dificuldade de demonstrações públicas de afeto.
Eu pedi por muitas coisas. Coisas que eu achava que queria, que eu acreditei precisar. Mas aí você entrou na minha vida. E não foi nada de repente. Um lento processo de convencimento mútuo, de transformações profundas, de conversas, dores e de lágrimas – amadurecer dói tanto, não é? – foi necessário pra gente se ver de verdade.
Eu demorei a enxergar que você tinha tanto mais a oferecer, coisas que eu nunca saberia como pedir.
Eu nunca saberia rezar pedindo alguém que é tão aberto pra dizer o que sente - mesmo que nem você consiga entender às vezes -, ou pra contar como foi seu dia. Que se divide comigo, me conta suas aventuras, frustrações, sua rotina, sem eu precisar perguntar ou insistir.
Eu não saberia pedir por alguém que é tão honesto que às vezes chega a doer. Talvez você não entenda, mas eu te admiro por ser sincero mesmo quando a resposta que você tem pra me dar claramente não é a que eu quero ouvir. Você não tenta enganar, disfarçar. Você não esconde sua confusão, sua indecisão, seus medos.
Eu não saberia pedir por alguém que me leva pra sua casa todos os dias na hora do almoço pra eu dormir um pouquinho, só porque do contrário eu não conseguiria ficar acordada durante a tarde.
Quando é que eu iria rezar pedindo “Deus, manda um cara que salva todas as gifs fofas de gatinhos e cachorros e crianças só pra me mostrar”? Eu nem fazia ideia do quanto isso poderia me fazer feliz.
Muito menos saberia expressar que tudo o que eu precisava era alguém que mora a 7 minutos de mim, pra gente poder almoçar juntos todo dia, se encontrar nos horários mais doidos ou pra eu poder pedir socorro a qualquer hora quando tá tudo mal.
Eu não saberia desejar pais tão legais quanto os seus, que me recebessem como se eu fosse da família e cuja casa fosse um lar pra mim - especialmente quando é tão difícil eu voltar pra casa.
Nem saberia pedir por alguém que vai dormir sempre junto – e não em horários diferentes – e que antes de dormir me abraça.
Ou por alguém que começa a me beijar em público e fazer carinho só porque tomou umas cervejinhas.
Ou por alguém que come tudo o que eu cozinho com a melhor cara de felicidade.
Como é que eu iria saber como é importante pra mim o fato de você me ler tão bem, e não conseguir deixar pra lá se acreditar que eu tô mal? 
Você me faz bem diariamente, e me faz sentir paz.
Espero um dia ser o mesmo pra você: descanso pra sua alma.

Data de Validade

Eu nunca tive lá muita dúvida. Eu nunca quis as paixões, as experiências, o descompromisso, a tão ansiada liberdade. Eu sempre quis mesmo o amor. A rotina diária que conecta nos mais pequenos detalhes. Rir junto diariamente. Deitar abraçado antes de dormir. Cozinhar e comer juntos. Eu sempre quis alguém que quisesse algo assim. Que não tivesse medo de assumir pros amigos que quer uma mulher só, compromisso, filhos e um cachorro. Alguém que, tanto quanto eu, não veja graça em sair beijando bocas estranhas em festas. Alguém que entenda que isso é uma maneira bem besta de se buscar um amor. Alguém que não precisa experimentar pra saber de antemão que essa vida é vazia. E que por isso nem perde seu tempo com pessoas que se vestem pra impressionar e bebem pra se entreter, com jogos de sedução e sexo casual, já que entende o valor daquilo que é real. Daquilo que não some no dia seguinte quando a ressaca aparece. Daquilo que é raro de ser conquistado.
Eu desejei todas as noites alguém que não tenha medo das coisas crescerem, criarem raízes e proporção. Eu quis alguém que fizesse planos. E apostasse um pouquinho.
Alguém que fosse contra essa corrente idiota de querer todas as bocas numa noite só, de querer exibir conquistas, de querer transgredir as regras por recompensas vazias e passageiras. Alguém que escolhesse uma vida comigo sem ter medo de perder outras coisas...
Vez ou outra eu ouço alguém dizer que eu sou muito sensacional. Que eu sou inteligente, legal, engraçada, sábia, consciente, que desenho, que eu canto, que eu toco, que eu sou linda. Muita gente se apaixonou por mim, por meus inúmeros talentos.
Então por que é que ninguém quer ficar até o fim e pagar pra ver? Por que é que me amar cansa? Por que as pessoas querem partir de mim quando eu tento entrar na vida delas?
Parece que me amar vem com data de validade.

quinta-feira, outubro 22, 2015

O amor não tem hora certa

O amor não é uma visita com hora marcada. O amor não é a pizza que você pediu e que tem prazo pra chegar. O amor vem sem hora certa. É aquele convite de última hora, que você quer atender, mas que vai atrapalhar o seu planejamento da semana. É aquela chuva que você está pedindo há dias pra molhar a terra, mas que chegou bem naquela hora que você acreditava precisar do Sol. O amor é uma tempestade. Ele vem em golpes inesperados. E atordoa.
O amor não é uma casa que você compra quando o mercado imobiliário está favorável. Tampouco é um intercâmbio que você escolhe o melhor momento pra fazer. O amor acontece. Ele é aquela oportunidade que surge na sua frente sem você esperar. E é para aqueles que têm a ousadia de agarrá-la. Para aqueles que, ao se deparar com a possibilidade do amor, não têm escolha senão fechar  os olhos e mergulhar, numa aposta corajosa e cheia de fé de que isso vai levar a algum lugar.

quarta-feira, setembro 02, 2015

Rotina (trechos)


"[...] Não me entenda mal, meu bem. Eu não choro à noite porque eu não sei ser feliz se você não está perto. Eu tenho minhas obrigações, sei me divertir, tenho bons amigos. Mas é que quando você dispensa minha companhia assim, vez após vez, é um pouco difícil de acreditar que você não deixou de me amar um pouco. Que você não se cansou de mim, que a gente meio que perdeu a graça pra ti.
Eu fico meio perdida, porque por muito tempo eu acreditei ter clareza das coisas, mas agora sinto que eu fui enganada. Pior. Parece que eu me enganei. Não quis ver.
E de repente fica claro que, há muito tempo, quase sempre partia de mim. Era sempre eu na sua casa. Era a minha roupa na sua gaveta. Era o meu chaveiro com a sua chave. Nunca a recíproca. Sou sempre eu que digo "fica mais um pouco". E eu sequer me lembro qual foi a última vez em que você disse "por favor, fica". É que eu fui parando de perguntar... e fui entrando... e ficando... achando que você queria tanto quanto eu. Mas eu me enganei. A culpa é minha. Eu sei.
[...]
E a história se repete.
Eu com todo meu amor, de novo, perdendo pra essa maldita rotina que faz os outros se cansarem de mim. [...]"