Vai entender essa mania que a gente tem de fazer perguntas sem estar pronto pra lidar com a resposta, ou, mais bravamente ainda, de fazer perguntas cujas respostas a gente já sabe, mas acha que dá conta de ouvir. A resposta geralmente dói surpreendentemente mais.
Às vezes eu acho que deveria aprender a ser mais como essas pessoas que vivem uma mentira, porque nunca têm coragem de fazer perguntas, de se questionar. As coisas são o que são e não há nada por trás. É... não procura fundo, não, que senão vem merda. Acredite, é melhor assim. Porque as pessoas não sabem lidar.
Eu sou um peso, um fardo pra se carregar. Eu com essas minhas perguntinhas infelizes e uma profundidade que ninguém quis cavar. Eu com minhas inseguranças, dúvidas e com um eterno desejo de que as coisas sejam maiores do que realmente são, grandiosas, merecedoras da minha dedicação.
Eu com uma sede de que exista algo mais profundo do que a casca, com sede de que haja uma palavra suprimida, uma declaração de amor engolida, uma memória nossa eternizada silenciosamente, uma palavra que ficou gravada, uma música que faz lembrar, um jeito que faz arrepiar, e que um dia tudo isso será confessado. Em com um desejo de transparência que simplesmente não convém. Ninguém quer falar sobre isso. As pessoas não querem falar sobre coisas profundas, pra não revelarem que na verdade elas são só isso. Que elas não pensam na vida, no futuro, no que é perene e no que só está aí de passagem. Que suas tão ditas melhores noites são memórias borradas devido ao álcool e à conversa vazia. Elas não querem revelar que, quando algo incomoda, elas se escondem em seus computadores e em seus smartphones e num copo de cerveja, porque essa é a melhor maneira que elas têm de lidar. Que as suas escolhas, suas relações são apenas consequências, sequências de dias vividos a esmo, de sensações mal-sentidas.
Eu cavo. Eu cavo e incomoda. E dói. Ninguém quer nada disso. Então eu vou ter que mergulhar sozinha. É assim, como sempre foi.