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domingo, dezembro 30, 2018

Se


Se você soubesse, amor, que eu te quis da cabeça aos pés.
Se você tivesse os olhos abertos e os ouvidos destampados, se você conseguisse exorcizar os seus fantasmas, se livrar do seu passado, me abrir como um livro e apenas me ler, você encontraria alguém tentando te pertencer. Você me veria desnuda, despida dessa versão que me diz que eu tenho que ser minha, apenas tentando ser de você, esperando me dizer coisas insanas, me pondo de quatro ao seu bel prazer. E deixando você me convencer a ser mãe dos teus filhos. Você me veria tentando te encaixar no meu mundo, te trazendo pra minha cidade, pros meus amigos, pros meus pais e pro meu interior. Praquelas partes que você nunca quis visitar: eu quis te levar até lá. Até as profundezas de mim, até onde eu fui capaz de cavar. Pensei que talvez, se você me conhecesse de uma vez por todas, talvez deixasse de ter medo do que você era capaz de criar e começasse a lidar com os problemas reais. Se você soubesse que desde aquele dia em que, sentado, com um cigarro na boca, você soprou a fumaça e deixou junto escapar que eu era tudo o que você sonhou, se você imaginasse que desde então todos os dias eu sonhei em acordar pra sempre do seu lado. Se você entendesse que eu falei de você pra cada pessoa que eu cruzei nessa minha estrada meio sem rumo, que eu fiz planos pra mês que vem e pra nossa velhice, que eu me imaginei te contando que estávamos esperando nosso primeiro filho, e em como seria a nossa lua de mel depois de beber a noite inteira. Se você fosse capaz de entender que eu vislumbrei a gente contando pros nossos filhos como foi difícil mas a gente fez acontecer. Se você entendesse, se você concebesse, se você fosse capaz de ver o quanto eu te amei. O quanto eu quis você. Não porque era conveniente. Não por que "era pra ser". Não porque era fácil. Não porque era o que todos esperavam. Ou porque você fez por merecer. Eu te amei antes de ser capaz de entender. E te quis pra sempre. E me refiz em volta de você. Se você visse, não teria tantos medos, tantas vozes falando por você. Você não teria tanto medo quando eu partisse se entendesse que pra sempre eu iria querer voltar. Não se sentiria tão só quando eu estava ausente se você realmente enxergasse que meu pensamento era todo seu. A todo o tempo. Seu. E sua era eu. Você não brigaria por minutos, quando a gente tinha todo o tempo do mundo. Não haveria tantas inseguranças entre a gente, tantas improbabilidades nos impedindo de nos conectar. E se você tinha meu pensamento, meu tempo, meu corpo e meu amor, você não me pediria mais nada. E a gente finalmente iria se bastar.

Se você fosse capaz de entender, meu bem, o quanto eu te amei, sem nunca querer partir, você enlouqueceria por ter chegado ao ponto de me deixar ir.

segunda-feira, julho 16, 2018

Desde antes do nosso fim, muito antes de você deixar de ser meu primeiro pensamento do dia, eu já sabia: eu iria amar novamente. Eu sabia que eu ia de novo sorrir um sorriso besta parada olhando a tela de um celular. Que outra vez eu iria rir e falar alguma bobeira por ter medo de dizer o que eu realmente queria.
Eu sabia. Então eu tentei seguir em frente numa aposta cheia de fé, rumo a um futuro que fosse 'o melhor' pra todos nós. Mas o que eu não previ, a pegadinha em que o destino me meteu é que eu iria, sim, amar de novo. Mas a minha fé no amor nunca mais seria a mesma. Ela estaria enterrada embaixo de incertezas e sete pés atrás e questionamentos constantes se as coisas merecem o meu esforço, afinal, o mundo é um moinho e ele pode pegar todas as minhas apostas e a minha dedicação e todos os planos pra daqui a um mês ou vinte anos e fazer tudo virar pó. Tudo agora parece volátil demais e incerto demais e, eu não sei, talvez com todos os meus gestos eu quisesse te pedir socorro, como se quem sabe você fosse o único capaz de restaurar a minha capacidade de acreditar. Quem sabe, se você me quisesse mesmo, mas me quisesse de verdade, um sinal de fraquejo da minha firmeza em seguir em frente bastasse pra você entender que uma parte de mim sempre esperou você vir me resgatar. Talvez você viria correndo e gritaria na minha janela que você sempre me quis e tudo foi um erro tolo, um tropeço na nossa história, mas que juntos a gente podia consertar essa bagunça e fazer melhor daqui pra frente. E você me levaria pra almoçar com sua mãe como uma surpresa e ela iria sorrir como quem sempre soube. Talvez, se você me fizesse acreditar que meu lugar é com você, eu me renderia de novo a essa ideia tola de que quem faz o amor funcionar somos nós. E que se eu quisesse fazer dar certo era só uma questão de lutar por ele. E não essa desgraça de mundo em que você pode dar pro outro seu coração, seu fígado e suas tripas e ainda assim o destino pode se revirar e chacoalhar e, com o dedo na tua cara, te foder te dizendo: "não vai ser nada disso, não".