Todos os dias acordo pensando que nasci pra amar.
Toda vez que me pego amando eu sou inteira. Mesmo que inteiramente entregue, completamente disponível. Eu amo de forma completa, incomedida. Algumas pessoas chamam de descabida a minha forma de amar, e repetem isso tanto que já quase me convenceram disso por duas ou três vezes. Mas eu nunca soube ser pelas metades, e tamanha entrega me dá prazer. Mas às vezes não cabe, e eu acabo entornando. E isso assusta quem quer que esteja dividindo o colchão comigo.
Toda vez que me pego amando eu sou inteira. Mesmo que inteiramente entregue, completamente disponível. Eu amo de forma completa, incomedida. Algumas pessoas chamam de descabida a minha forma de amar, e repetem isso tanto que já quase me convenceram disso por duas ou três vezes. Mas eu nunca soube ser pelas metades, e tamanha entrega me dá prazer. Mas às vezes não cabe, e eu acabo entornando. E isso assusta quem quer que esteja dividindo o colchão comigo.
É sempre assim. Eu sou a primeira a dizer eu te amo, a primeira a convidar pra uma festinha de família, a primeira a dar sinal de ciúmes, a primeira a perdoar, a primeira a enxergar um futuro, a primeira a enxergar o que temos em comum e o que em nós está em desacordo. Eu sou sempre a primeira a enxergar uma relação, um compromisso, uma intimidade, bla bla bla. E todo esse papo chato cansa cada cara que aparece na minha vida tentando ser amado por mim, e eu começo a apostar comigo mesma quanto tempo cada um deles vai durar. Às vezes eu penso que algum babaca covarde espalhou seu DNA pelo mundo. Mas às vezes eu converso muito com pessoas normais e acabo achando que eu to vivendo errado, fora do roteiro de uma vida saudável para os pulmões, para o estômago, para a mente, para a alma. Mas rapidinho eu me canso desse tédio todo e só consigo pensar 'pouco, pouco, pouco', e volto a procurar avidamente por um all star estiloso no meio da multidão, ou por um olhar de ressaca, ou por um telefone quieto deixado de lado num canto de mesa, ou por um pár de óculos em frente a um romance policial, ou por um café com creme duplo em cima, tentando achar uma história que bata com a minha, tentando achar a pessoa certa pra receber tanto amor.
Aí eu não encontro de novo e torno a cair nesse dilema existencial e me pergunto se eu não deveria me fingir de polida, comedida, milimetricamente controlada, racional e compreensiva, apenas pra dar a um cara qualquer o tempo que ele precisa pra me amar tanto quanto eu o amei desde o primeiro momento em que o vi. Então eu começo a rir e penso que eu nunca me contentaria.
Eu sei que só vai ser pra sempre quando ele me amar primeiro e com olhos intensos e mãos afoitas e palavras gaguejadas. E ele irá fazer tudo errado e irá derramar café em mim e irá me fazer perguntas inadequadas e irá ter pressa de tudo comigo. E irá me amar no sofá e no tapete da sala e irá cuspir um eu te amo no nosso primeiro café da manha juntos. E então eu vou saber.
Mas eu erro toda vez. Eu já caí muita vez nesse ciclo, e de contar nos dedos só faço me sentir velha. Eu penso 'tá demorando'. Aí eu me deito debaixo do edredom mais macio, me enrolo como uma criança mimada e só não faço birra porque moro sozinha e não tenho ninguém pra me adular. Aí eu aperto os olhos e oro de uma forma infantil, que é como sou capaz de me lembrar. E depois não sobra nada. Nem a bebedeira de gente grande tira de mim esse vazio que me faz querer chorar como uma criança.
Todos os dias eu durmo pensando que eu não nasci pra ser amada.