Dois segundos de distração e me empurraram uma taça de champagne e em seguida começaram a tilintar suas taças contra as minhas. Então começaram a me abraçar e a derramar um emaranhado de palavras confusas, que recaíram sobre mim como uma grande responsabilidade, porque só conseguia ouvir palavras avulsas como sucesso, conquistas, sonhos realizados e saúde e eu não sei se dá tempo de fazer tudo em 2012. Me assustei porque nos meus planos alguns dos meus projetos levariam a vida inteira, e aí essas pessoas vieram querendo que eu dê conta de tudo em 365 dias e eu enlouqueci. E eu sempre deixei um certo espaço para as surpresas da vida, mas tudo o que eu ouvia era pessoas requerendo de mim firmeza e determinação, então eu me senti sufocada. Mas brindei e bebi e então esperei o fim da contagem, aquele momento em que tudo iria mudar e... e nada. Eu me sentia da mesma forma, com a mesma confusão, com os mesmos objetivos, com a mesma calma em viver e com as mesmas pessoas estranhas em volta. Meus amigos ainda pareciam os mesmos, minha mãe com o mesmo semblante de sempre, e aquele mesmo bando de gente estranha que pareciam iguais às pessoas que estavam na festa da semana passada, e iguais às que estavam na balada de semana retrasada. Aquele monte de gente com roupas iguais, com o mesmo jeans de marca, com o mesmo cabelinho alisado e luzes californianas, com os mesmos sonhos. Aquele consumismo moderno e aquela cultura que torna tudo descartável. Aquela mesma urgência, aquela mesma pressa de queimar etapas de suas vidinhas medíocres, pra ver quem conquista mais rápido o sonho do outro. E eu me senti tão deslocada, tão desinteressada em comemorar a virada de um dia qualquer, que se resume à troca do calendário que estava na minha parede. Como assim ano novo se meus sonhos são os mesmos? Se eu continuo querendo abraçar o mundo e ele continua não cabendo nas minhas mãos? Como assim conquistar meus objetivos se eu nem conquistei ainda meu jeito de sonhar? Se eu planejo hoje e amanhã me reinvento? A minha vida mudou tantas vezes no último ano que eu poderia ter trocado de calendário várias vezes, brindado várias vezes, me vestido de branco, vermelho, amarelo ou verde, porque minha vida recomeçou em pequenas surpresas, e se reinventou em pequenos encontros. A minha pressa não é de sonhar, não é de conquistar, não é de obter. A minha pressa é uma só, e é de viver. O que eu quero hoje eu vou atrás pra ver aonde me leva. Ou senão eu digo pra esperar e vou viver o meu tempo debaixo do cobertor ou na frente de uma tevê que não exige de mim muito o que pensar. Não tenho mais pressa de conceitos, de definições ou de certezas, já que todos esses podem ser reescritos e tudo dependerá de mim. E boa sorte aos pobres mortais que só se permitem mudar uma vez por ano, porque o relógio pra eles estará correndo. Enquanto isso eu estou aqui, e posso largar tudo, jogar pro alto e mudar a minha vida quando eu bem entender. E se precisar eu jogo fora o calendário pra não ter que olhar pra ele nunca mais. Porque eu quero sonhar quantas vezes eu for capaz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário