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segunda-feira, agosto 05, 2013

Casa

Cada canto que eu arrumava eu pensava ser só mais um canto frio que nunca chegaria a te conhecer. Cada lugar, cada prateleira daquelas nunca iria sentir o seu cheiro, ou ouvir as suas graças, o seu vocabulário inadequado ou tudo o que você diz querendo chocar. Aquelas paredes não conheceriam sua voz. Os novos lençóis nunca experimentariam o seu calor. Nunca mais a gente deitados, entrelaçados, conectados. Aquele chão, aquelas paredes, aquele chuveiro: eles nunca conheceriam a gente fazendo amor. Pra sempre, agora, um pouco de pressa, na espera pelo momento em que tudo isso vai passar. Em que tudo isso vai deixar de ser.
A casa que eu deixei tem o seu cheiro e a sua cara e as suas memórias. Eu entrei quase ao mesmo tempo naquela casa e nessa nossa história.
E agora eu simultaneamente deixo ambos para trás. E nem um nem outro foi tanto assim por escolha.
É só que a gente precisa saber a hora boa de partir. A gente precisa entender quando aquele lugar deixa de nos pertencer. Aquela casa me abrigou, mas nunca foi minha. Foi abrigo, mas nunca foi lar. E assim foi você. Você me cercou. Você me tocou. Me prendeu e me teve. Mas nunca foi meu lar.
Eu confesso, eu nunca fui capaz de te olhar e me sentir em paz. E nossos finais repetidos e insistentes nunca me pegaram de surpresa. É que eu bem sei o caminho das coisas. A gente pode serpentear, pegar a estrada mais longa e parar no acostamento enquanto o tempo passa. Mas há algo logo ali na frente que nos espera. Um final frio, feio e impiedoso. É que seu coração, menino, ele não sabe perdoar. E isso ainda vai te custar muita leveza.

quinta-feira, agosto 01, 2013

O medo da armadilha*


Suas mãos atadas, o sorriso no rosto e o cheiro do seu abraço. te confesso, menino, que seu beijo tem gosto de torta de amora e que eu não quero sair dali, mesmo querendo. e que se você me liga, eu atendo não querendo querer. porque eu te conheço e sei bem do que é capaz. fará de tudo por mim se me amar, mas se um deslize no seu sentimento houver, você logo me cospe, me trai e me amordaça. eu sei, menino, que você é movido por paixão e por prazer. e que isso tudo que você faz e que é parte de quem você é, é uma armadilha pra me envolver. é tudo bom demais pra eu viver em paz, porque se eu sinto prazer na tua companhia é porque você me inquieta e bagunça meus hormônios e neurônios e me deixa assim, feliz, sorrindo com suas mensagens bobas e seu ciúme disfarçado de piada. eu sei que vai acabar. eu sei que eu nunca vou ficar com os dois pés alinhados, vai ter sempre um mais atrás. eu sei que isso é uma armadilha, porque tudo isso é bom demais pra ser real por tanto tempo. e enquanto isso durar eu vou me manter atenta, pra você jamais achar que eu sou boba, meu amor, porque eu não sou. eu vivo a gente e eu vivo o medo, mas eu tô vivendo, e você que tá armando isso tudo?


*Texto de Karolina Figueiredo