Páginas

segunda-feira, agosto 05, 2013

Casa

Cada canto que eu arrumava eu pensava ser só mais um canto frio que nunca chegaria a te conhecer. Cada lugar, cada prateleira daquelas nunca iria sentir o seu cheiro, ou ouvir as suas graças, o seu vocabulário inadequado ou tudo o que você diz querendo chocar. Aquelas paredes não conheceriam sua voz. Os novos lençóis nunca experimentariam o seu calor. Nunca mais a gente deitados, entrelaçados, conectados. Aquele chão, aquelas paredes, aquele chuveiro: eles nunca conheceriam a gente fazendo amor. Pra sempre, agora, um pouco de pressa, na espera pelo momento em que tudo isso vai passar. Em que tudo isso vai deixar de ser.
A casa que eu deixei tem o seu cheiro e a sua cara e as suas memórias. Eu entrei quase ao mesmo tempo naquela casa e nessa nossa história.
E agora eu simultaneamente deixo ambos para trás. E nem um nem outro foi tanto assim por escolha.
É só que a gente precisa saber a hora boa de partir. A gente precisa entender quando aquele lugar deixa de nos pertencer. Aquela casa me abrigou, mas nunca foi minha. Foi abrigo, mas nunca foi lar. E assim foi você. Você me cercou. Você me tocou. Me prendeu e me teve. Mas nunca foi meu lar.
Eu confesso, eu nunca fui capaz de te olhar e me sentir em paz. E nossos finais repetidos e insistentes nunca me pegaram de surpresa. É que eu bem sei o caminho das coisas. A gente pode serpentear, pegar a estrada mais longa e parar no acostamento enquanto o tempo passa. Mas há algo logo ali na frente que nos espera. Um final frio, feio e impiedoso. É que seu coração, menino, ele não sabe perdoar. E isso ainda vai te custar muita leveza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário