Mas é claro que eu me lembro. De todas as coisas que eu poderia ter agora, essa foi a única que me restou, a minha incompleta, indecisa memória. Com certeza houve outras coisas que em vão eu tentei guardar. Talvez eu não tenha tentado o suficiente, talvez eu nunca tenha mesmo acreditado que eu seria capaz. Eu me lembro de dizer, vez ou outra, que aquela felicidade toda era tão verdadeira que poderia me manter em paz pra sempre. Ah, eu devo ter jurado também que não deixaria jamais as lembranças se esvaírem. Talvez eu não tenha segurado com força. Talvez elas nunca tenham mesmo estado nas minhas mãos. Você pode imaginar minha surpresa ao me dar conta de que tudo o que vivi e pensei ser inesquecível não fazia sentido algum sem ser alimentado? E agora eu tenho medo de descobrir que eu não dependo assim de ti, ou você de mim. Eu confesso, às vezes eu sorri meio sem razão. Ou mesmo meio sem querer, só pra fazer alguém rir comigo. Pode soar estúpido a alguns ouvidos céticos. Mas sabe o que soa ainda mais estúpido? Que agora eu tente encontrar justificativas pra merecer me sentir feliz, sem me dar ao direito de rir sem motivo. Muito tempo se passou, ou talvez tempo nenhum, já que é como se eu estivesse esperando o momento em que minha vida irá começar. E eu ainda não parei de sonhar que você estará por perto quando esse dia supostamente chegar. Talvez eu acredite mesmo nisso. Talvez eu nunca tenha sido, enfim, capaz de acreditar.
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