Você me pediu pra te amar não pelo que você faz ou
pelo que você tem ou mesmo pelo que você acredita. Você me pediu pra te amar
pelo que você é. E eu me pergunto: qual a diferença? Eu não te amo pelo que
você faz ou tem ou acredita. Eu te amo por tudo isso junto, pois tudo isso é o
que você é. E se você mudasse ou fosse diferente você não seria você da forma
como eu te conheço e isso poderia mudar tudo. Eu não posso te jurar que eu vou
te amar pra sempre independentemente do que você faça ou tenha ou acredite,
pois tudo isso diz um pouco sobre você. E porque eu estou dizendo toda essa
baboseira que parece não fazer sentido nenhum? Porque você me pediu por um
motivo pelo qual eu te amo, e eu te amo por muito mais do que aquilo que você
acredita ou tem ou faz, eu te amo pelas razões que te levam a acreditar ou ter
ou fazer ou ser cada uma dessas coisas que você é, e incrivelmente da forma
como você o é.
Eu não te amo simplesmente porque você é bom. Sua
bondade vai além de um instinto natural ou de ações impensadas ou de gestos
automáticos ou de uma ingenuidade incauta. Você é bom porque escolheu ser.
Mesmo conhecendo toda a maldade que pode haver por aí, mesmo conhecendo gente
com a alma tão pútrida e rochosa, você decidiu ser bom e faz isso com esforço,
cautela e determinação.
Eu não te amo porque você nasceu
com alguma inteligência sobrenatural ou algo do tipo. Ao contrário disso, você
se esforça e busca o conhecimento e maravilhosamente se apraz nele, e se
interessa por cada novo assunto que lhe é apresentado. Porque você é culto,
informado e se esforça constantemente para ser cada vez mais eficiente.
Eu não te amo apenas porque você
é sincero. Mais do que isso eu admiro o seu esforço contínuo pra ser honesto
consigo mesmo e pra reproduzir com fidelidade aquilo que você pensa e sente,
independentemente de como você julga seus pensamentos e sentimentos e,
principalmente, independentemente de como você acha que eu ou qualquer outra
pessoa vá julgar. Eu te amo porque você transpõe, ainda que com dificuldade, as
barreiras necessárias para ser franco dessa forma tão cuidadosa e não imposta.
Eu te amo porque eu vejo o quanto é doloroso pra você falar comigo e se abrir
pra mim, e porque eu sei que você se empenha, tudo isso tentando construir um
laço cada vez mais forte e se esmerando em fazer com que participemos cada vez
mais um do outro.
Eu te amo porque você não é nada
apenas por ser, ou não tem nada apenas por ter, ou não faz nada simplesmente
por fazer. Eu te admiro infinitamente porque você não permite que suas
convicções e seus ideais se cristalizem e se tornem mero hábito ou conceitos ou
rótulos de si mesmo, e porque você não os defende com olhos cegos e ouvidos
tapados, mas reavalia diariamente as razões pelas quais você vive. E, porque eu
sei que você reavalia, é bom acordar todo dia e perceber que você continua
tendo certeza de nós dois.
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