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domingo, setembro 09, 2012

Queda

É uma queda vertiginosa, de uma altura muito elevada, desastrosa e constrangedora. Eu tento esconder os vestígios, mas às vezes fica difícil. Eu tento, nem sei por quê. Talvez pra poupar todos que estão por perto, talvez porque a distração é a melhor cura para o pesar. Tem dias que eu me levanto e vejo que preciso sacudir uma poeira da qual pensei ter me livrado. Tem noites em que eu me deito e penso que talvez o tempo - diferente do que diria Nicolas Boileau* - não passa assim tão rápido. Eu tenho vontade de escrever algo, mas eu não sei exatamente o quê, sobre qual assunto e muito menos pra quem ou com qual objetivo. Eu tenho vontade de falar algo, mas as palavras se embaralham no meu estômago, fazem alguma bagunça, sobem pelo esôfago e ficam encravadas na garganta. Eu tenho vontade de chorar, mas eu não sei se há bem um motivo, e é pretensão demais achar que eu posso sofrer assim, sem ter razão. Eu me esqueço dos motivos, eu ponho de lado as memórias, eu ignoro os sinais, e o que resiste, depois de tudo, é uma dor petulante e um vazio insistente.
Foi uma queda muito alta, mas as feridas já começam a parecer cicatrizes.

*"Depressa: o tempo foge e arrasta-nos consigo: o momento em que falo já está longe de mim."   

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