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segunda-feira, dezembro 03, 2012

Quatro mil pés

Estou a um passo do abismo, e já deveria ser suficientemente assustador o fato de que eu posso cair a qualquer momento. Qualquer. Se eu respirar errado, se eu tropeçar, se eu me desequilibrar, se eu cair no sono, se eu me distrair, se alguém me empurrar, se passar um vento forte; a qualquer momento eu posso cair.
Mas o mais aterrorizador de tudo isso é que este abismo me é estranhamente convidativo. Esse mar de desconhecido me magnetiza de uma forma que eu mal consigo compreender. Quando me dou conta, já estou com um pé para dentro desse despenhadeiro, jogando com o pouco fôlego de vida que me restou depois de tudo.
Acordo e durmo cercada por este precipício: ele agora ocupa toda a minha visão, e eu já perdi de vista o caminho de volta. As minhas chances estão fora do meu alcance.
Mas será que é o bastante essa consciência?
Será que é o suficiente eu estar vestida com uma armadura, com uma arma empunhada, estar vigil e esperando o ataque? Será que basta reconhecer a queda para que ela não se torne dolorosa? Será que basta perceber o abismo para não cair?
Estou a quatro mil pés da superfície, mas eu quero cair.

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