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terça-feira, março 12, 2013

Sobre amor e definições

Toda vez que deparo com frases do tipo 'fulano não sabe o que é amar', 'o nome disso não é amor' ou coisas do tipo, volto a deparar com a certeza de que a definição de amor é superestimada. As pessoas - eu, inclusive - que saem por aí apontando que isso ou aquilo é ou deixa de ser amor não percebem que elas estão julgando o sentimento do outro de acordo com a sua verdade, que é intransferível.
A interpretação mais próxima do que eu posso chamar de verdadeira e reveladora que eu já tive sobre isso é que amor, esse termo genérico e sem definição, é a palavra mais acessível que as pessoas encontram pra nomear os afetos mais acolhedores, as paixões mais arrebatadoras, as relações mais transformadoras, os sentimentos mais complexos que já viveram. Um nome, infinitas definições, como já dizia Lucas Silveira e seus Ianomamis e suas canoas.
Uma das consequências disso é que o conceito de amor se reinventa e se ressignifica.
É por isso que agora soa tão bobo pra você que algum dia você tenha se apaixonado por aquela garotinha só porque os seus olhos eram azuis e a sua fala era mansa, e que tenha sentido o peito doer porque a viu segurando a mão de outro garoto enquanto atravessava o pátio da escola.
É por isso que agora soa ridículo que você tenha enchido um caderno de composições sobre aquele cara mais velho do ensino médio que gostava de heavy metal, e que tenha enfrentado sua mãe, pintado seu cabelo de roxo, mudado seu guardarroupas e seu estilo musical, só para agradá-lo.
É por isso que agora você não entende porque é que você, já adulto, sofreu tanto ao fim do seu último relacionamento, e já mal se lembra do que foi que te prendeu ali por tanto tempo.
É que amor muda de conceito, muda de cara, muda de requisitos.
É por isso que você jamais namoraria uma pessoa que não sabe o que quer da vida, mas amanhã você esbarra em um cara qualquer que quer viver um dia de cada vez sem se prender a nada, abraçando cada experiência que a vida oferece e aceitando riscos diariamente, e de repente acha tudo isso um charme; acha que ele é a pessoa que veio pra equilibrar você, a sua mania de planejamento e o seu comportamento tão metódico.
É por isso que você não planejaria passar a vida ao lado de alguém com planos muito diferentes do seu, mas de repente você conhece alguém que te faz ter coragem de largar tudo e ir pra outro país pra enfrentar a perna bamba e o desconhecido, porque amor como esse só se encontra uma vez na vida.
E amor é isso, é que nos movimenta, o que nos mobiliza. Sem obrigação de ser eterno, sem pretensão de ser justificável. O amor que cada um sente fala um pouco de si, diz um pouco sobre quem somos e sobre como nos relacionamos.
É essa eterna procura, essa infindável ausência de respostas, é turbilhão e é silêncio: é o que não nos deixa parar.

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