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terça-feira, dezembro 06, 2016

Silêncio

Outubro, 2016

Me desculpa se às vezes eu me calo, desvio o olhar do seu e não te conto o que se passa na minha cabeça. Mas é que eu não consigo mais ter de novo e de novo aquela velha conversa onde eu te pergunto 'o que é que você quer de nós?', onde você me lança um olhar meio perdido e meio indisposto. Indisposto - como quem já está cansado do mesmo papo - e perdido - como quem não sabe de onde vem e nem pra onde vai.
A sua calma em se decidir sempre te leva a um ponto em que o destino escolhe pra você. Você não consegue decidir se vai ou não àquela festa, até que os ingressos se esgotam e você está aí, parado no mesmo lugar.
E você vai acabar ficando nesse mesmo lugar onde você foi à escola e ao colégio e à faculdade, porque você não consegue tomar as rédeas da sua vida e assumir as consequências das suas decisões.
Acontece que eu não vou ficar pra ver. Depois de tantos dias e meses e anos nós deveríamos estar andando pra frente, e não pra trás. Mas eu não vou ficar em volta de você esperando o destino decidir por nós. Na sua calma em se resolver, eu estou criando planos pra seguir minha vida sem você:
Você está me perdendo aos poucos.
E isso pra mim é tão claro que mal chega a doer.
De tanto que você quis seu espaço, eu fui aprendendo a gostar do meu. De tanto que você não quis se prender, eu fui desejando as novas possibilidades. De tanto que você evitou fazer planos pro futuro, o meu agora não conta mais com você: eu me vejo em outra cidade, com outros amigos e com outro amor. 
E eu simplesmente não consigo mais te ver lá (afinal de contas, não era mesmo onde você queria estar...).

terça-feira, setembro 13, 2016

Vai dar tudo certo

13/09/2016
Vai dar tudo certo. A gente se entende, se beija e se perdoa. A gente ri das brigas bobas, e faz piada das nossas diferenças, dizendo que os opostos se complementam. E conta pros amigos achando graça no caos. Vai dar tudo certo. A gente faz amor intenso de reconciliação, a gente compensa num beijo caloroso e num pedido de desculpas emocionado. Vai dar tudo certo. A gente briga falando baixo, a gente não se exalta e nem ofende o outro. Tá tudo sob controle. Vai dar tudo certo.
Até que não dá mais. Até que é impossível suportar quando aquele seu hábito péssimo de não se comprometer com nada começa a desabar sobre mim. Até que a minha necessidade de controle te faz sair do sério. Até que fica insustentável fingir ter a paciência de uma mãe com sua lentidão em se comprometer – com um evento, com uma viagem ou com uma vida a dois. Até que fica complicado lidar com seu hábito de fazer de tudo uma competição. Até que nem todo o cuidado do mundo que eu tenho de te dizer o que eu penso seja o suficiente, e tudo pareça uma dura crítica a você – nunca um ato de amor ou cuidado. Até que qualquer expressão de insatisfação e tristeza te desgaste e faça você ter preguiça de mim – eu te leio, sim. Até que continuar parece querer dizer comprar uma briga eterna, em que ou eu me calo, ou eu me torno o pior dos seres humanos simplesmente por dizer o que dói em mim. Até que o simples fato de eu querer você pra o resto da minha vida pareça um peso sobre você.
Até que nem todo o amor do mundo que eu tenho por você, nem todas as palavras doces, nem todo gesto de cuidado seja o suficiente pra você sequer desejar entender que tudo o que eu digo e faço e falo e peço é buscando o nosso bem - Não o meu. O NOSSO bem.
E aí, meu bem, vai dar tudo errado.

terça-feira, agosto 16, 2016

Existe um certo alívio na sua imperfeição. No jeito que, sorrindo despretensiosa, eu afirmo pras pessoas que você não é nada daquilo que eu procurei. É que dá um medo de por algum acaso a gente esbarrar com a perfeição e isso não bastar, sabe?
Imagina só se você fosse tudo aquilo o que eu escrevi um dia numa lista, só pra lembrar de pedir pra Deus todo o dia antes de dormir? E se tudo fosse perfeito e pleno e milimetricamente encaixado? Imagina só eu conhecer alguém e ser feliz 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem quebra de expectativa? Alguém pode dizer que isso é o que todos gostaríamos. Mas é que aí não há mais espaço para nada que venha depois. O tombo é imenso, o estrago não se pode medir. Imagina conhecer a perfeição, e saber que nada depois daquilo irá bastar?
Temer todos os dias coisas corriqueiras como morte e separação; temer todos os dias que aquele que se tornou razão de sua existência pode escolher amar outro alguém; temer coisas simples como o desgaste e a rotina?
Eu te amo. Sou capaz de te querer todos os dias da minha vida e nunca me cansar. Mas se você se for, depois de você há espaço para muitas coisas. Eu vou poder me lembrar dos seus defeitos e por um momento até aprender a te odiar. Eu vou poder falar mal de você pras minhas amigas, e acalmar minha mãe dizendo que assim foi melhor. Falar de como você era condescendente, ou de como você nunca seria um bom pai, ou de como era chato quando você começava a falar de Direito sem parar. Mas se você fosse tudo aquilo que eu sempre desejei que você fosse; e se então você partisse um dia, se cansasse de mim, ou fosse praquele país no qual você sempre quis viver; o que eu iria dizer pras pessoas? Em que eu iria me içar pra me reerguer? Sairia por aí procurando alguém exatamente igual a você? Torceria pra você mudar de ideia e voltar por mim? Quem sabe, viveria uma vida saudosista, dizendo que ‘meu marido é um ótimo pai’, mas ao pensar em amor, viver apegada nas lembranças de tudo o que a gente viveu?
Não quero conhecer a perfeição. É arriscado demais. Você, suas imperfeições, até mesmo suas falhas de caráter – que todo mundo tem um pouco -, a maneira como você às vezes é inadequado e até quando me faz sofrer um pouco, e me faz dormir com raiva, mas é capaz de me fazer esquecer tudo no dia seguinte: você é o que eu quero pra mim.

segunda-feira, maio 02, 2016

Em todo lugar

Pensei em devolver todos os presentes que você me deu quando você se foi. Cheguei a encher duas ou três caixas com fotos, roupas,  aquele cd que já está arranhado de tanto eu ouvir, e todos os presentes e mimos que você me deu em datas comerciais ou naqueles dias em que você simplesmente se lembrou de mim. Mas me dei conta de que, se eu quisesse chegar a algum lugar, teria que devolver também a almofada que você sempre usava pra ver tevê, e que já é toda o seu cheiro. Teria que devolver a poltrona em que você sempre sentava desengonçado pra tocar incrivelmente bem meu violão. Ah, o violão, esse teria que ir embora, já que você é muito melhor em tirar algo de bom dele.. eu teria que devolvê-lo com a lembrança da sua voz, e de todas as músicas que você costumava tocar. Eu precisaria devolver minha conta no netflix, que me lembra todos os dias daquela série que a gente via juntos no domingo à noite. Precisaria jogar fora todas as minhas lingeries, pois não tem nenhuma que eu não usei antes de fazer amor com você - mesmo aquelas beges ou desbotadas, que a intimidade acabou por revelar. Também teria que abrir mão das gavetas que guardavam as suas coisas que ficavam cada vez mais na minha casa do que na sua. Elas ainda estão vazias esperando pela sua camiseta de dormir.

Pensei em devolver os presentes, mas o que eu queria desesperadamente era ser capaz de devolver as lembranças.
Você está em todo lugar. Minha casa grita seu sussuro, sopra seu cheiro, derrama seu suor. Minha cama te sabe de cor, e minha banheira ficou grande demais de repente. Meus temperos não têm mais o mesmo sabor. O vinho que eu bebo só desce amargo, com gosto de quem bebe pra esquecer.
Nem se eu juntasse tudo e derramasse gasolina e colocasse fogo. Nem as chamas iriam varrer o amor que eu ainda sinto por você.
O que me resta é abraçar aquilo que te traz mais presente: a minha dor. Vou me enrolar na coberta que você se enrolou, deitar a cabeça no travesseiro em que você se confortou, comer aquela sobremesa que você amava e me ensinou a gostar, ver a nossa série e me lembrar de você, com toda a força que eu conseguir. Até que a nossa série seja minha, que o cheiro no travesseiro seja o meu, que aquela sobremesa seja só mais uma. Até que meu lar seja só meu.



quinta-feira, março 03, 2016

Você foi a coisa mais linda que tive. Tanto que ainda sinto a urgência de te doar até a minha última gota. Você a quer? Se sim, o que isso quer dizer? "Afinal de contas, quer meu riso ou meu pranto?"...

Você foi a coisa mais linda que tive. Queria ser a sua.

sexta-feira, fevereiro 19, 2016

"(...)Mas o que foi dito não se pode desfazer. A ideia que atravessa a mente é como um rio que passa arrastando tudo. Nada mais ocupa o mesmo lugar. As coisas estão bagunçadas e talvez isso não seja reversível. Esse é simplesmente o novo e irrevogável lugar das coisas.
E eu, de volta ao princípio. Retornei a dezenas de incertezas e a uma dolorida descrença em nós dois. Outra vez estou naquele lugar onde vejo, a qualquer momento, emergir o fim. A certeza da despedida se materializa. O vazio de não poder acreditar em nada. Pra que apostar? Gastar meu tempo e energia e lágrimas e toda a doçura que eu sei dedicar, pra um fim categórico? (...)"

segunda-feira, fevereiro 01, 2016

Sal e Sol


Sinto muito que você seja a primeira pessoa a descobrir que eu estou num dia ruim, aqueles em que qualquer tom mais áspero me faz desabar.. Me desculpe por ter que lidar com minha TPM, e por todas as surpresas que vêm com ela. Desculpa por ter que me ver com meu pijama surrado ou uma roupa gasta quando chega em casa pra me ver. Sinto muito por ter que aturar meu ciúme bobo que é só um charminho pedindo atenção. Por eu ser carente, por pedir abraço e colo e ouvidos e suas mãos nas minhas a maior parte do tempo. Desculpa por ter que lidar comigo reclamando do meu peso e depois devorando algum chocolate num intervalo de menos de uma hora. Me desculpe pelo fato de eu duvidar constantemente do seu amor, da sua intenção, por eu sofrer sem motivo. Me desculpa por eu me cansar depois de três horas de interação social e matar o clima da festa com o mau humor que costuma vir depois disso. Me desculpa por sempre pensar que dá pra melhorar, ajustar, adaptar, e não ter o dom de me acomodar. Isso cansa, eu sei. Perdoa meus olhos tão transparentes que não sabem disfarçar que não era aquilo que eu queria escutar, mesmo quando eu entendo perfeitamente que era o que eu precisava ouvir. Desculpa por eu chegar muito mais longe do que você quando o assunto é vislumbrar o que vem pela frente..e o meu pessimismo nessas horas.

Você tem meu lado ruim. Meus fantasmas, minhas bagagens, minha luta diária com o peso que é viver.
Mas entenda, nos meus dias de Sol eu quero estar com você. Toda refeição que eu preparo eu quero dividir com você. É pra você que eu visto minha melhor lingerie, e é com você que eu faço os meus melhores planos. Você é minha primeira vontade ao acordar, e a última ao dormir. Se eu como chocolate eu desejo dividir com você, e se eu malho e como salada é pensando em ficar bonita pra você. O meu melhor sorriso é seu. Os meus truques, meu rebolado, a posição nova que eu aprendi. Tudo é inteiramente seu. O meu melhor vestido eu ponho pra você ver. E o meu raro otimismo na hora de sonhar, eu guardo pra sonhar com você.
Você vê meus demônios, mas diariamente eu te dedico o melhor de mim.
Você vê o meu pior, mas o meu melhor, ah, ele te pertence.

quinta-feira, janeiro 21, 2016

Resoluções

Não. Você não é nada do que eu pedi.
Eu nunca dormi desejando um cara desbocado, cheio de marra, metido a esperto e com dificuldade de demonstrações públicas de afeto.
Eu pedi por muitas coisas. Coisas que eu achava que queria, que eu acreditei precisar. Mas aí você entrou na minha vida. E não foi nada de repente. Um lento processo de convencimento mútuo, de transformações profundas, de conversas, dores e de lágrimas – amadurecer dói tanto, não é? – foi necessário pra gente se ver de verdade.
Eu demorei a enxergar que você tinha tanto mais a oferecer, coisas que eu nunca saberia como pedir.
Eu nunca saberia rezar pedindo alguém que é tão aberto pra dizer o que sente - mesmo que nem você consiga entender às vezes -, ou pra contar como foi seu dia. Que se divide comigo, me conta suas aventuras, frustrações, sua rotina, sem eu precisar perguntar ou insistir.
Eu não saberia pedir por alguém que é tão honesto que às vezes chega a doer. Talvez você não entenda, mas eu te admiro por ser sincero mesmo quando a resposta que você tem pra me dar claramente não é a que eu quero ouvir. Você não tenta enganar, disfarçar. Você não esconde sua confusão, sua indecisão, seus medos.
Eu não saberia pedir por alguém que me leva pra sua casa todos os dias na hora do almoço pra eu dormir um pouquinho, só porque do contrário eu não conseguiria ficar acordada durante a tarde.
Quando é que eu iria rezar pedindo “Deus, manda um cara que salva todas as gifs fofas de gatinhos e cachorros e crianças só pra me mostrar”? Eu nem fazia ideia do quanto isso poderia me fazer feliz.
Muito menos saberia expressar que tudo o que eu precisava era alguém que mora a 7 minutos de mim, pra gente poder almoçar juntos todo dia, se encontrar nos horários mais doidos ou pra eu poder pedir socorro a qualquer hora quando tá tudo mal.
Eu não saberia desejar pais tão legais quanto os seus, que me recebessem como se eu fosse da família e cuja casa fosse um lar pra mim - especialmente quando é tão difícil eu voltar pra casa.
Nem saberia pedir por alguém que vai dormir sempre junto – e não em horários diferentes – e que antes de dormir me abraça.
Ou por alguém que começa a me beijar em público e fazer carinho só porque tomou umas cervejinhas.
Ou por alguém que come tudo o que eu cozinho com a melhor cara de felicidade.
Como é que eu iria saber como é importante pra mim o fato de você me ler tão bem, e não conseguir deixar pra lá se acreditar que eu tô mal? 
Você me faz bem diariamente, e me faz sentir paz.
Espero um dia ser o mesmo pra você: descanso pra sua alma.

Data de Validade

Eu nunca tive lá muita dúvida. Eu nunca quis as paixões, as experiências, o descompromisso, a tão ansiada liberdade. Eu sempre quis mesmo o amor. A rotina diária que conecta nos mais pequenos detalhes. Rir junto diariamente. Deitar abraçado antes de dormir. Cozinhar e comer juntos. Eu sempre quis alguém que quisesse algo assim. Que não tivesse medo de assumir pros amigos que quer uma mulher só, compromisso, filhos e um cachorro. Alguém que, tanto quanto eu, não veja graça em sair beijando bocas estranhas em festas. Alguém que entenda que isso é uma maneira bem besta de se buscar um amor. Alguém que não precisa experimentar pra saber de antemão que essa vida é vazia. E que por isso nem perde seu tempo com pessoas que se vestem pra impressionar e bebem pra se entreter, com jogos de sedução e sexo casual, já que entende o valor daquilo que é real. Daquilo que não some no dia seguinte quando a ressaca aparece. Daquilo que é raro de ser conquistado.
Eu desejei todas as noites alguém que não tenha medo das coisas crescerem, criarem raízes e proporção. Eu quis alguém que fizesse planos. E apostasse um pouquinho.
Alguém que fosse contra essa corrente idiota de querer todas as bocas numa noite só, de querer exibir conquistas, de querer transgredir as regras por recompensas vazias e passageiras. Alguém que escolhesse uma vida comigo sem ter medo de perder outras coisas...
Vez ou outra eu ouço alguém dizer que eu sou muito sensacional. Que eu sou inteligente, legal, engraçada, sábia, consciente, que desenho, que eu canto, que eu toco, que eu sou linda. Muita gente se apaixonou por mim, por meus inúmeros talentos.
Então por que é que ninguém quer ficar até o fim e pagar pra ver? Por que é que me amar cansa? Por que as pessoas querem partir de mim quando eu tento entrar na vida delas?
Parece que me amar vem com data de validade.