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terça-feira, fevereiro 01, 2011

Lágrimas de amor

Tudo estava confuso ainda. Aconteceu muito rápido. Só agora eu percebi que estou no ônibus indo pra casa da minha irmã. Pela janela vejo minha cidade indo embora, e com ela lembranças. Lembranças de dias melhores onde eu passeava com a minha família no parquinho em frente minha casa. Éramos felizes até o Marcelo começar a beber. Desde então ele chegava em casa bêbado, me batia e me violentava. Às vezes na frente do meu filho. Não podia fazer nada, porque ele era mais forte e era o seu dinheiro que nos alimentava. Fiz faculdade de administração e trabalhava como auxiliar administrativa numa empresa de marketing. Depois da gravidez, Marcelo preferiu que eu ficasse em casa cuidando de nosso filho. E aqui estou, até hoje. Sempre fui uma boa esposa e nunca fiz nada para merecer isso.

Agora eu saí de casa, e estou levando meu filho comigo. Depois da bebedeira dele hoje, ele chegou em casa e quebrou a mesa. Começei a chorar de medo e fui para o quarto do meu filho protegê-lo. Ou para ele me proteger. Marcelo gritava e chingava muito. Ele ficava me puxando para me bater e eu dava socos nele, mas não adiantava. Eu estava agarrada ao meu filho, Kauã, que chorava também. Com apenas 7 anos ele presenciava a mãe apanhar do pai.

Não, eu pensei. Meu filho não mereçe essa vida. Ele não mereçe passar por esse sofrimento só porque sou uma mulher covarde. Aquelas lágrimas serão as últimas. Enquanto ele me puxava, peguei o taco de beisebol do Kauã e acertei a cabeça do meu marido. Como ele já estava tonto, ele caiu perto da porta. Levantei rapidamente e coloquei algumas roupas do meu filho numa mochila. Peguei minha bolsa e saí com meu filho dali.

“Muito obrigado por me acolher na sua casa, Sara” falei ao telefone, dentro do ônibus “não quero que meu filho veja mais isso.” Ele já estava calmo, deitado no meu colo. “Devo chegar aí por volta das sete horas.”

No ônibus havia uma turma de escola. Eles falavam e brincavam uns com os outros. Algumas pessoas estavam incomodadas com aquela agitação. E eu via a felicidade estampada na cara daqueles adolescentes. Aqueles sorrisos sinceros, e aquela vida sem preocupação. Queria aquilo de novo. Olhei para o meu filho e percebi que aquela seria a felicidade dele. “Tudo isso vai passar” falei em seus ouvidos enquanto dormia “acabou.” Vi o sol aparecendo no horizonte e o céu ficava cada vez mais alaranjado. Deixei as lágrimas para trás. O futuro de meu filho estava apenas começando.

Juran Ruan

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