... E toda essa suposta razão que cerceia do homem a bravura? E toda essa falsa civilização que estranha minha loucura?
sábado, julho 16, 2011
Medo de Cair
Naquela noite em que você saiu porta afora e se despediu com um beijo açodado, peremptória roubei-te um abraço desses de furtar o fôlego. Queria ter gravado melhor o teu sorriso nos meus lábios. Desses que você dava acanhado quando eu te beijava calidamente. Assim que você saiu na direção do aeroporto, me bateu um aperto no peito. Nunca pedi muito da vida. Queria dela tantas coisas, mas sempre me contive em exigir uma ou duas pra ser feliz. Como primeiro da lista, nunca me faltou o vigor para buscar as coisas terrenas. De lambujem ganhei o teu amor. E como viera completo, trazendo outras coisas além do que pedi! Trazendo-me um sentido quando me deitava à noite. Alguém que merecesse o meu afeto, alguém que me fizesse querer bem. Com quem, com muito prazer, diga-se de passagem, dividi meus melhores sonhos e junto de quem transformei meus objetivos para que fossem os mesmos para ambos. Com quem aprendi o significado de 'nosso' e pra quem existi mais do que pra mim. E você partiu naquele momento. Soube, de uma vez só, que estava muito bom pra ser verdade. Talvez por eu não exigir tanto da vida, ela não quisesse me ver satisfeita assim. 'Se queres pouco, menos ainda te darei, só pra fazer-te infeliz como todos os outros cancros que te cercam!'. Tive pavor da queda. De que qualquer coisa mudasse. Que você se perdesse no nosso caminho e não achasse atalho de volta. Tive medo de caminhar sozinha e de que você achasse alguém melhor do que eu. O silêncio fez de mim notívaga. Não dormi. Naquela noite tive medo do sopro, do tombo, e sabia que viria, só não sabia de onde, arrancando-me o chão e me fazendo desabar insistentemente. Não há paz que perdure. Não há felicidade que subsista. 'Agora não', pedi às paredes brancas à minha volta. Era por demasiado cética pra pedir pra além delas. 'Não tô pronta ainda'. Sabia que a vida tramava contra mim, porque eu era frágil e covarde sem ti. E era assim que ela ia me igualar a todos os outros infelizes, desarmando-me de ti. Passaram se três horas e, já muito mal, eu respirava de uma forma insana sem entender de onde viera tanta desconfiança. A madrugada me suprimia sob sua melancolia. De tanto sofrer, cansei-me, e quase consegui dormir quando fui despertada pelo telefone. Era uma voz ignota contando-me que seu avião caíra.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário