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quinta-feira, julho 14, 2011

Romance de uma Casa Noturna

Observava-te enquanto você se desvencilhava educadamente de conversas sem objetivo e dos toques de mãos femininas não-familiares. Introspectivo, atento ao copo de cerveja e absorto em seu próprio conceito de relevância, você parecia um deus intocável enquanto todas as garotas da mesa olhavam fixamente para você. Inclusive eu. Mas me abstive em te olhar e fingi indiferença, esperando que talvez você se interessasse em puxar assunto com a garota-que-não-estava-nem-aí. Ledo engano. Como se sacasse o meu tipinho previsível _como detesto me sentir assim!_, respondeu com a mesma displicência. Comecei a beber então e, junto com a vodka, um conflito interno começou a tomar conta de mim. Tentava me aproximar do único cara que me provocou um lapso de confiança, despertando meu interesse e balançando meu ego? Ou permanecia anônima para ti? Decidi, então, ficar onde estava para que, ao menos, não fosse humildemente comparada com aquelas belezas estonteantes que te cercavam. Não queria nunca, aos seus olhos, ser apenas uma dessas que só prestavam atenção em você pelos seus olhos penetrantes e pela sua beleza incomum. Muito antes preferia que não tivesses consciência de minha existência.

Muitos copos de vodka depois as pessoas começaram a dançar, disputando, na pista, a atenção alheia. Entre corpos fabulosos se movendo e cabelos esvoaçando, você permaneceu negligente, estático e sentado em seu lugar usual, jogando conversa fora com seus botões, como se não desse bola para aquele circo. Meu Deus, como eu te queria. Um a um todos saíram da mesa e restamos eu e você. ‘Droga’, pensei. Estava sóbria o suficiente para ter total consciência de tua presença e bêbada demais para arriscar falar contigo. Decidi permanecer calada. Um bom tempo se passou antes que você dissesse algo, e você começou dizendo: ‘Eu odeio este lugar!’. Droga. Já me senti uma idiota, pois discordava completamente. Mais idiotamente ainda arrisquei ser franca e disse que gostava dali, dando meus motivos que, agora, nem pareciam fazer sentido. Por incrível que pareça você me ouviu com atenção e levou em conta meus argumentos. Como se fosse mesmo uma coisa importante, não é? Mas dali surgiu uma infinidade de assuntos totalmente despretensiosos. Ficamos a noite toda conversando e nem eu nem você demonstramos interesse algum em algo além da conversa que estava tão boa e tão leve. Irrelevante sem ser fútil. Você ouviu atentamente minhas opiniões pessoais, minha visão política e meu gosto musical. E eu tentei me lembrar de qual a última vez em que tive uma conversa tão singela em uma casa noturna. Não consegui. Tentei me lembrar então de algum outro cara que tivesse se interessado em me ouvir sem se importar com o que poderia ter de mim. Nada. E era exatamente isso: você não esperava de mim mais do que as palavras que eu poderia te dar.  Você sequer queria mais do que as palavras. Você as ouvia como se fossem importantes e significassem algo para você. Como se elas mudassem a forma como você me via e fossem desenhando para ti uma forma diferente da que meu corpo transparecia. Me apaixonei, pois, por ti. Tão profundamente que corria o risco de sofrer para sempre se não me amasse de volta.

Me apaixonei pela forma como você não se importava com corpos esculturais ou com rostos bonitos. Amei a importância que deu às minhas palavras e ao que tinha para dizer. Me rendi à tua forma de ressaltar o quanto eu era interessante e ao modo como buscava me desvendar. E agradeci eternamente por encontrar alguém no mundo que quisesse fazê-lo. Desejava mais do que fingir ser alguém interessante para você. Queria SER esse alguém. Você ouviu o que eu tinha a dizer. E eu me apaixonei perdidamente por você.

Podia até não ter de volta o teu amor, mas estava tudo bem, afinal, você era mesmo o único a merecer o meu.

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