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quinta-feira, junho 23, 2011

Longínquo

[...] Preocupou-se com a dor alheia. Tentou curar em cada um as feridas de um sofrimento que fora causado por outrem. Culparam-na, e ela temeu que não acreditassem na sua verdade. Caminhou sobre sua dor, e preocupou-se com a do anjo que costumava lhe guardar. Pediu desculpas a ele mesmo sem pecar. Rogou por indulto sem merecer. Temeu importunar seu anjo e se afastou para que ele pudesse criar asas novamente e, enquanto isso, colheu flores para ele. Esperou então que a verdade viesse até ela. Sabia que chegaria um dia e, quando quase se esquecera de procurar por ela, ela chegou. Tardia e em tempo. Ao mesmo tempo. Tardia para consertar a dor. Em tempo pra ainda fazer sofrer. Chorou, novamente, lágrimas que não sabia que guardava. Buscou então seu anjo. Procurou-o, mas não o achou: só a casca fria. Seu anjo era agora de outros. Não a guardava mais. Sentiu-se só e chorou novamente. E então gritou. Gritou com todos. Gritou com seu anjo e o fez chorar, e isso doeu em seu peito. O tempo passou e ela cresceu, não pelo tempo, mas pela experiência e aprendeu a cuidar de si um pouco mais. E então se deu conta de que se esquecera de algo esse tempo todo: De exigir e de cuidar de si! Afinal, porque teve que pedir desculpas? Porque teve que se calar diante de tanta injúria? Porque, quando mais precisou, ninguém a guardou? Porque ninguém lutou por ela passando por cima das palavras enganosas e malvadas que lhe diziam? Porque ninguém creu nela, que era, ainda, tão frágil? Que estava ferida e _diferente de todos os outros_ não culpou ninguém? Que sofreu sem poder buscar apoio? E que foi forçada a ser retrair por culpa de mentiras alheias, de rumores sórdidos? Enquanto ela tentou buscar respostas e cuidar do anjo, quem cuidou dela? Não conseguia pensar em ninguém. [...]

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