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quinta-feira, agosto 11, 2011

Controle

Já fazia um bom tempo que niguém me fazia emergir de meu tédio usual, e quando eu saí de casa não esperava que algo fosse mudar. Há muito que perdi a esperança nas pessoas, então, sair com meus amigos era só uma desculpa socialmente aceitável pra eu poder beber e conseguir me distrair do meu cotidiano pacato e plácido. Mas a verdade é que eu gosto assim. É vazio, mas é seguro. Eu já sofri uma vez e não quero de novo. Então eu me vesti de minha melhor roupa e, junto, de uma personagem que gosta de impressionar. Saí de salto alto como quaisquer dessas garotas, só pra me ajustar e parecer normal. Eu até que fingia bem, mas no fundo tudo a minha volta parecia pequeno e irrelevante.

Entrei no bar. Comi. Bebi. Sorri. Dancei. Fiz tudo o que manda o figurino. E no final da noite eu me deparei com os seus olhos alheios e atentos a um violão coberto de adesivos, dando ar de quem tem muita história pra contar. 'Sério? Poderia eu ter sido mais clichê?', perguntei-me várias vezes seguidas, 'O carinha da banda?'. Bebi mais pra tentar perder a capacidade de prestar atenção em qualquer coisa, mas isso só me deixou mais vulnerável.

Não me pergunte como tudo aconteceu, mas a gente se beijou e você me levou pra sua casa. Eu me lembro vagamente de alguns pôsteres de bandas de rock de todo o tipo nas paredes. Caramba, você fazia exatamente o tipinho 'músico'. E o seu beijo me fazia tremer. E eu nem sabia que isso poderia acontecer de verdade.

Isso era meu corpo me avisando que eu estava perdendo o controle.

Nos vimos três fins de semana seguidos naquele mesmo bar, e depois na sua casa, e eles bastaram pra eu perceber que você era melhor do que eu esperava _um pouco imprevisível, surpreendente, até. Arriscado demais_, e no quarto fim de semana, no bar, você dedicou a primeira música a mim, dizendo que era 'pra alguém especial com quem você gostaria de dividir muitos fins de semana mais'. Tive certeza naquele momento: eu estava me apaixonando. Mas quem sou eu pra falar de amor? É melhor assim: eu estava me rendendo. Fomos pra sua casa, você me surpreendeu como sempre e deleitou-me, e as últimas palavras que disse antes de dormir foi: 'fica aqui amanhã pra passar o dia?'. Eu sorri e disse: 'Claro, querido'.

Esperei pacientemente você pegar no sono e depois esperei você dormir mais profundo. Juntei minhas coisas, me vesti, peguei teu celular, apaguei da tua agenda o meu número e, junto, todas as mensagens ou ligações que pudessem contê-lo. Fiz um lembrete mental de nunca mais retornar àquele bar. Depois gravei teu rosto na minha memória, pra poder lembrar enquanto fosse capaz, pra ter um ou outro motivo pra sorrir sozinha. E depois parti, sabendo que você não me acharia mais, e que você nunca mais iria me desestabilizar ou me subjugar com um simples toque. Aquilo pra mim era submeter-me demais.

E isso era eu recuperando o controle.

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