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sexta-feira, agosto 05, 2011

Estranhos

Regressar depois de algum tempo fez-me sentir de novo uma _quase_ completa estranha. Deparei-me com dezenas de rostos e fiquei surpresa ao dar-me conta de que uma dúzia deles me passou pela cabeça enquanto estava distante, e que de três ou quatro senti saudades sinceras. Não me julgue fria por isso, pois sei que a maioria dos rostos aos quais fui indiferente reservam, internamente, para mim a mesma displicência. E mais uma vez eu me pergunto porque as pessoas demonstram tanto interesse e buscam um afeto tão efêmero de quase-desconhecidos. Isso porque já me flagrei repensando meu dia e percebendo como a maior parte das lembranças, das palavras ditas já eram borrões vagos. Eu não me lembrava do cheiro dos abraços ou das razões dos sorrisos. Não da maioria deles. Só alguns detalhes a minha mente rotulava como importantes e arquivava na minha memória a longo prazo, para que algum dia pudessem me causar uma sensação boa de nostalgia. E eu me sinto envergonhada por sorrir tanto, por ser tão educada, quando na maioria das vezes eu pouco me importo. Como a maioria das pessoas, eu finjo me importar _ só que conscientemente.

Tenho aprendido a me sentir mais à vontade com a solidão e tenho tido o silêncio como boa companhia. Quando ouço as vozes que falam à minha volta, na maioria das vezes desejo não ouvir. Às vezes queria ter um botão de mute. E cada vez mais guardo meu ponto de vista para não desagradar. Porque quanto mais prezo a franqueza, menos disposta me torno a substituí-la por eufemismos.

A verdade diante disso tudo é que por alguns momentos senti falta do início em que todos _salvo algumas poucas pessoas que realmente conheci e que gostaria de ter conhecido muito antes_ me eram estranhos, mas pelo menos eu não tinha que sorrir para eles e estabelecer diálogos estritamente fáticos. Era mais fácil quando éramos estranhos e eu podia agir como tal. Era mais fácil quando eu não precisava sorrir sem querer.

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