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quarta-feira, agosto 10, 2011

Queria (Carta pra ninguém ler)

É raro eu usar esse espaço para falar de mim, e talvez os sentimentos que me arrebatem nessa etapa de minha vida possam soar repetitivos demais para tanta ânsia de escrever. Mas esse texto _provavelmente como os demais, de qualquer forma_ não contará com forma e, pra maioria das pessoas, sequer com conteúdo. É só um lembrete pra mim mesma de como eu cheguei perto da felicidade.

Eu amo fotografias, e nem preciso dizer que é pela capacidade que elas têm de gravar momentos bons. E foi olhando um amontoado delas que me lembrei de tudo o que eu vivi e, Deus, como eu queria poder reviver aquilo. A essa altura até mesmo o sofrimento, a pena, as noites sem dormir e as lágrimas me soam totalmente valiosas. Eu sei a importância e a dimensão que dei a tudo o que vivi. Mas parece que eu perdi o jeito. Hoje em dia, sob meu olhar, (quase) tudo parece pequeno demais. Talvez eu quisesse mesmo era pegar no tranco de novo e conseguir sonhar, pensar que todo mundo é bom e achar que todos os momentos comicamente idiotas são importantes. Mas por um momento eu queria me sentar com os meus amigos num horário de almoço em volta da mesa do professor e conversar sobre todos os assuntos possíveis, desde as coisas mais substanciais até polêmicas absurdamente triviais. Queria de novo me sentar em volta daquela mesa e ver alguém colocando seu sentimento ou segredo em mesa redonda pra que todos nós soubéssemos e ajudássemos. Era bonito a forma como a gente confiava. E era sincero. Queria ver também a forma como a gente perdia a vergonha quanto estava junto. Como falávamos sem tabus ou hipocrisia. E todo e qualquer assunto se tornava leve. Queria por um momento ser infantil de novo sem me envergonhar e correr pelo corredor da escola com o Cacá, o Titim, o Matheus e o Welton gritando 'Pisa no veeerde, Bia'. Queria dar aquele abraço múltiplo nas meninas e fazer voz de criança dizendo o quanto elas eram lindas. Queria me sentar ao lado do Jojô e junto com a Bia ficar provocando-o até que ele largasse de ser tão polido. Queria ver de novo o Kuem parar a mim ou a alguma outra garota no meio do corredor pra dar suas cantadas ridiculamente engraçadas, ou ver o Luís me parar pra ler um poema pra mim. Queria de novo assistir à aula de alemão com o Ramón de um lado e o Deyvisson do outro fazendo palhaçada. Queria, até mesmo, ter a chance de, de novo, brigar com o Primo com os olhos cheios de lágrimas dizendo que ele não deveria ter feito aquilo por que, por uma tolice, ele estava indo embora agora. Queria ver de novo o Marquinhos e o Rérisson fazendo o protesto da bunda amassada no meio do refeitório, ou o Lucas e o Chuchu me explicando como equilibrar o universo. Queria ver de novo a Nanda trazendo nas costas o violão e eu sabia que o dia ia ser ótimo. Queria tanto brincar de mímica no meio do pátio, ou de Improviso com a Thamiris e o Willy. Queria tanto viver de novo cada Quinta Cultural, fosse ela na quinta, na terça ou na sexta. Cantar aquelas músicas de novo. Queria tanto entrar naquela topic mais uma vez e ouvir as músicas que, sem querer eu já sabia de cor, e todo mundo junto dançar, cantar, gritar, contar piada, fazer bagunça, brincar de troca _menos com o João porque ele era terrível e deixava a gente constrangidos, hahaha_, fazer festa da topic e pensar que nós éramos a melhor turma-de-topic, like, ever! Queria tanto ter compartilhado aquelas dores de novo e sentir que ajudei. Ou quem sabe até mesmo ver o Batata apostando uma Coca que nunca mais falaria comigo. Queria estar na cozinha e olhar pra fora e vê-lo me chamando só pra me abraçar e me pedir desculpas. Queria tanto dançar tango de novo com ele. Queria os churrascos da topic, ou as resenhas pra ver os jogos da Copa. Quem diria, queria até mesmo recuperar e poder dançar com um velho amigo. Ah!, queria que esse velho amigo não tivesse destruído uma de minhas maiores amizades. Essa é a única parte que eu queria que fosse mentira. Queria as viagens de novo. META, Semana C&T, e as melhores, SBQs: Viçosa, BH, Juiz-de-Fora, e por aí vai. A sensação de liberdade e o dia inteiro com vocês. Queria as festas, as confusões, e até mesmo poder brigar de novo com quem bebesse além da conta. Queria de novo ouvir as conversas do Lucas e do Marcel, e só ouvir, pois não aguentava opinar de tanto que ria. Queria jogar UNO de novo com o Paulista só porque ele me cutucava quando ia jogar o 3-bate-a-mão. Queria almoçar Cachorro-Quente com o Maurinho e baconzitos com a Bia. Queria ir na padoca à noite pra comprar picolé de banana. Queria sentir de novo o cheirinho do CEFET à noite. Queria passar de novo horas no laboratório pesando reagentes enquanto o Otávio ria de mim. Queria ver de novo o Gui e o Renan cantando 'Pensa em Mim' e sentar na beira da casa da Bia e ser obrigada a ouvir pagode romântico. Queria incomodar o Fernando enquanto ele dava aula pro segundo ano, e ter longas conversas com ele e chamá-lo de pai enquanto via ele brigar comigo por qualquer pessoa do sexo oposto que chegasse perto de mim. Queria de novo espremer a Patty até que ela me contasse um de seus segredos. Queria bater papo com o Fábio e ouvir sua opinião sobre tudo, além de ter de novo aulas particulares de astronomia ou de relatividade. Ou até mesmo fazer rodinha no meio do refeitório com as meninas e o Sioufi pra falar mal de... bem, não posso dizer. Queria dormir do colo da Fafá. Queria cantar no coral da escola só pra ir nos ensaios e ficar rindo do pessoal e depois chegar em casa à noite e ficar, junto com a Bia, imitando todo mundo da escola e rindo. Queria sair no intervalo, no horário de almoço e até mesmo matar aula pra ficar do lado de fora da escola jogando truco. E depois, poker. Queria entrar naquela sala e me sentir em casa, sentir que gostava de todo mundo e que éramos (quase) um só. Ver que conquistamos afinidade e unidade. Queria dormir no meio da aula e acordar aturdida tendo certeza que, por aquela aula, eu iria me ferrar na prova. Queria tanto escrever cartinhas criativas e comprar chocolate pro amigo-Anjo. Queria fugir em plena terça, ou quinta à tarde pra casa do Filipe pra ver filme e comer porcaria. Queria ter feito mais piqueniques. Queria sair de novo pra Praça, feliz e debaixo do Sol quente pra tomar sorvete. Queria ver todo mundo dar a louca e fugir pra casa da Babu sem saber como, quando e com que dinheiro iríamos voltar pra casa. Queria tantas coisas de volta. Meu mundinho ali fechado, tão bom assim. Por último, mas não menos importante, queria ver os olhos verdes e confortantes da Babu e saber que ela tinha algum conselho certo pra me dar. Queria ver o sorriso de inconsequente da Bia quando eu propunha alguma coisa bem idiota pra gente fazer e a gente morria de rir juntas. Queria sentar ao lado do Juran e fazer palhaçada, só nós dois, enquanto todo mundo ficava incomodado com a nossa falta de preocupação e nossa falta de pressa em relação ao mundo. Queria ouvir o silêncio da Patty, como quem não está nem aí, e depois olhar pro rosto dela e ver que ela estava atenta a todos nós, com um sorriso bem disposto no rostinho e na ponta da língua um 'vamo jogar truco?'. Queria ver o João, diariamente, passar por um processo de quebra-gelo e rir da cara dele quando a gente provocava ele e quando a gente falava coisas que ele ficava assustado. Queria abraçar a Aninha de novo e sentir que ela me amava. Queria passar horas a fio junto com a Nandinha e disputar o violão com ela, dormir na casa dela e conversar até cansar. Queria brigar e abraçar a Fafá e ver de novo o tempo que levou pra ela entender que eu a amava. Queria cantar pro Tim as músicas que ele não gostava e ficar dançando pra ele junto com a Bia. Queria rir de novo da Grazi porque ela me fazia rir muito, e disputar a atenção dela com seus amores. Queria tudo assim, embaralhado e fora de ordem, como queira. Queria de novo tanto amor, no meio do corredor da escola, na escadinha, no refeitório, na varandinha, no chiqueirinho ou na porta da Tia Rose, queria tudo de novo, só porque dessa vez eu ia conseguir gravar tudinho na minha cabecinha e iria lembrar pra sempre, só pra não ter que chorar de novo de saudade.


"... Amigos de verdade olham fotos velhas e os olhos brilham de saudade enquanto o coração dói. E, por vezes, você nem sabe disso . "

2 comentários:

  1. Quantas boas lembranças! Em especial a do META, uma das viagens mais simples e mais gostosas que eu já fiz e que me trouxe um presente abençoado e eterno! É muito bom relembrar esses momentos. Mais importante ainda é se valer deles pra contruir nosso cotidiano, com toda experiência e benesses decorrentes! B=)

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  2. De fato, por mais doloroso que seja ver que tudo virou passado, é bom saber o que carregamos de tudo isso pro futuro. E você tá carregando uma bagagem e tanto, hein, Silas "Afortunado"! :)

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