À noite chamei pelo seu nome, como fazia sempre, enquanto sonhava contigo. Você me acordou, perguntou se estava tudo bem, me abraçou e conversou comigo. De todos os sentimentos que esperava sentir naquele momento, fui invadida pelo mais improvável: saudade. E intensa. Uma saudade forte de você, e de nós dois. Não sei se foi culpa da madrugada ou se era o barulho da tua voz que me impedia de enxergar o que estava havendo, mas desisti de raciocinar e peguei no sono. Na manhã seguinte eu acordei e me esqueci do que havia acontecido. Mais dois dias se passaram sem que nos falássemos direito e estava tudo bem. E então você me chamou pra almoçar e eu saí do escritório com o mesmo humor de quando ia almoçar sozinha. Mas foi só me sentar ao seu lado e olhar fixamente para seu rosto esperançoso que me dei conta: sentia saudade de você. Não quando estava longe, mas quando estava perto. Quando estava longe eu nem me lembrava, e isso era preocupante. E quando estava perto, a saudade no meu peito não era a causa de uma necessidade devoradora e insaciável, que não era atenuada com sua simples presença, como já havia sentido um dia. Era saudade do passado ao qual você me remetia. De quando éramos bons juntos, e de quando você me causava mais arrebatamento do que tédio. Meu olhar estava desfocado e você me chamou a atenção para o presente e me olhou bem no fundo dos olhos. Por essa eu não esperava: você ainda conseguia ler meus pensamentos. Enrusbeci, e me senti como uma criança pega comendo a sobremesa antes do almoço. Olhei em volta, comentei sobre como o bistrô era original e interessante, mas não era uma tentativa de disfarçar _afinal, você já havia lido nos meus olhos_, e sim uma tentativa de adiar a verdade inevitável: era o fim. E pior ainda: já havia passado da hora. De agora em diante não havia opção de saída em grande estilo. Não haveria lágrimas desesperadas, nem ligações no meio da noite, nem flores no escritório com pedidos de desculpas. Sem drama algum. Só uma separação fria enquanto meu coração procurasse por algo novo por que valesse a pena bater.
Lembrei-me então do meu sonho da outra noite. Nele, havia perdido você. Chamava pelo seu nome, mas antes dele não havia mais pronome possessivo.
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