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sábado, agosto 06, 2011

Overfeeling

É essa sensação que tenho de dar dimensão extra a minhas sensações, querendo que tudo seja grandioso e que possa servir para outrem. Porque todo bom drama deve ser trágico, todo bom romântico deve morrer de amor, porque todo grande amor só é bem grande se for triste, porque todo bom poeta vive de sentir. E se não sinto, que mais faço? E da pacatez do meu dia-a-dia ressalto as poucas lágrimas que choro e os raros sorrisos carregados de significado. Faço de tudo um bom teatro, mesclo com uma pitada de ironia de mim mesma e isso basta pra minha caneta obediente sobre o papel.

E cá estou eu mais uma vez alimentando essa dor, sentindo-a exageradamente, "overfeeling it", porque de todos os sentimentos o que mais temo é o torpor, a ausência de sentir. Manipulei tudo à minha volta para que pudesse estar, agora, sozinha e completamente sem apoio. Não há uma voz sequer para me confortar num raio de uns três quilômetros. Não há ninguém para quem eu possa ligar a essa hora da madrugada. E é assim que eu gosto de sentir a minha mágoa. Sozinha, sem dividi-la com ninguém. E eu vou destrinchando-a até que se torne insuportável, até que ela entorne em forma de palavras, até que eu aprenda algo com ela, até que eu seja obrigada a virar numa das curvas desse caminho em busca de um retorno mais suave, sem sequer me dar o direito de pedir ajuda. Sofro sozinha esperando que isso me faça crescer. E se eu crescer um dia, do que isto me serviria? De poesia, quem sabe.

Um bom poeta gosta de sofrer, e talvez sinta que é melhor sofrer do que não sentir nada. O sofrimento não é qualquer: é grandioso, é épico. E essa sensação de overfeeling, que me motiva a escrever, faz-me valorizar a minha dor, porque esta me serve de inspiração.

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