Estar só é uma aventura. É se sentir desafiado e acordar várias vezes e pensar em todos os motivos que tornam boa a sensação de estar assim. É deitar várias vezes pensando em todos os inconvenientes. É dormir alguns dias angustiado pensando se é mesmo a melhor decisão. E em outros extasiado pelas sensações vividas em tal condição. É ter medo e faltar coragem pra mudar a própria condição. É, às vezes, não querer abandonar a própria solidão pra enfrentar o novo. É duvidar. É se perguntar. E, depois, se tranquilizar porque faz todo o sentido, pois foi sempre melhor assim. É uma liberdade condicional. É uma liberdade que não se pode dividir. Compartilhar. É uma liberdade solitária. É poder sempre experimentar o novo e ainda assim não querer. Mas estar junto não é quase tudo isso, também? Se perguntar, se assustar, suar as mãos e temer o novo? Se acomodar e encaixar a cabeça em outro peito e esperar? Dormir amando e dormir odiando às vezes? Se perguntar, duvidar, e ainda assim faltar coragem pra dar um passo? Eu não sou cética a ponto de achar que não se pode amar ou que um amor bem cuidado não possa durar pra sempre. Mas também não sou ingênua a ponto de acreditar que paixão não tem data de validade, e de achar que -sempre- o amor vem com pisca-pisca e trilha sonora que te sinalizam com toda a garantia de que é a escolha certa. Nem os muros modernos de vidro blindado do seu sonho de lar conseguem cercar as dúvidas que virão, as incertezas que repousarão sobre o seu sono, tornando-o desconfortável. Nem as fotos que você mostra pros amigos e as músicas que você canta no pé do ouvido vão impedir que, em certas noites, o travesseiro pareça pedra debaixo da sua cabeça. Nem sempre quem te ama vai te ligar de madrugada só porque não consegue dormir brigado, tornando os seus pesadelos em sonho bom. Às vezes você vai dormir odiando sua escolha. E apesar disso, vai acordar amando. Ou, no mínimo, esperando o melhor pra si. Mas é sempre assim. É essa eterna insatisfação que permeia o ser. Essa eterna negação de nossa condição limitada. Estar só é uma aventura. Estar junto também. Viver, por si só, basta pra que nos sintamos com um vento de cento e oitenta quilômetros por hora batendo no rosto e pra que sintamos a adrenalina esquentar as veias e dilatar as narinas implorando por mais um pouco de oxigênio, pra termos fôlego pra aguentar a próxima descida dessa montanha russa que é a vida.
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