Veio embalado, e o embrulho era tão bonito que eu tive medo de me decepcionar outra vez. Abri com medo e, não fosse o cartão que dizia ser pra mim, eu não acreditaria. Era melhor do que eu podia esperar. Não. Era muito mais do que isso: era melhor porque eu não esperava. Eu que tinha conseguido colocar a dor num canto seguro do meu coração, eu que já tinha me habituado a ela, que já conseguia dormir em paz apesar dela, que já conseguia andar sem tropeçar no próprio pé, que já conseguia sorrir sem precisar de motivos pra isso, eu achei que estava no cume. Achei que era o melhor que a vida poderia me oferecer. Eu não esperava que a vida, como uma surpresa agradável, te pusesse na minha porta dizendo que queria segurar as minhas mãos e me levar pra algo novo. Dizendo que havia no mundo mais do que meu quarto e meu computador, e que lá fora a vida podia também ser interessante. Não esperava você tentando me convencer de que a vida pode ser mais do que a dor. E que eu não precisava de ser madura para lidar com a dor se você podia me mostrar outra fonte de felicidade. Perdoa o meu medo e a minha indignação. Mas é que ser amada sempre foi demais pra mim. E, se eu tivesse escolha, eu estaria agora rejeitando cada passo que você dá em minha direção. Mas desta vez eu não sou capaz, porque você me prendeu dentro dos seus olhos. E as suas palavras todas parecem querer dizer: vem, que eu tenho algo mais pra te dar. Desculpa, mas é difícil entender que um anjo assim saia do jardim-paraíso e venha só pra me buscar do meu poço fundo. Sorriso bobo no rosto, mãos trêmulas e estômago nauseado, mas tudo, desta vez, por um bom motivo: você. E eu. Você e eu. Por tempo indefinido. Eu não toquei seu rosto. Eu não senti sua boca ainda. Mas vai ser em breve, meu bem. E eu sei que vai ser melhor do que tudo.
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