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domingo, junho 10, 2012

Visita

Eu olho pro meu prato e penso no quanto minha mãe se esforçou pra me fazer comer. Tem tantas cores nele que, se eu tivesse algum apetite, devoraria tudo sem sequer sentir o gosto. Eu olho pro meu prato mas minha atenção está só parcialmente nele. O telefone toca e meu coração pula enquanto eu viro o meu tronco na direção do barulho. Depois eu rio da minha ingenuidade. É claro que não é ele. Não é como se ele fosse ligar pra avisar que está chegando. Mas eu sei que está. Eu volto os olhos pro prato e brinco com o bife, pico ele em mil pedaços que eu sei que eu não vou comer. E então eu penso que eu nunca deixei de ser criança. Então porque essa dor tão adulta? Mas calma, ele vai chegar, ele já está vindo. De novo meu coração começa a pular antes que eu tome consciência de que um carro atravessa a rua. Mas não é ele, claro. Não é como se ele fosse chegar de carro e buzinar e tocar a campainha e dizer 'oi'. Então eu rio de novo pra mim mesma pensando como seria engraçado se ele fizesse isso. Mas é mais complicado, eu sei. Passo a mão na franja que escapole do rabo de cavalo que eu fiz porque um dia alguém me confessou que gostava assim. Mas faz tanto tempo que eu mal me lembro quem. Então eu junto coragem e engulo um pouco de arroz com salada só pra minha mãe ficar satisfeita. Mas eu estou tão ansiosa esperando ele chegar que eu nem consigo comer. Ele não me disse que viria mas eu sei que vem. E eu sei que vai ser em breve, porque eu tenho esse nó no estômago e esse suor na palma das mãos e essa cabeça avoada e esse coração batendo acelerado e isso só acontece quando ele vem me visitar. E eu não sei nem como ele se chama, cada um chama de um jeito, mas chamo ele do nome mais genérico, com medo de errar. Alguns o chamam de paixão, uns de atração física, outros de pura biologia, outros de irracionalidade, outros de babaquice. Eu... eu o chamo de AMOR, e sei que ele vem me buscar... um dia a gente se acerta e fica em paz pra sempre, e ele vai me levar pra esse ponto na estrada onde haverá alguém me esperando e desejando ser meu.

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