Eu não entendo porque você disse pra minha melhor amiga que, além do que nós dois sabemos, o nosso problema era tempo. Não foi três meses nem duas semanas nem cinco dias, mas um ano que a gente enfrentou só com ligações e mensagens de celular e finais de semanas corridos e intensos, e o nosso amor pareceu dar conta, não? Eu não entendo, porque eu nunca te disse que a gente, só, não bastava. Eu não tenho dez anos de idade e por isso não vou dizer por aqui que nada disso me aflige, e nem vou mentir por aí que eu sei amar apenas quem me ama de volta. Eu não vou negar que meu coração doeu várias vezes por dia todos os dias até hoje. Mas é que hoje, pela primeira vez, em meu coração sobrou espaço pra eu sentir um pouco de raiva. Raiva da sua displicência e do seu descaso com esse fim torto e frio. E nem é isto que me incomoda: já faz algum tempo que eu parei de desejar as respostas certas pra minhas perguntas e resolvi seguir em frente. Mas é que você não pode. Não pode dizer que me ama demais e que tem medo de nunca mais amar ninguém dessa forma e logo depois sumir e me magoar conscientemente e depois por um fim em tudo dizendo ter medo de me magoar novamente. Você não pode me ligar no meu aniversário e me desejar os parabéns fingindo que não ignorou a mensagem enorme que eu deixei na sua caixa de entrada contando toda a minha dor. Você não pode ficar aí do outro lado fingindo que não é nada. Não pode porque nada disso faz sentido. Então, faz favor, seja coerente, pega seu celular, me liga e diz: 'há muito tempo eu deixei de te amar, e é por isso que eu não me importei em responder a sms que você me enviou numa madrugada qualquer. Ei, eu não quero ser seu amigo, não. Eu só disse isso naquela conversa porque é isso que as pessoas esperam de mim. E é isso que eu estou fazendo: dizendo às pessoas o que elas querem ouvir. Porque, eu?, eu não me importo. Mas olha, eu não te contei porque não queria te magoar.' E sabe o que eu vou dizer: tá tudo bem. Porque isso assim, claro, preto no branco, isso é mais fácil de aguentar. Hoje, no meu coração, sobrou espaço pra eu achar que o nome disso tudo é fraqueza. Não tem culpa você não me amar, eu posso lidar com isso. Mas não finge que não é nada. Esse texto eu escrevi ontem num papel e ele acabaria aqui, não fosse o fato que eu dormi e sonhei com você. Pela terceira noite seguida, creio eu. Mas este sonho foi mais forte, mais marcante, mais real. E, nesse sonho, você morreu. E eu nem me lembro de ter visto seu rosto ou de ter ouvido a sua voz ou de ter te tocado. Mas eu me lembro que todo ele foi em volta deste fato. E, no sonho, eu chorei na frente de todos sem parar, e até me senti culpada. E sabe como eu acordei? Com os olhos encharcados, com o peito doendo, com uma angústia desesperada e vontade de gritar. Depois de pensar que o sonho não tem nada a ver, eu comecei a achar que ele tem muito a ver. Há o que eu considero muito tempo eu não sei de você, eu não ouço de você, como se você tivesse escolhido morrer pra mim. E eu até me culpei por tudo isso mas eu sei que não devo. E eu chorei e fui fraca e me expus pra quem quisesse ver. E eu não gosto muito de sonhos quando eles parecem muito reais, porque trazem à tona coisas adormecidas. E parece que a gente acredita tanto que é verdade, que todo o sentimento toma conta do nosso coração como se fosse isso mesmo. Mas hoje eu estava andando e pensando nisso, e pensei que, talvez, isso tenha um lado bom. Talvez você esteja desocupando a minha consciência pra tomar lugar no meu subconsciente. E isso vai ser apenas por algum tempo. Daqui a pouco você não vai mais ser meu dia-a-dia, como o tem sido: vai ser lembrança. E depois de mais um tempo eu vou me esquecer de lembrar e, apenas um dia ou outro, alguma música ou um cheiro vai me lembrar de algo que eu não sei o quê. E, no início, eu vou saber que é de você, mas vai chegar o tempo que eu não saberei mais dizer do que eu sinto nostalgia. E vai se passar mais algum tempo até que outros cheiros e outras músicas me façam lembrar de outros momentos bons e de outras pessoas, e até que tudo isso fique impregnado única e simplesmente nestas palavras que aqui estou deixando como prova. Não há objetivo algum em vir aqui e escrever sobre todas essas coisas. Mas isso me faz mais leve. Já pensei em apagar este blog, pra nunca mais escrever sobre você. Mas aí eu penso que só me faria mal. Perdoe-se me as sucessivas digressões. Mas não há objetivo algum porque você não vai ler nenhuma dessas palavras. Mas é que tem outras pessoas que passam aqui de vez em quando, e é como já dizia a Tati: publicar é uma forma de pedir emprestado o peito do outro porque no meu não cabe essa dor. Pelo menos é assim que eu me lembro das palavras. Mas não importa. Esse texto não tem nenhuma frase final, nenhuma conclusão. Porque esse é daqueles textos que eu não escrevi pra alguém ler ou achar bonito ou gostar de como as palavras soam. Esse texto é pra me servir, pra me esvaziar desses pensamentos, pra me desaturdir. Porque tenho sido muito prolixa quando o assunto é você e eu já me esgotei de falar - acho que eu já disse isso, né?
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