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segunda-feira, junho 27, 2011

Possessor

Vem com a tua perfeição sobre-humana
No meio de minha noite mais fria
Surge meu anjo bom de asas negras
Traz consigo meu pedaço de dia

Afasta, com um suave bater de asas,
O que me resta de melancolia
Incauta me despeço de mim mesma
Mergulho em tão profusa fantasia

Teus olhos, cuidadosamente, despem
Minh'alma de todo receio vão
Me entrego já pelo primeiro toque
Possuo teus lábios na escuridão

Tão cedo então se vai meu anjo bom
Deixando, para mim, a nostalgia
Pergunto então: "Meu Deus, porque, meu Deus?"
E apego-me às memorias fugidias

"Oh! Deus, porque me deixaste saber
O gosto de tamanha perfeição?
Me mate, pois, se eu não voltar a ver
O anjo que possui meu coração"

É dele, sim, tudo o que sou ou fui,
Não meu, _ tamanha minha pretensão
Pensar que pertenço a mim! _ é dele:
Do anjo que possui meu coração

domingo, junho 26, 2011

Nonsense

[...] Meu corpo treme,
Oscila entre a falta e a angústia,
Entre a cólera e o afeto,
E, submerso num labirinto inextricável de dúvidas,
Está inapto a responder com a razão.

quinta-feira, junho 23, 2011

Caiu do Céu

[...] Era sombrio
E sua voz rouca sussurrava enigmas,
Atraindo querubins para desvendá-los.
Colecionava flores mortas,
E guardava no peito o amor
Como item de sobrevivência.

Longínquo

[...] Preocupou-se com a dor alheia. Tentou curar em cada um as feridas de um sofrimento que fora causado por outrem. Culparam-na, e ela temeu que não acreditassem na sua verdade. Caminhou sobre sua dor, e preocupou-se com a do anjo que costumava lhe guardar. Pediu desculpas a ele mesmo sem pecar. Rogou por indulto sem merecer. Temeu importunar seu anjo e se afastou para que ele pudesse criar asas novamente e, enquanto isso, colheu flores para ele. Esperou então que a verdade viesse até ela. Sabia que chegaria um dia e, quando quase se esquecera de procurar por ela, ela chegou. Tardia e em tempo. Ao mesmo tempo. Tardia para consertar a dor. Em tempo pra ainda fazer sofrer. Chorou, novamente, lágrimas que não sabia que guardava. Buscou então seu anjo. Procurou-o, mas não o achou: só a casca fria. Seu anjo era agora de outros. Não a guardava mais. Sentiu-se só e chorou novamente. E então gritou. Gritou com todos. Gritou com seu anjo e o fez chorar, e isso doeu em seu peito. O tempo passou e ela cresceu, não pelo tempo, mas pela experiência e aprendeu a cuidar de si um pouco mais. E então se deu conta de que se esquecera de algo esse tempo todo: De exigir e de cuidar de si! Afinal, porque teve que pedir desculpas? Porque teve que se calar diante de tanta injúria? Porque, quando mais precisou, ninguém a guardou? Porque ninguém lutou por ela passando por cima das palavras enganosas e malvadas que lhe diziam? Porque ninguém creu nela, que era, ainda, tão frágil? Que estava ferida e _diferente de todos os outros_ não culpou ninguém? Que sofreu sem poder buscar apoio? E que foi forçada a ser retrair por culpa de mentiras alheias, de rumores sórdidos? Enquanto ela tentou buscar respostas e cuidar do anjo, quem cuidou dela? Não conseguia pensar em ninguém. [...]

terça-feira, junho 21, 2011

O Desejo do Anjo


Não sei como fui capaz de fazer isso. De sair e aceitar tudo o que você me disse sem hesitar, sem questionar. Não sei como fui capaz de te perder, por relativo pouco tempo, mas que foi muito para mim. Você me faz feliz, me faz sorrir. Me deixa um bobo alegre. Me faz o mais feliz do universo, porque tenho a mais bela, inteligente e doce garota do mundo. A distância pode até ser grande, mas quando eu te digo que nada pode nos separar, estou sendo sincero. Preciso de você. Quando estou longe sinto sua falta e, perto, só quero ficar nos seus braços e abraços. Agradeço a Deus ao Anjo que nos uniu e continua atento, para que nada de ruim possa acontecer.  Ele nos mostrou como não éramos nada sem o outro e que somos melhores juntos. Ele é não é só um Anjo, é uma Mãe. E tenho certeza que ela sempre estará aqui para ajudar a nos resolver. Não quero mais tempestades, angústias nem separações. Pois saiba que para sempre, sempre, vou guardar você comigo.

Juran Ruan

Infindável Necessidade de Ti

Meu bem, tua doçura faz crescer em mim o desejo de eternidade. Pois teu amor me faz querer viver por ti, para sempre e até. Por tantos acasos, por tantos casos de nós dois, o teu sorrir se desenhou para mim como a causa de tudo o que é bom. E é de teu toque que nasce o aconchego, o acalento, o desejo ardente e todo sonho bom. Achava que sabia sorrir, até o dia em que sorri por ti. E agora tudo o que sou e sei é sorrir na paz do teu abraço. Quer distante, quer junto. Guardo na mente a lembrança distorcida de tua face. Guardo em minhas mãos o toque das tuas. Guardo o teu cheiro no meu travesseiro e o teu beijo nos meus sonhos. Vem... Para que eu não esteja só em sequer um respirar, para que não esteja só de tua lembrança, para que não inale o ar de um quarto vazio, vazio de ti. Vem... Para que eu possa te dar os beijos que guardei pra ti no meu poço de desejos e pra que eu não tenha que me despedir de tua boca. E se, algum dia, houver um último beijo, que seja eterno, eterno de ti.

sábado, junho 18, 2011

Escravo

[...] Me fizeste súdito de teu silêncio, e escravo submisso de teu egoísmo. E planos que dantes eram relevantes perderam agora todo seu nexo diante de teu desprezo. Pedes meu corpo e ignoras minhas carícias. Imploras por meus lábios e desdenhas as juras de amor que deles jorram. És infame e profana. Amante sem senhor. Franca em tua forma de viver e, ainda assim, após cada noite em que te tenho, mais te busco ter, ainda que migalhas de ti. Teu desejo por mim grita, mas não suplanta tuas paixões materiais. Fazes de mim abrigo passageiro e depois me deixas de lado sem remorsos e sem dizer adeus. Desperto e me indago se foi sonho, e tão logo saio a te buscar feito cão, por uma derradeira _torno a jurar-me austeramente_, uma última noite de teu amor dispendioso e sem juízo.

sexta-feira, junho 17, 2011

Utopia

Te amei. Te amei porque foi sem pretensão. Te amei porque pude errar. Te amei porque não és perfeita. E porque me prendeste em tua turva imperfeição. Te amei porque teus olhos castanhos guardavam mistério, e porque tive que te descobrir a cada dia. Te amei porque foste um tesouro que me empenhei em descobrir. Porque não foi à primeira vista, mas uma busca dolorosa. Porque aprendi a amar teus defeitos minha flor. E nesse caminho tortuoso, tão distante daquilo que chamam amor, encontrei em ti o amor imperfeito, que faz caminho cruzado e vem de trás pra frente. Pois por sua imperfeição tão genuína, vejo-te cada dia mais imaculada, impecável. Te amei por poder te amar, mesmo me sentindo inapto para tal. Perdoa-me não ver ligeiramente tua suave perfeição. Fui humano demais para que pudesse te saber em um primeiro instante. Sou trapos e restos que se arrastam após ti. Fui arrogante e covarde antes de ti. Mas tão somente após ter ciência de tua boca, neste apego avançarei incólume, por um fio que me resta de razão antes de embarcar na perversa utopia das curvas de teu corpo.

A Eterna Busca pela Complexidade

Perguntei-me sobre a vida e seu sentido. Que prepotência a minha, se tantos poetas não puderam escrevê-la e tantos sábios não souberam descrevê-la. Temi severamente lugares-comuns pela ânsia de que o senso comum não me bastasse, se até este amanhecer respostas prontas não me saciaram nem me deram soluções, e se minto a mim mesma e aos outros por comodismo, e me deixo assentir resignadamente por convenção, diante de ideologias e pensamentos vazios que me empurram garganta abaixo, e se, enquanto vivo no tempo social, minha mente pulsa obstinadamente em contra-tempo. Tudo isso porque busco, ferrenhamente, no embaralhar de meus pensamentos, uma resposta complexa a todas as minhas perguntas. E se são perguntas tão triviais, porque não haverão de ter respostas igualmente simples? Sou ser humano. Pensante _nem sei se assim posso dizer. Corpo, matéria. Sentidos. Estes me são únicos. Impossível reproduzí-los para que outro alguém possa compreender. Haverá sentido nos meus sentidos? E tudo que sinto tão intensamente? E todos os sorrisos que tanto prezo? E as lágrimas _doloridas_ que chorei? Que valorizo pelo crescimento que motivam? Há sentido algum em viver? Se nos foi dada a dádiva da existência, não há de ter então, algo simples, essencial e comum a todo ser humano? Em que cada um de nós seja capaz de se reconhecer? Não haverá uma resposta que sacie a todos? Algo simples, singelo, modesto, crédulo, evidente? Nem sei dizer.

segunda-feira, junho 13, 2011

Algarismos

A valores reduz-se a tragédia,
A estatísticas, a morte e a violência
Em sifrões se avalia a poesia
E a canção se induz à obsolescência
Tão efêmera é a expressão
De quem se diz poeta da multidão
Tão humilde a dor dos que, sem voz,
São contados de milhão em milhão.
          E o que todos esses algarismos me trarão?
Os grandes, em frívolas manchetes,
Resumem a aflição dos pequenos
O tormento se torna em valores
E a pena em simples porcentagens,
Fazem da iniquidade de estranhos
Bálsamo pra grande multidão
De um mundo onde reconhecimento
Se compra com Dólar,
Respeito com Euro, amor, com Ação.
          E o que todos esses algarismos me trarão?

sexta-feira, junho 03, 2011

O Conto do Baú

Com um medo infantil e olhando em volta, abriu cuidadosamente o baú há tanto cerrado: ali guardara seus sonhos. O baú parecia agora tão maior do que quando o cerrara, há muitos verões atrás. Como se o que havia ali dentro tivesse crescido e tentasse arrancar os cadeados do móvel antigo. Ergueu-o e, logo na primeira fresta aberta, uma canção começou a escapolir. Atentou-se à melodia que soava familiar lá no fundo de sua consciência. Abriu mais um pouco e olhou esperando encontrar passado. Mas assustou-se ao se deparar com futuro: O sonho ainda estava ali. Agora, ao alcance dos olhos. Das mãos? Não se sabia. Um amontoado de ilusões sedutoras. Poderiam ser reais? Pensava que não. Mas tanta surrealidade soava encantadoramente musical. A canção, então, soou mais forte. A mulher deixou de ser mulher e tornou-se de novo a menina. Tocou os cabelos e quase pôde sentir o laço acetinado da sua infância. Um olor suave de flores modestas que a mãe sempre trazia _ a maior lembrança que fora capaz de guardar _ embaralhava-se com cheiro de fotografias guardadas e de sorrisos esquecidos. Cheiravam ironicamente como sonho posposto. Atreveu-se a olhar mais fundo, ousou ouvir mais de perto. Encontrou sua miríade de estrelas. Olhou admirada. "Não fugiram de mim. Elas, as estrelas, estiveram esperando por mim!". Perguntou-se então porque as abandonara. Não pôde encontrar respostas. Lembrou-se de como, ingenuamente, decidira não empalmar a Lua. "Era uma só. As pessoas iriam sentir falta". Riu, então. Riu sozinha. Não para agradar a ninguém. Riu para si um riso inocente e genuíno. Deixou-se avançar um pouco mais e então gargalhadas começaram a subir pela garganta, mescladas com lágrimas. Interrompeu então o riso-choro já que a maquiagem escura e o batom vermelho não podiam borrar, ou todos saberiam que estivera ali, espiando seus sonhos. Ah!, os sonhos. A canção, mais intensa do que antes, entrava agora em ressonância com sua pulsação. Seu coração batia de uma forma passional. Sentia o sonho renascer nas veias. Fechou os olhos. Ousou sentir. O Piano. As estrelas. A canção. As flores. O riso. Os passos. O laço. Os passos! Os passos! Fechou o baú rapidamente e, não mais que depressa, os passos alcançaram a porta. Deu-se conta das lágrimas que escorriam tacitamente pelo rosto e, ao invés de enxugá-las, em um lapso de solidez, chorou baixinho por um instante antes de atender à realidade.

Fogo

Seduz-me com tua boca
Arrefece minha chama
Abrasa meu leito
Abranda meus pensamentos
             - Exacerbismo imoral
Um afago prescindível
Como o ar tão vital
             - Minha antítese pessoal
Ou melhor,
             - Paradoxo

Id

Minha mente se ocupa de
três lugares:
meu corpo,
meu ego
e meu lego.


Lucas de Barros

quinta-feira, junho 02, 2011

Afeto

Pegou os retalhos de um sonho e caminhou na noite fria sem Lua e sem estrelas. O Universo parecia debochar de sua infelicidade. Com passos pesados arrastou-se até alcançar seu esconderijo pessoal. O gosto amargo do whisky ainda na boca, um cheiro desconhecido de mulher impregnado no seu corpo ofegante. Sentia-se cansado. Cansara-se de tanto fingir. "Um príncipe", diziam quando passava. Sorria para si mesmo um sorriso sinistro. "Um príncipe que virou sapo", pensava em sua cama antes de dormir. Parou ali mesmo. Enquanto se desmanchavam seu olhar altivo e seu sorriso vaidoso, recostou-se na cadeira com o assento já gasto após inúmeras noites de introspecção. Cansara-se. Cansara-se de simular uma felicidade que perdurava até o por-do-Sol. Cansara-se dos sorrisos hipócritas e dos apertos-de-mão convenientes. Cansara-se de falar de política, dólar, governo e futebol. Não queria mais falar. Cansara-se do agre sabor do whisky que bebia para não mais lembrar. Desejava não se importar. Não queria mais o Sol exibido do clube no Domingo. Queria o Sol modesto de uma segunda feira. Queria uma tarde de praia vazia. Queria um cheiro familiar no travesseiro. Queria afeto. Afeto despretensioso, com noites de sobriedade, pipoca e exageros hollywoodianos. Queria não ter que sorrir sem ter vontade. Queria uma voz conhecida no telefone. Queria o que não tem nome. Sua realidade já começava a se enlear e seus pensamentos a se confundir com seus sonhos. Com frio no corpo, um gosto amargo na boca, e um cheiro desconhecido na roupa, rendeu-se aos seus sonhos que agora pareciam mais atraentes que a realidade.