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terça-feira, dezembro 20, 2011

Ckarinho?

Sabe as coisas importantes das nossas vidas? As decisões relevantes? Como que profissão você escolheu pro resto da sua vida, ou com quem você vai casar, ou a cidade em que você mora? Então. Isso daí todo mundo sabe, todo mundo vê. É só saberem teu nome e já vão te perguntando sobre as coisas relevantes da tua vida. O contrário disso é dividir-se nas partes mais peculiares, nos pormenores, naquilo que é intrínseco. E isso é pré-requisito pra aquilo que eu chamo de amizade.
O início desse ano foi de muitas mudancas pra mim. Eu me afastei de uma realidade que ocupava quase todo o meu tempo. E ir de cem a zero de repente foi um bocado dolorido. E pra quem tinha muito o que fazer em um dia com muito poucas horas, eu passei a ter tempo ocioso demais e de cara comecei a reavaliar muita coisa na minha vida. Por isso me coloquei, tanto quanto fui capaz, na posicao de observar. Durante o que considero muito tempo não criei lacos, não me confidenciei com ninguém, estava bastante sozinha, mas confortável. Você sabe bem o que eu penso da amizade, da energia desprendida para cultivar uma dessas, e do desconforto de uma separacão indesejada. Você sabe o que eu penso das pessoas, da ciclicidade de relacionamentos, e dos lacos que construimos ao longo da vida. Você sabe pelo menos o que eu acho que penso. E foi assim, despretensiosamente, dividindo uma e outra perspectiva -duas adolescentes compartilhando visões de mundo, risos- que fui encontrando em você coisas que eu nunca procurei, mas, de cara, fui sentindo que precisava. Eu não sei se é porque, pela primeira vez na minha vida, eu sentia cada vez menos necessidade de aceitacão, ou porque eu buscava cada vez menos criar lacos, que eu fui me mostrando pra você sem me preocupar exatamente com o que você iria achar disso. E você foi gostando de mim e retribuindo a honestidade. Quantas vezes eu não já confessei que pensava de uma forma que me fazia me sentir detestável, e você nunca me julgou por isso. E, é claro, no início trocávamos infinitas frases de carinho ou admiracão, porque a gente ainda carecia desse cuidado, não é? Mas aí a gente foi pegando um jeito uma da outra, o ritmo, o humor, os pontos de vista, e foi se dividindo e se expondo cada vez mais, de uma forma que acontece com poucos. E por não enxergar pessoas assim -talvez pela preguica de procurar- eu fui me acomodando a você, passando a depender do seu ponto de vista, do seu parecer, do seu tom sarcástico e daquela piada que eu já sei que você vai fazer mas ainda assim eu vou rir. E acho que é tão evidente a admiracão mútua que temos, que nós sequer nos damos ao trabalho de ressaltá-las no dia-a-dia, trocando-as por humilhacões em publico e piadas depreciativas que poucos entendem, num humor que faz apenas a gente, acredito, rir sinceramente. Pode parecer patético, infantil, avesso e contradizente, mas isso é a gente, e eu não tenho porque reclamar. Você sempre fica falando essas coisas depreciativas, se colocando num grau abaixo na nossa amizade, e é o único momento em que eu quero te matar, porque parece que você não percebe o quanto eu me tornei você, parecida com você, dependente de você. Eu me assusto porque juro que não é de propósito. Quando eu percebo, eu me lembro de você por algo que eu falo, por uma piada que eu faco mentalmente ou por uma careta, e eu já não faco porque me lembro de você, mas me lembro de você porque as faco. No momento da minha vida em que eu mais queria não ter um amigo pra esquentar a cabeca, não ter alguém que me fizesse querer matar aula pra continuar uma conversa, não ter alguém pra sentir falta nessas drogas de férias, não ter alguém pra sonhar que vai pra mesma universidade que eu, não ter alguém pra fazer planos de dividir o quarto e as aventuras universitárias comigo, você me aparece e praticamente me obriga a te amar, porque simplesmente não tem como ser o contrário. Eu não sei se você já percebeu que eu nunca falei muito nessas coisas. Nunca planejei nada com você pro futuro por minha conta. Porque até hoje eu não me acostumei com a frustracão de ter falhado nesses objetivos no último ano. E dessa vez acho que seria mais dolorido, porque nesse ano que se passou, todas as lembrancas naquela escola e boa parte de fora dela se resumem a você. Parece que meu ano comecou junto com a nossa amizade. Você foi exatamente a pessoa que me ofereceu suporte quando eu não procurei, e eu nem sabia que isso era possível.
Eu não sei explicar o quanto eu te admiro ou o quanto gosto de ti.
Acho que você foi, mais ou menos, a primeira pessoa com a qual eu tive todo o cuidado de reservar minhas demonstracões de afeto, para que essas fossem correspondentes à realidade, e não resultado de uma euforia momentânea. Eu guardei muitos te-amo-amiga que quase me escaparam antes de ter certeza da profundidade do laco que construimos. E depois disso, tudo o que faco em relacao a você é verdadeiro demais, espontâneo demais, e eu quase não tenho receios de me expor a você. E eu sei que, não importa quantas idiotices eu já tenha feito, ou quantas bandas ruins eu já tenha ouvido, ou quantas bandas boas eu goste e você não, ou o quanto eu posso ser paciente com coisas que você jamais seria, ou o quanto eu posso acreditar em algo sem ver, você me ama. E eu vou fazer de tudo pra preservar o seu amor. Porque eu só disse isso antes uma vez na vida e não errei, e agora sei que não vai ser diferente: eu nunca, NUNCA vou encontrar uma amizade que consiga comparar com a sua.
Te odeio.

domingo, novembro 27, 2011

Em Paz

Quando se trata de nós dois, a segunda coisa que eu mais quero nessa vida é te beijar, contar pra o mundo -e pra ti- o quanto eu te desejo quando você vem com esse jeans colado, ou quando você dança perto de mim com essa risada no rosto de quem está só se divertindo, mas com um rebolado sensual que diz exatamente como seu corpo me quer. Mas a primeira coisa que eu mais quero é que você continue na minha vida pra sempre. Eu vivo em cidade grande, pais separados, e mal ouço falar de casais pra sempre. Não assisto novela, mal vou ao cinema, porque não tenho tempo pra me enganar com essa superprodução caríssima de romances baratos. Não tenho tempo pra acreditar em amor eterno. Me desculpe, eu sei que você disse pra sua melhor amiga o quanto você me queria, e que eu era seu melhor amigo, e que você aprendeu num filme que, quando começa com amizade, tem tudo pra dar certo. E eu acho engraçado esse seu jeito firme de acreditar nas coisas tortas. Mas você não teve coragem de dizer isso pra mim, não sei bem o porquê. Talvez porque você, com toda essa pose de mulher crescida de capital, não sabe ainda correr atrás do que quer porque sabe que a nós, homens, nos restam ainda muitos ossos machistas e que prezam o orgulho da conquista. Mas, hei!, eu não seria assim com você, é claro que não. Não importa o quão cafajeste eu já tenha sido com alguém, não tem nada nesse mundo que eu preze mais do que essa nossa amizade. E é por isso mesmo que, quando eu ouvi que você me queria, num primeiro momento meu sangue aqueceu e minhas mãos procuraram afoitas o meu celular no bolso pra te ligar imediatamente. Porém, no momento seguinte, eu enrijeci, meu sangue congelou nas veias, e eu fiz o que deveria ter feito antes: fingi que não ouvi, ou que se tratava de um engano. Você sabe quanto tempo levou pra eu conhecer alguém como você? Tenho trinta e dois anos e, entre colegial, faculdade, trabalho e balada, você é a única mulher que permanece na minha vida e que me conhece por dentro. Não é que eu não tenha mais amigos. Mas é que eu não tenho mais ninguém como você. Você sabe que com os caras eu falo de futebol, de mulher, falo mal do meu chefe, e todo esse papo supérfluo. E é divertido. E eu sei que posso contar com eles. Posso. Posso, mas não conto. É com você que eu conto. Você é boa ouvinte, tem paciência, colo quente e mão leve pra me acariciar. E com ninguém mais eu me daria o direito de me expor. Nem mesmo com minha namorada. Pois o problema todo no amor é a exclusividade. E eu nem estou falando da exclusividade monogâmica, mas sim da especificidade da entrega. Necessita entrega completa e quase que pra uma pessoa só. Restam muito poucas coisas que se pode compartilhar com os outros. E é tão bom o que eu tenho contigo, pois se eu tenho uma semana cheia eu posso muito bem só pensar em ti e saber que eu te amo, e ainda assim não precisar ligar pra você só porque eu tenho obrigação de sentir tua falta. E é tão bom, depois de duas semanas sem te ver, chegar na minha casa e encontrar você na porta com uma pizza na mão, e entender o significado de saudade. É tão bom ir atrás de você e fazê-lo porque eu quero. E ter uma ou outra namorada, mas ainda assim só pensar em ti quando me deito, só me preocupar com você, porque é a quem eu quero o bem. E é por tudo isso que eu não posso nos sacrificar. Eu prefiro passar o resto da minha vida te desejando quieto, tendo apenas essa visão agradável enchendo meus olhos, te tendo só como amiga, te ver me esquecer e se apaixonar por outro, te ver se casar -pois você é menina de casar-, ter filhos, se afastar um pouco de mim, mas nunca deixar de ser minha melhor amiga. E a gente vai passar um tempo sem se ver, mas quando nos esbarrarmos no caixa do supermercado, vamos ter tanto pra lembrar; e vamos marcar um churrasco, e você vai me apresentar pros seus novos amigos na sua nova casa com seus filhos e seu marido e eu vou saber que fiz a coisa certa em te deixar ser feliz; e eu estarei feliz em poder ver isso, ainda que com um amor nostálgico e dolorido no peito. Eu prefiro tudo isso a arriscar tudo o que nós construímos e ver tudo se desgastar por obrigações, cobranças, um compromisso nonsense. A sinceridade vai se tornar perigosa, e nós vamos acabar brigando e não entendendo o porque de a coisa não funcionar, e aí nós vamos nos esquecer porque éramos tão amigos, ou porque nos amávamos tanto, e eu vou te perder pra sempre, e nós nunca mais seremos os mesmos juntos. Então nós vamos jurar que continuaremos sendo amigos, mas vamos nos afastar aos poucos. E então vamos parar de nos ver, de nos ligar, e de nos dividir. E, muito tempo depois, quando nos encontrarmos naquele caixa daquele supermercado, vamos trocar um sorriso sem graça, com polidez e certa indiferença, e o arrependimento por ter te perdido vai doer no meu peito.

Eu prefiro te ver feliz, porque eu não acredito em conto de fadas, mas você acredita e precisa de alguém que esteja disposto a tentar, em vão, viver um contigo. Enquanto isso eu vou sofrer de amor. Mas eu sou frio, e no meu peito esse amor vai doer em paz.

sexta-feira, novembro 25, 2011

Sem nome

O tempo passa e a gente perde o jeito de sentir saudade. A lembrança vira saudade, a saudade vira nostalgia, a vontade cresce e se anestesia, e o amor vira algo que não tem nome.

Hiperbólico

Eu nunca acreditei. Nunca acreditei que mensagens que acordam alguém no meio da madrugada poderiam fazer sorrir. Ou que uma comédia romântica clichê pudesse ser menos entediante quando se tem uma mão pra segurar. Nem que um beijo poderia te causar calafrios em partes do seu corpo que nem existem. Nunca acreditei muito que confiança fosse uma questão de construção, e sim, mero cálculo probabilístico. Nem nunca achei que trair a confiança fosse falta de consideração, tava mais pra quebra de contrato. Nunca acreditei que o corpo pudesse doer de saudade de algo que não fosse ele mesmo. Ou que as canções de amor fizessem muito sentido. Nunca acreditei que se poderia desejar alguém a ponto de perder o interesse em conversas aleatórias com pessoas interessantes. Ou a ponto de se importar com quem exatamente satisfaz seus desejos. Nunca acreditei que se pode gostar tanto de alguém a ponto de preferir ficar só do que estar acompanhada por um estranho.  Nunca acreditei que café na cama fosse tão necessário assim pra realização de alguém. E sempre detestei flores como presente. Nunca achei que um relacionamento necessitava dessa entrega que todos falam. Relacionamento deve ser cômodo, agradável. Nunca acreditei em calafrios ou coração acelerado. Nunca acreditei que alguém pudesse sentir falta do meu cheiro no travesseiro, ou que fosse adivinhar meu filme preferido só de me conhecer. Nunca acreditei nessa conversa de ler o outro nos olhos, ou de encaixar perfeitamente. Nunca acreditei em querer pra sempre: deixar estar enquanto for satisfatório. Nunca acreditei em brigas calorosas que misturam amor com ódio ou em sexo de reconciliação. E nunca consegui entender a graça do ciúme. Sempre achei meio babaca. Nunca quis querer possuir ninguém, nunca quis nada que me abalasse ou me fizesse sentir desmoronar. Nunca acreditei mesmo nessa coisa de joelho mole ou mãos trêmulas: tudo medo do desconhecido, nosso corpo nos pregando peças, nada mais. Nunca acreditei que alguém pudesse preferir curtir a falta de alguém do que sair pra uma festa, ou que se dispusesse a ficar horas no telefone falando de si. Nunca vi beleza em se expor, afinal, ninguém nunca vai te conhecer mesmo. Nunca fiz questão de ser tão honesta com ninguém além de mim mesma. Sempre o necessário, somente o necessário. Nunca acreditei em querer gastar as próprias energias pra viver por outra pessoa. Muito menos em morrer de amor, em sofrer por amor, em chorar por amor. Nunca pensei que alguém poderia ser estúpido o suficiente pra se secar de tantas lágrimas por chorar de saudade ou de solidão. Nunca acreditei em eterno, incontestável, incondicional, inabalável, incorruptível, pelo menos não quando se tratava de amor. Nunca pensei no amor como... como... como amor, dessa forma hiperbólica, com esse conceito inconstrutível. Na verdade, acho que nunca pensei no amor.

Foi aí que você chegou naquilo que eu chamava de vida, e só então eu comecei a viver.

quarta-feira, novembro 23, 2011

Namorado*

Brinquei de fazer sombra no teu corpo enquanto você dormia e respirei baixinho pra não te acordar; te trouxe café na cama e escolhi a roupa que você mais gostou. Tenho uma pétala guardada da primeira flor que você me deu e te apresentei pro meu pai antes de te apresentar pra minha melhor amiga. Te contei segredos irrelevantes sobre mim e chorei no teu colo sem te falar o por quê. Segurei na tua mão num dia de chuva e desejei tua companhia todos os dias que você não estava comigo. Te abracei e despedi com um sorriso, mas caí no choro quando vi o ônibus te levar. Quis correr atrás pra te buscar, mas fiquei imóvel sentindo teu cheiro na blusa de frio tua que ficou comigo. Li e reli mais de 15 vezes todas as suas mensagens e toda vez que procuro um motivo pra sorrir é o som da tua voz que o meu subconsciente coloca pra tocar. Tenho uma foto tua no meu celular e choro de vê-la sem poder te abraçar. Te tenho comigo em qualquer lugar e é triste saber que isso só existe na minha mente, e está vazio o teu lugar.

*Texto de Karolina Figueiredo



Ps.: Pra você, meu bem. As palavras não são minhas. Mas os sentimentos, esses eu te garanto, são bastante como os meus. Feliz existência pra você.

terça-feira, novembro 22, 2011

Culpa

Algumas coisas chegam ao fim, e simplesmente não se pode achar culpados. E eu levei muito tempo pra chegar a essa conclusão. Antes, cheguei a várias respostas diferentes, até mesmo na mesma resposta mais de uma vez. E quando achava que tudo fazia sentido, meu cérebro me surpreendia com um novo ponto de vista, e isso me mostrava que a minha mente nunca parou de funcionar tentando chegar a uma resposta definitiva. Mas com a ínfima maturidade que adquiri, só consigo pensar que as coisas acabam. E ninguém é totalmente culpado. E todos são parcialmente culpados. Se eu soubesse o que é a verdade, eu diria que a verdade é que a culpa é um pouco de quem mentiu. Eu, por incrível que pareça, gostaria de poder dizer que não é a primeira vez que eu sou enganada, que já fui traída várias vezes por alguém em quem confiava, só pra poder dizer que, sim, eu sou forte o suficiente pra lidar com isso e que sei exatamente o que fazer, ou que sou esperta o suficiente pra não confiar cegamente em ninguém. Mas isso não é verdade, já que houve esse alguém em quem eu confiei, sobretudo quando era capaz de desconfiar de quase todos à minha volta, e cujo nome se manteve o tempo todo fora das minhas apostas de algum culpado, e que só entrou no meu campo de visão quando apontado diretamente por um dedo amigo. Alguém que tive medo de enfrentar, por não saber se em seus olhos encontraria vergonha, culpa ou cinismo. E depois? Culpei as más línguas. Ou todas aquelas que, mal ou bem intencionadas, deram continuidade a rumores que não lhes diziam respeito. Com muito arrependimento, culpei a outra vítima dessa história toda. Mas a verdade, de novo, é que confiança não se impõe. Nem sei se é algo assim tão conquistável. Confiança você deposita em alguém e de olhos fechados. Não há confiança que não seja cega. Pois se não for cega, não é confiança e, sim, a mais simples apuração de fatos. Como não sendo capazes de avaliar totalmente alguém durante todo seu percurso, nós extrapolamos os resultados daquilo que somos capazes de ver e concluímos que alguém é ou não confiável. E, bem, confiança não implica reciprocidade. Por isso fui injusta em esperar que alguém, em quem confiava, confiasse em mim cegamente. Eu não mereço isso. Ninguém merece, afinal. E se esse alguém foi enganado e se deixou levar pelas circunstâncias, que me apontavam como desmerecedora de tal crédito, o fato é que minhas expectativas foram quebradas e ponto. Não tem 'mas'. Tem é muita culpa minha nessa história, na minha postura de prostração diante das circunstâncias. Eu tentei respeitar muita gente, e me esqueci do tão louvado e clamado _não deve ser à toa_ amor-próprio. Talvez um pouco de ousadia e de imposição tivessem me safado de algumas das cicatrizes que carrego agora. Talvez teriam acarretado outras mais profundas em gente que não merecia. Ou até mesmo em gente que merecia, mas isso não me faria mais feliz. Por isso me calei, e me abstive de fazer aquilo que hoje me parece crucial: impor minha presença e me defender a todo custo. Ao invés disso me escondi um pouco, por algum receio de ser novamente mal-compreendida. Mas relacionamentos necessitam de construção continua, elaboração, esmero, e eu falhei nisso tudo. Talvez não sozinha, mas tive minha parte nessa história. Talvez não fosse tanto amor assim, ou talvez fosse tanto amor que nós acreditamos que seria suficiente para manter sólidas as estruturas. E não foi. Isso pra mim é um fato. Mas de todas as pessoas que culpei, a que acusei mais cruelmente foi a mim mesma. Talvez por essa mania idiota de acabar perdoando todo mundo, eu desconte tudo em mim, guardando rancor de cada vez em que eu falho. Não sei me perdoar. Mal sei me pedir perdão. E eu finalmente o fiz quando me dei conta de que, antes de todos os esclarecimentos que pude obter, antes das cartas na mesa, mas depois de alguns avisos sobre os cuidados que eu deveria tomar com meu círculo de confiança, eu me acusei ferrenhamente por tamanha ingenuidade, por tamanha facilidade em me deixar levar, por ausência de capacidade de ver através dos olhos mais vazios -desses que tentam enxergar o que há de pior-, por não perceber o risco que corria de ser mal-interpretada, até mesmo por aqueles que pensei que me conheciam. Hoje tudo isso parece óbvio demais, parece um risco quase calculado. Mas eu sei que naquela época meu olhar das coisas era mais singelo. E eu com essa mania de querer pedir desculpas por tudo, pedi desculpas a muita gente. Mas eu demorei muito a pedir desculpas a quem eu tinha certeza absoluta que merecia: a mim mesma. Ninguém mais fala nisso, provavelmente ninguém sequer pensa mais nisso. Mas eu, a-última-a-saber-de-tudo, a coadjuvante na história, aquela que não-foi-o-principal-motivo pra nada, que não foi o centro de tal perturbação, e a que não sabe da-missa-a-metade, me assusto ao ver o quanto essa experiência me foi transformadora, porque eu sei o quanto valorizava as poucas coisas que considerava reais quando conquistava. E agora eu tento medir o valor das coisas antes de conquistar, pra ver se valem tal pena. Dos restos disso tudo, há pouco tempo aprendi a guardar a parte doce, a lembrar daquilo que não se consumiu com tudo isso, que é algum amor e admiração por quem conquistou isso de mim, e eu não sou do tipo que costuma jogar isso fora. E no fim, todos têm um pouco de culpa aos meus olhos, mas ninguém aqui é réu, não, meu senhor. O fim disso tudo é triste, mas é inevitável. E eu nem sei mais se sou capaz de lamentar, porque quando passa muito tempo, você se esquece das razões que te levaram a amar.

domingo, novembro 20, 2011

Partir

Eu cavei minha própria cova e não há nada de romântico nisso. Estou morrendo. Mas diferente das tragédias Hollywoodianas, não há honra aqui. Nenhum pingo de dignidade, ou algo a que os outros possam se agarrar quando eu partir. Apegar-se às boas lembranças seria o mesmo que apegar-se a nada. Deixo pra trás um passado mal-escrito e com muitos rabiscos com os quais eu tentei esconder aquilo de que mais me envergonho. E pro futuro levo uma caderneta simples, cuja capa nada transparece. Começar do zero. E quando eu digo do zero não é de uma boa maneira, como quem busca redescobrir-se. É como alguém que é obrigado a partir e só leva a roupa do corpo. E não resta absolutamente nada pra mim aqui. Mas tanto faz, não é como  se eu tivesse mesmo coisas boas pra levar comigo. No tempo em que estive aqui eu não consegui cultivar nada de que pudesse me orgulhar. Semeei vergonha, traição, vingança, morte. Morte da alma. Mas me surpreendi ao perceber que a colheita é compulsória. E agora eu não estou escolhendo deixar nada pra trás. Os outros fizeram isso por mim. Não vejo nenhum rosto já que todos me viraram as costas. Eu percebi tarde demais que estou morrendo. Eu não trouxe nada pra este lugar, nem vou levar nada daqui. Mas me incomoda é, na verdade, aquilo que eu estou deixando para trás.

sexta-feira, novembro 18, 2011

Sorte

Eu estive buscando por nós dois. Cavando pra nós dois. Procurando meios, caminhos, alternativas, qualquer facilitador da nossa conexão. E era mais como se eu estivesse procurando por você, como se você estivesse em um poço bem fundo, e eu precisasse me esforçar pra conseguir o prêmio. Mas eu nunca pensei em como seria quando eu te alcançasse. Eu sempre presumi vagamente que quando eu chegasse lá você reconheceria todo o meu mérito e me admiraria por passar por tudo isso sozinha apenas para nos dar a chance que merecíamos. Mas se a busca foi apenas minha não tem nenhum nós aqui, tem? As coisas funcionam quando se trabalha lado a lado, e todo mundo precisar dar um pouquinho o braço a torcer. Mas eu nem te pedi por isso, fiz tudo direito. Eu não deveria ser recompensada por fazer o trabalho de dois? Porque eu não tenho mais energia pra buscar outro amor nessa vida. E lá estava eu, parada, com um olhar agitado acenando pra você como quem diz 'oi, já cheguei, vem me dar um beijo' e você olhou meio perdido como se não fosse capaz de me reconhecer. Mas eu não fiz tudo direito? Eu não tenho certeza se tinha alguém segurando a sua mão, talvez seja fruto da minha memória insegura. Mas eu fiz do jeito errado? Eu não amei direito? Isso não é amor, é? Acho que eu confundi. Então, se for assim, está tudo no lugar agora. Um ombro amigo me disse que foi tudo proeza do destino. Ou falta de sorte, quem sabe. Mas se Guimarães disse que sorte é merecer e ter, então eu posso culpar a sorte pela minha infelicidade, porque eu sei que eu sempre vou ser a única a merecer o teu amor.

quarta-feira, novembro 09, 2011

A Verdade das Coisas*

Eu ouvi falarem por aí que o passo apressa é o coração… Contaram com a voz efêmera da luz e esperaram como quem vagamente observa o pôr do sol. Aos corações vazios? Muitos amores! E aos românticos insaciáveis? Um bocado de papel, lápis, e uma deliciosa xícara de café, que o mundo e os corações inatingíveis, pelos quais borramos as folhas brancas A4, hão de precisar da nossa palavra para deliciar os vazios corações. E onde quer que esteja o coração de lata pelo qual borro incessantemente o papel, delicie, por favor, a tua amada com os versos meus, que tão verdadeiramente meus fazem-se teus, e assim um coração vazio a mais irá sorrir. E eu? Mais uma xícara de café, mais um bocado de papel, e a lembrança doce do sorriso e do beijo teu.
*Nathália Menezes

Cessar Fogo

Quantas vezes eu não já pedi? Em voz alta, ou até mesmo silenciosamente? Achei que você saberia ler meu silêncio. Ou será que você fingiu não perceber, só pra não trazer à tona o que está faltando? Ou por saber que eu iria te culpar? Então eu _que sempre achei que é necessário se fazer entender, e não esperar que as pessoas decifrem um código que só você entende_ me dei ao trabalho de dizer em voz alta. Falei, e repeti. E, enfim, nada mudou, e eu nunca me senti tão irrelevante. Você ao menos pensou no que eu te disse? Eu tenho medo, sabe, porque eu estou perdendo a força pra lutar que eu tanto acreditava ter. Mas ainda me resta a vontade, e ela é toda a minha munição. Uns dizem que é importante dizer o que sente. Outros dizem que um gesto vale mais que mil palavras. E eu? Eu aceitaria qualquer um vindo de você: gestos, palavras. Qualquer um, e eu me renderia. Mas nós dois sabemos que não há como você me abraçar ou me roubar um beijo quando esses pensamentos me atormentam, pra me mostrar que o teu amor por mim é válido. Sem gestos. E você se reserva ao direito não dizer, porque não faz o seu tipo. E eu fico aqui, sem gestos e sem palavras, sozinha com meus pensamentos, com minhas dúvidas e com toda essa insegurança. E me resta a vontade, mas esta declina quando se está lutando sozinho. Aí eu me pergunto, você comprou essa briga comigo? Porque quando eu levantar bandeira branca, será porque eu perdi a vontade de lutar.

sexta-feira, novembro 04, 2011

Need

I feel nothing. And it has nothing to do with the fact that i have by my side an almost empty bottle of whisky wich I just remember of starting drinking. Instead, it has to do with the fact that my life seems to be stuck into the time. It's scary when you notice you just don't feel. Things happen around me, people go away and people come around, and I stand exactly where I am, cause I'm not capable of taking some attitude. Maybe I have no courage. Even more weirdly, maybe I have no will. But I want to drown this dormancy together with all my air, just so I can feel again the pain of watching you leaving. I want to feel it burns through my throat, I want it to hurt. I want to be devasted by your goodbye, and after I want you to come back, saying you're sorry, just so you can have the pleasure of seeing me bending over. And after - we both know - you'll leave me again. I've been lying to myself, trying to accept that it's not what I want to myself, that I do not deserve such a painfull humiliation. I knew the worst monster inside you, and I can see it as soon as you knock into my door. Looks like your eyes are judging me for giving up. I can feel when you step into my room that you have no good intentions. It feels like you were stepping over what remains of my soul. And your hands touch me as if I wasn't worthy.  And I feel like a whore wich surrenders herself for necessity. And as soon as I surrender you decides to use me, even knowing that you're gonna say goodbye soon, just cause you can't resist. But I don't blame you cause I know your reason. I can feel it when you kiss me and you realize that it's the only moment in wich I do live. And it scares you. You can't stand being someone's life, someone's breath. You can't deal with such a power. You want it, but you can't. And maybe cause you're too good to try to own me, maybe cause you're mean enough to do not care about my fucking life, or the fucking reasons I want to give you my existence, or even the fucking tears that my body spills trying to die when you depart. And I try to believe that's why you do leave. And you keep going away and coming back, hoping that someday I'll get done with it and stop trying to own you back, cause you can't surrender as I do. But you have no mercy and you keep doing your bets. You come after me and when you see that nothing has changed, guiltless you go. And as soon as you leave, I start all over again, trying to make a plan for that moment when you will come back, and I swear to myself you won't see again in my eyes that I just live for you. This time I'll succeed to hide that I spent every single minute of my life trying to keep you by my side. And I know that when I convince you that I don't need you that much, you'll need me too.

quinta-feira, outubro 27, 2011

Sublevação contra o Lugar-comum

Não importa quão bonitas sejam as palavras, não as repita se elas não te representam. É isso mesmo. Não venha me dizer que você sorri por educação se quase tudo o que você faz é pensar que todos a sua volta têm o dever de te agradar e se você não mede esforços para ser rude com quem não parece estar à sua altura. Nem venha ridicularizar aquelas pessoas que são notoriamente influenciáveis. Se você gosta de se mostrar indiferente a tudo o que ocorre a sua volta, isso provavelmente mostra que você é influenciável, mais um maricas repetindo outra frase pronta. Ah, também não se dê ao trabalho de jurar amor eterno a ninguém se você nunca se deu ao trabalho de pensar o que esse alguém representa pra você ou até onde você estaria disposto a ir. Se esse alguém não merece esse seu tempo ou trabalho mental, mereceria seu amor eterno e incondicional? Ah, não saia por aí repetindo o quanto você não se importa. Mentir para os outros é até mais normal do que parece, mas mentir pra si mesmo? É visivelmente estúpido. Portanto não diga que não se importa quando você faz e desfaz pensando na sua reputação. Ah, não diga também que não mente pra si mesmo: por mais estúpido que seja, todos fazemos isso um dia. Ou todos os dias. Ah, você deveria dignar-se  também de não dizer que se importa se você nem se importa de fato. Se a sua verdadeira motivação é a curiosidade ou a política da boa vizinhança. Não tente saber dos problemas alheios, você não tem como cuidar deles. Você não tem como cuidar nem dos seus. Só procure os problemas daqueles que te importam _se possível fosse_ como você mesmo. Não menos importante, não diga que está disposto a ir até o fim por seus ideais se você sequer possui um. Arranje um, reafirme-o sob risco de morte, e depois a gente conversa. Enfim, Se você está procurando por algum lugar comum, pelo menos escolha aquele em que você se encaixa. Ah, e só mais uma coisa: não saia por aí fazendo textos dizendo aos outros o que fazer ou não fazer. Isso não muda a vida de ninguém. Só a sua. Ou nem isso.

terça-feira, outubro 25, 2011

Pontas Soltas

Mas é claro que eu me lembro. De todas as coisas que eu poderia ter agora, essa foi a única que me restou, a minha incompleta, indecisa memória. Com certeza houve outras coisas que em vão eu tentei guardar. Talvez eu não tenha tentado o suficiente, talvez eu nunca tenha mesmo acreditado que eu seria capaz. Eu me lembro de dizer, vez ou outra, que aquela felicidade toda era tão verdadeira que poderia me manter em paz pra sempre. Ah, eu devo ter jurado também que não deixaria jamais as lembranças se esvaírem. Talvez eu não tenha segurado com força. Talvez elas nunca tenham mesmo estado nas minhas mãos. Você pode imaginar minha surpresa ao me dar conta de que tudo o que vivi e pensei ser inesquecível não fazia sentido algum sem ser alimentado? E agora eu tenho medo de descobrir que eu não dependo assim de ti, ou você de mim. Eu confesso, às vezes eu sorri meio sem razão. Ou mesmo meio sem querer, só pra fazer alguém rir comigo. Pode soar estúpido a alguns ouvidos céticos. Mas sabe o que soa ainda mais estúpido? Que agora eu tente encontrar justificativas pra merecer me sentir feliz, sem me dar ao direito de rir sem motivo. Muito tempo se passou, ou talvez tempo nenhum, já que é como se eu estivesse esperando o momento em que minha vida irá começar. E eu ainda não parei de sonhar que você estará por perto quando esse dia supostamente chegar. Talvez eu acredite mesmo nisso. Talvez eu nunca tenha sido, enfim, capaz de acreditar.

Madrugada

Quando o pouco quero e nada mais, e se falta muito, tanto faz. E eu me pergunto, até onde? Onde cabe o mundo, e tudo cabe a nós, onde meu corpo te exige sem pseudônimos; Mas eu me pergunto, desde quando? Desde o fim do mundo até quem somos nós, desde o mais obscuro desejo até a podridão do ser; quem doeu profundo, quem aprendeu amar, quem mentiu por vergonha, ou perdoou por conveniência; Enquanto a luz apaga e arrasta junto todas as horas em frente ao espelho, o que sobra é a assustadora escuridão que só faz exibir a verdade e o desespero de quem já não sabe esconder. E é esse meu suor usual que me entrega sempre, é esse respirar ofegante de quem perdeu a guerra, e você arranca de mim o que quer, e me lê em braile: você sabe quem eu sou de fato. Eu me pergunto, e se for? E se assim for, nada vai mudar, porque é assim que você me quer, e é assim que eu te pertenço: naquilo em que ninguém mais um dia vai me atingir. É sujo o nosso amor, é disforme, quase vil. É este laço que nos cinge, é um nó que nos faz nós; nó na garganta, sufocante. É sem querer, é ser apenas. Ser somente, ser a sós. É assim nosso amor, e eu me pergunto, até quando? Pra sempre e até, enquanto durar a madrugada.

quarta-feira, outubro 12, 2011

Meio Ambientalmente Perverso

Toda sorte de poder que lhe sobe à cabeça
E a riqueza exorbitante, enquanto o fraco feneça
Tudo isso que te faz peça fundamental
Dessa selvageria sustentavelmente boçal

Tuas virtudes se perderam na roda da obsolescência
Fez-nos réus amordaçados, adestrados à anuência
Nos trouxe de volta ao estado de animal irracional
Aquiescidos a uma verdade ecologicamente brutal

Depravação naturalmente reciclável
Corrupção biologicamente reutilizável

quinta-feira, setembro 29, 2011

Instante

Talvez eu queira mais do que saber a cor dos seus olhos; talvez eu queira aprender a interpretá-los; talvez eu queira mais do que saber teus passos, talvez eu queira entender o que te move; talvez eu queira mais do que saber o nome de cada pessoa com quem você anda, talvez eu queira entender o que te leva a amar; talvez eu não queira ouvir as reclamações sobre teu chefe, talvez eu prefira ouvir sobre teus medos; talvez eu não queira saber de tua euforia, talvez me importe mais saber o que te faz feliz; talvez eu não queira te ver satisfeito, talvez eu queira te ver se questionar; talvez isso seja egoísmo, talvez seja só uma forma estranha de sentir amor; talvez eu não queira tua resposta, talvez eu queira iniciativa; talvez eu não queira prazer contigo, talvez eu queira teu calor humano; talvez eu não te necessite, talvez eu te queira; talvez eu não te queira, talvez eu te necessite, sim; talvez eu goste de sentir a tua dor, talvez eu acredite que isso nos torna melhor; talvez eu queira ser mais do que mais um na sua agenda telefônica; talvez eu queira mais do que ser um telefone gravado na memória; talvez eu queira ser mais do que uma obrigação; talvez eu queira mais do que ter amigo, talvez eu queira reciprocidade; talvez eu queira ser mais do que eco, talvez eu queira que minhas palavras sejam alimento. Talvez eu queira mais do que você pode me dar. Talvez eu queira mais do que você pode ser. Talvez eu queira demais; talvez eu não queira mais nada.

"Não quero sugar todo seu leite, nem quero você enfeite do meu ser, apenas te peço que respeite o meu louco querer (...) " - Nosso Estranho Amor, Caetano Veloso

sexta-feira, setembro 23, 2011

Nostalgia

Um aroma nostálgico. Nada mais foi preciso, e lá estava eu tentando por minha cabeça pra funcionar. Nem me lembro bem onde eu estava, mas eu me lembro de fechar os olhos tentando usar todas as energias do meu corpo pra voltar no tempo a um momento em que a sua mão estava sempre ao meu alcance. Eu devo me sentir culpada só porque, àquela época, eu não sabia o que era amor? Desculpe, amor, mas a saudade não é só de você. Eu me lembro de sorrir sem saber por quê, e de muitos amigos dormindo amontoados, só porque ficaram conversando até tarde. Me lembro de chocolates e refrigerantes na sacola, enquanto alguém usava pela primeira vez um cartão de crédito. Me lembro de uma fila enorme, de algum incômodo e, depois, de muita música e euforia. Me lembro de algum pedido de desculpas, de um olhar frágil de uma falsa segurança, de alguma maquiagem verde e de um beijo tímido. Me lembro de uma tevê ligada nos Simpsons, enquanto seu colo me servia de travesseiro. E eu me lembro da chuva, sempre. O tempo passou, e com ele muitos amores, e muita esperança também. Alguns sonhos se foram até rápido demais, e até a saudade é cruel, vindo de supetão e só deixando o gosto amargo de algo que perdeu a validade. Eu achei que ser feliz tão intenso iria me servir pra sempre. Achei que ser amor tão grande ia me bastar enquanto eu estivesse só. É claro que voltar no tempo significa regressão, e é claro que eu não pediria por isso. Mas porque crescer assim, se meus olhos se tornaram amargos e ainda é tão cedo? Eu me lembro bem de como eu abria meu coração, e você e todos os outros me ajudavam a recolher as peças e botar tudo no lugar. Desta vez, amor, eu abri meu coração, mas quando fui fechá-lo novamente, faltavam muitas peças. É que eu me esqueci de me certificar de que alguém iria juntá-las por mim. E o pior de tudo é que eu não consigo mais alcançar as suas mãos.

quinta-feira, setembro 22, 2011

Intenção

Eu pressiono uma mão contra a outra, entrelaço os dedos e é uma forma de me convencer que eu estou me agarrando a qualquer coisa que seja. Eu tenho algo em que me apoiar. Talvez eu esteja fazendo tudo isso errado, metendo os pés pelas mãos. Talvez eu até goste de andar no escuro, mas vez e outra essas vozes estranhas, bastardas, indefinidas, me fazem lembrar do quão longe eu estou do chão. Mas eu estou acima, e daqui o horizonte não se perde. Porque não é o suficiente?

E se tudo isso soa inconsequente, como uma criança brincando de roleta russa, eu te digo que os meios justificam os fins.

segunda-feira, setembro 19, 2011

Inacabado

Essa necessidade incansável de terminar cada projeto que te vem à mente. Larga de tudo isso, de toda essa pretensão, e reconheça que você muda mais do que pode perceber. Cada projeto que você inicia, cada nova aposta, é algo que te transforma. E não importa se você muda de ideia antes de chegar no fim. Sabe quando você era criança e queria abraçar o mundo? Você não é mais assim, mas aquilo te fez o que você é hoje. Não se apegue tanto, não se prenda, não se amarre assim. É só uma necessidade de provar algo pra mais alguém, não é? Admita. _E você adora dizer que não se importa!? Balela.

Tudo aquilo que você quer jogar pro alto, todas as pontas soltas, todos os i's sem pingos, se isso não importa mais pra você, não tente consertar. Jogue fora, arrume um novo, permita-se reinventar-se. No meio de toda essa história você já mudou de ideia meia dúzia de vezes, e já imaginou começos, meios e fins diferentes, e nada disso foi definitivo, porque cada um desses pensamentos foi transformador. Pare de  buscar respostas definitivas. Quando você parece estar encontrando o fim da estrada, ela se bifurca e você se vê perdido de novo. Pode soar cliché, mas o teu passado está presente o tempo todo, cada presente é fruto de um pretérito. Às vezes distante, às vezes nem tanto.

Você não precisa cumprir todas as suas promessas. Não precisa manter sua palavra sempre. Nem pra você mesmo. Quem te disse que o nome disso é amor próprio?

Meu

Eu só posso alcançar aquilo que me pertence. Só consigo agarrar aquilo que é meu. Eu não quero isso de outro. Eu não quero isso de mais ninguém. E se você me disser que não quer nada disso mais, que nada aqui é meu, se hoje você se despedir, eu não vou procurar isso em mais ninguém. Eu vou sofrer. E vou permanecer só. Mas isso não significa que eu estarei esperando por você.

Eu preciso mais do que meu, eu preciso nosso.

quarta-feira, setembro 14, 2011

Carrossel

E enquanto tudo parece mudar, nada, de fato, sai do seu lugar.

Intuitivo

Depois de começar uns três textos e abandoná-los no meio do caminho, tenho que confessar que você foi a única coisa que realmente me inspirou a escrever nessa madrugada. Você, melhor do que ninguém, entende essa minha mania de querer me fazer entender, então eu gostaria de deixar claro que você é importante pra mim.

Sabe aquela história de 'conscientemente feliz'? Então, é exatamente por isso que eu digo que você é importante. É porque pra mim isso é mais do que eu simplesmente dizer que te amo. Você é importante pra mim porque você me ajuda a crescer, a amadurescer, e você me dá, constantemente, novos pontos de vista, novos assuntos a se pensar. Talvez você não vá gostar disso, mas "eu te admiro". Sim, é isso mesmo, e não comece a negar mentalmente. Você é uma pessoa incrível. Mais incrível ainda por se dar conta de que, ainda assim, sempre se pode melhorar. E não seria injusto te comparar com os grandes, porque você, definitivamente, tem potencial pra chegar lá.

E eu confesso que quando eu sinto de verdade, eu paro de avaliar um pouco. Mas ainda assim é fácil ver como sua atenção me faz sorrir, e a reciprocidade que eu sinto quando eu demonstro fazer questão de você. Também gosto do seu cuidado, ou de quando você me manda uma mensagem avisando que não vai estar lá. E tudo isso me deixa conscientemente feliz. E do teu lado eu só faço sorrir. E penso, claro, que somos doentes mentais. Às vezes eu acho até que sou mais engraçada e desinibida junto de você.

Claro que às vezes me pergunto o porque de tudo isso. Porque gosto tanto de você. E tudo o que consigo pensar é que é algo natural. Gostar de você é intuitivo. Não precisa ser consciente: acontece. Mas eu sou conscientemente feliz com tua amizade. Conscientemente te considero importante.

E, conscientemente, tenho medo do tamanho da saudade que irei sentir quando você se for. E quanto à sua partida, isso me parece conscientemente, intuitivamente, metalingüisticamente (a gente entende, risos) assustador!
Sabe aquele texto que você lê e depois tem certeza de que entraram no seu corpo e leram sua mente? (risos) Então:


"Nada mais clichê do que se achar diferente por constatar que somos todos iguais. Nada mais ignorante do que se considerar inteligente por enxergar isso. Nada mais cansativo do que repetir isso aqui; mas escrevo pra poder acreditar, pra ver se deixo de achar todo mundo babaca, porque é isso que me sobra."

Karolina Figueiredo
Eu sinto quando eu digo. Isso arde. Chega a doer. Mas só existe enquanto em meus lábios. Quando tua boca se despede, tua verdade se esvai.

segunda-feira, setembro 05, 2011

Em mim

Quero me despir da tua falta e me vestir do gosto da tua boca. Quero teu cheiro na minha circulação, teu suor nas minhas veias. Te quero fazer parte de mim, solúvel e inseparável. Te quero em mim. Quero teu nome escrito na minha pele junto com um par de palavras indecifráveis. E só eu vou saber que elas significam dependência e amor, assim, nessa ordem.
Em nós dois não há lugar para essa falta. Sou tão junto de ti, tão junto. Meu pensamento é tão perto do teu.

domingo, setembro 04, 2011

Rehab

O dia está feio lá fora. Faz frio, ameaça chover e o vento não está soprando amigável. Ainda assim eu quero sair, pois eu não suporto mais estar preso aqui. É triste quando o que te prende é a tua própria solidão, estar só e não gostar do que vê.

Eu te amei. Eu fui você por muito tempo. Eu te vivi. E você me foi exatamente como uma droga: a gente começa gostando do que é, daí a gente percebe que não é mais a gente mesmo. Tudo o que eu fiz foi perder quem eu sou pra poder seguir seus passos. Perdi a capacidade de julgar ou de tomar uma decisão sozinho. Escolher te viver: essa decisão foi fácil, afinal, eu nunca fui exatamente o que eu gostaria, e ter que lidar comigo mesmo sempre foi um pouco amargo. Difícil foi ver que você não era dependente de mim como eu fui de você, e agora eu perdi o jeito de ser eu mesmo.

Eu vou me abster de você. Esse dia cinza é o início de uma reabilitação. Vou limpar meu sangue dessa tua toxina, tirar teu oxigênio das minhas veias. Vou despir meu corpo de você e te apagar de todo tipo de memória que possuo. Esse silêncio todo eu vou ocupar com alguns CD's de qualquer coisa que não seja você. E essas lágrimas, eu vou deixar que escorram. Quem sabe elas não transformem em desprezo essa coisa doentia que um dia eu chamei 'Amor'?

sábado, setembro 03, 2011

Eu inventei tudo isso pra te convencer. Você acreditou tanto que juntou as mesmas armas e usou-as contra mim. Falei de razão, de franqueza e de olhos-nos-olhos, e você me doeu tanto ao me atirar todas essas verdades. Pare por um momento e entenda que eu me fingi de fortaleza e disse que poderia aguentar. Mas é muito passado pra pouca transformação. E os seus olhos nos meus doem, mas é tudo ilusório. Isso tudo não te dói, não te fere. Nada disso te sente dia nenhum. E agora eu sou constantemente atormentada por esses fantasmas que vêm pra me lembrar daquele ponto onde eu costumava errar. Por favor, parte agora que eu não te posso mais suportar. Eu quis ser racional. Você o foi.

Não dói assim em mim que esse peito não te cabe, dor.

quarta-feira, agosto 31, 2011

Querer

Você é leve como um dia sem aula e sussurra suave como um filme em preto e branco. Seu beijo é doce feito chocolate, e seu toque, marcante, feito pimenta fresca, que traz uma explosão agressiva de sabor e que deixa rastros picantes por um longo tempo. Sua lembrança é dolorida no meu sonho, porque quando acordo é que a saudade de ti se concretiza.

Eu te quero. Quero como uma fornalha ardente.

domingo, agosto 28, 2011

Essa saudade que não acaba. És muito amor pra pouco tempo.

Preto no Branco

Onde és calmaria, sou aflição
Onde és inverno, sou verão
Onde és indulto, sou danação
Onde és terra firme, furacão

Onde és perdão, sou mágoa
Onde és folga, sou labuta árdua
Onde és gelidez, sou frágua
Sou tempestade onde és copo d'água

Onde sou sedução, tu és candura
Onde és liberdade, sou ditadura
Onde és temor, sou bravura
Onde és leveza, amargura

Onde és apatia, sou ardor
Onde és perita, sou amador
Onde és desdém, sou teu valor
Onde és negação, sou teu amor

sábado, agosto 27, 2011

Armadura

A raiva me cega.

Mas isso é normal, acontece com todo mundo. Mal me faz a raiva que me emudece, e isso é o pior. Exatamente quando meus argumentos têm mais força eu não consigo expressá-los, pois sei que junto virá um amontoado de palavras com pura intenção de causar feridas, e eu não quero fazer disso uma guerra_ e, se for, Deus, eu me encontro desarmada pela minha própria cólera_. Mas se eu digo com palavras pacíficas, sinto que estou me anulando. E se eu insisto em falar, sou traída pela minha própria sensibilidade: nos lábios, reclamos. Nos olhos, lágrimas.

Há momentos em que eu gostaria de que a minha mágoa durasse mais, só pra que eu conseguisse racionalizá-la a tempo e então desse conta de expressá-la e, simultaneamente, senti-la.

Mas, enquanto não consigo, faço do silêncio minha melhor armadura.

[...]

sexta-feira, agosto 26, 2011

Incognoscível

Você já se deu conta de que entrou sem minha permissão? Eu não estava preparada pra te receber em minha vida. Tudo estava meio fora do lugar. Você já sabia e não se importou. Ao invés disso entrou trocando as coisas de posição. Trocou até as fechaduras. E agora eu estou meio perdida nesse amor. Nem sei mais abrir todas as portas no meu coração.

Falar de amor pode ser fácil se você não sente. Mas ninguém consegue amar e explicar ao mesmo tempo. A M O R. Muito pouca letra pra tanta pretensão. E vivem dizendo que amor não tem definição. Mas, se não há definição, como é que vou saber se é amor tudo o que eu sinto? Vou tentar explicar e, se você não entender, me desculpe, essas são só palavras de alguém que perdeu o domínio sobre o próprio coração.

Você me desperta os sentimentos mais clichês possíveis, ao mesmo tempo em que me causa as sensações mais desconhecidas. Eu preciso confessar que você me subjuga, mas isso é tudo o que eu gostaria de negar. Eu mentiria se dissesse que eu preciso de você. Mas eu te quis. Quis tão difuso que meu corpo reage como se fosse uma necessidade. Borboletas no estômago.

Você sorri quando eu te beijo e eu durmo pensando que você me ama. Qualquer harmonia enternecedora, qualquer par de notas dissonantes me faz querer dançar com você. Não é exagero nenhum dizer que você está presente em quase todos os pensamentos que eu tenho. Eu olho para as estrelas durante a curta caminhada que faço diariamente retornando pra minha casa, e eu sempre desejo poder segurar sua mão enquanto eu faço isso. Em algum lugar bem longe, sem ter que responder por nada. Deve haver algum lugar por ai em que só haja espaço pra nós dois. Algum lugar em que o tempo passe mais devagar. Porque eu sei como a saudade de você parece doer no corpo.

Não mude sua forma de falar, seu jeito calmo, ou seu gosto musical. Não mude sua postura, ou a forma como você demora pra perceber que eu quero um elogio ou um beijo demorado. Me encha de expectativas e continue a me surpreender. Continue me assustando, fazendo planos, e não acreditando em tudo o que eu digo. E eu vou continuar te amando. Porque nada disso é condição pra eu sentir o que eu sinto por você. Você tem minha paixão declarada.

E se, em algum momento, eu te interromper, pedir pra te olhar nos olhos, e depois disser que te amo, saiba que esse texto é só um trecho do que meu coração luta para expressar.

Roleta

Se você gosta de correr riscos, comece agora fazendo suas apostas.
Você pode ter o benefício da dúvida, mas eu sempre terei a incerteza como um malefício.
Portanto, quando encontrar o final do seu caminho,
Não se supreenda se eu não estiver te esperando na chegada.
Nós não fomos feitos um para o outro. E sequer fomos capazes de nos merecer.

Pseudônimo

Escondi teu nome pra te proteger, culpado ou inocente. Eu te isentei de qualquer julgamento. Mas isso me custou te dizer adeus. E eu não quis mais saber de ti. Sim, eu me escondi da tua verdade. É um risco que estou correndo. Eu estou caminhando na corda bamba e eu sei bem o chão que me espera se eu pisar em falso. Mas não importa se eu sei que vou cair. Isso não suavizará o estrago quando eu alcançar o chão.

Posso saber em que chão estou pisando, mas isso não me torna nem um pouco mais forte.

As dúvidas não foram esclarecidas e os pecados não foram perdoados. E nem todas as perguntas tinham mesmo respostas. Mas ainda antes que você tivesse tempo para pensar em alguma justificativa, eu te pedi pra partir. Não pedi tuas desculpas. Não te dei nenhuma chance de contra-argumentar. Eu nunca soube se você foi culpado ou vítima, mas as circunstâncias exigiram-me uma maturidade que eu não possuía.

Abdiquei da razão, ao mesmo tempo em que abri mão da felicidade. E nada me restou. Nada além de umas canções nostálgicas e do cheiro da chuva que sobe no ar, e que sempre me levará até você. E eu vou me lembrar com um pouco de mágoa, um pouco de dúvida, mas sempre com algum carinho.

E se você me pergunta, eu respondo: Sim, nosso amor vai ficar pra mais tarde.

quarta-feira, agosto 24, 2011

Fora dos Planos

Estou aqui há um tempo, parada, pensando em escrever sobre ti. Mas tudo o que me preenche agora é a falta de você. Larga tudo e vem me dar um beijo. Eu te quero como nunca quis a ninguém. É isso que eu chamo de lugar comum, mas estou disposta a me render se for por você. A tua presença se materializa em cada vislumbre meu de futuro. Enquanto tudo a minha volta se desfaz, você parece ser a única coisa que me é concreta.

Caminhe. Dê teus passos. Mas, se possível, não me deixe para trás. E que não seja uma necessidade. Mas uma escolha.

terça-feira, agosto 23, 2011

See ya Later

I came here to say goodbye. This is for you, who perhaps will miss me. But don't worry about it. Someday I'll come back. And this day won't take so long. But, only 'cause I believe you'll miss me around here, I'm leaving for you a love message. And during this time, I won't be here. Instead, I'll waste my time right there at your side, cause this is more important to me now. I'll spent every single possible moment right by your side, to make grow up our friendship, and to make your face clear in my mind, so I can remember your face, your smile and your single way of making jokes. And that's gonna make me happy for a long time _ but it'll never gonna be enough.

sábado, agosto 20, 2011

Pessoas São Como Roupas

"Não foi fácil ficar sem você. Alguns enjoos e um pouco de vômito me acompanharam no início, mas depois só sobrou a mágoa. E em seguida inveja.
Mágoa por ter desistido tão rápido de mim.
E inveja por ter conseguido."


Por @ma_b. Trecho extraído do texto "Pessoas são como roupas" do blog O Diabo Veste Renner.

Carcaça

O que eu digo nem precisa fazer sentido se você não quer ouvir. De qualquer forma você vai distorcer as minhas palavras. Eu faço tudo o que posso para não ser hipócrita. Mas acho que a hipocrisia nunca esteve tão em alta. É a peça da estação. E vem sendo assim já há muitas estações.
A hipocrisia é bonita, não? Afinal, as pessoas estão mais preocupadas com o que aparentam ser para ocultarem dos demais a podridão interna. Não permitem que ninguém veja suas sujeiras pra não se sentirem fragilizados e poderem apontar a fraqueza dos outros.

E vem sendo assim há um tempo. Eu te digo meus defeitos e meus sentimentos feios, me exponho e te aponto diretamente meu calcanhar de Aquiles. E tudo o que você faz é pressionar justo naquele ponto só pra me assistir desmoronar e pra me dizer o quanto eu sou frágil e má por ser assim. É, posso até ser um lixo, mas eu não escondo isso de ninguém. E você nunca poderá dizer que eu te iludi e te enganei pra te manter preso a mim. Você conhece a minha carcaça e o meu interior. Mas e você, o que é?

I don't give a damn

Quando você se importa com o que as outras pessoas dizem/pensam/fazem em relação a você, você está apostando alto, pois está colocando uma boa parte de sua felicidade nas mãos delas. Logo, está adicionando à sua satisfação pessoal uma infinidade de variáveis que estão totalmente fora do teu controle.
A partir do momento em que você se importa, só se sente satisfeito quando as pessoas pensam de você o que você espera. E as chances são pequenas. Até porque, mesmo que você mereça, o julgamento das pessoas no geral é bastante dubitável.

quarta-feira, agosto 17, 2011

Io ho Sete di Te

Tu sabias exatamente como matar minha sede.
E por isso mesmo eu tinha cada vez mais sede de ti.

quinta-feira, agosto 11, 2011

Contracenar

Você é fácil de manipular. Depois daquela briga eu jurei nunca mais tocar no assunto, daí quando você voltou pra me ver, só pra ter certeza de que estava tudo certo entre nós, eu forcei um silêncio e alguns sorrisos sem-graça, só pra te fazer perceber que eu estava engolindo um aglomerado de contestações. Eu fui injusta, fingi que iria esquecer só pra você pensar que eu merecia que você reconsiderasse. É fácil manipular as pessoas, e a gente faz isso até mesmo sem perceber. Só que eu faço tudo isso conscientemente, e isso me faz querer vomitar.

Mas eu não quero que você seja assim, fácil de dominar. Você não!

E toda a pose que você faz de dominador nessa relação é puro teatro, porque no fim você sempre faz o que eu quero. E se você aceita o que eu te digo, como se eu fosse alguém pra te dizer o que fazer, eu perco a vontade de você: você não vale a pena.
 E eu não valho nada por pensar assim.

E se algum dia eu te pedir pra partir, você irá embora só porque eu quis assim? Acho que você iria. E então, mesmo sem querer que você se fosse, eu o deixaria ir, só por saber que você não me ama o bastante pra ficar por perto. Talvez um dia eu faça assim, só pra ver se você passa no teste ou não. Isso mesmo, um teste.

A vida é um teatro. E no meu mundinho, eu escolho quem vai contracenar comigo.

Sempre

O tempo passa e a gente não para de repetir essa palavra. Pra sempre é muito tempo. Aliás, se for pensar bem, Pra Sempre é ausência de tempo. As pessoas nos dizem que isso não existe, mas no início a gente resiste em acreditar. Depois a gente vê com os próprios olhos o eterno se desmanchar. E ainda assim a gente continua a repetir que as coisas que queremos que durem serão pra sempre, como se isso estivesse mesmo ao nosso alcance. E, mesmo quando a gente aprende, a gente continua dizendo, fingindo que tem esperança. É, a gente finge bem. E acho que a maioria de nós vai continuar repetindo isso pra sempre.
Será?

Controle

Já fazia um bom tempo que niguém me fazia emergir de meu tédio usual, e quando eu saí de casa não esperava que algo fosse mudar. Há muito que perdi a esperança nas pessoas, então, sair com meus amigos era só uma desculpa socialmente aceitável pra eu poder beber e conseguir me distrair do meu cotidiano pacato e plácido. Mas a verdade é que eu gosto assim. É vazio, mas é seguro. Eu já sofri uma vez e não quero de novo. Então eu me vesti de minha melhor roupa e, junto, de uma personagem que gosta de impressionar. Saí de salto alto como quaisquer dessas garotas, só pra me ajustar e parecer normal. Eu até que fingia bem, mas no fundo tudo a minha volta parecia pequeno e irrelevante.

Entrei no bar. Comi. Bebi. Sorri. Dancei. Fiz tudo o que manda o figurino. E no final da noite eu me deparei com os seus olhos alheios e atentos a um violão coberto de adesivos, dando ar de quem tem muita história pra contar. 'Sério? Poderia eu ter sido mais clichê?', perguntei-me várias vezes seguidas, 'O carinha da banda?'. Bebi mais pra tentar perder a capacidade de prestar atenção em qualquer coisa, mas isso só me deixou mais vulnerável.

Não me pergunte como tudo aconteceu, mas a gente se beijou e você me levou pra sua casa. Eu me lembro vagamente de alguns pôsteres de bandas de rock de todo o tipo nas paredes. Caramba, você fazia exatamente o tipinho 'músico'. E o seu beijo me fazia tremer. E eu nem sabia que isso poderia acontecer de verdade.

Isso era meu corpo me avisando que eu estava perdendo o controle.

Nos vimos três fins de semana seguidos naquele mesmo bar, e depois na sua casa, e eles bastaram pra eu perceber que você era melhor do que eu esperava _um pouco imprevisível, surpreendente, até. Arriscado demais_, e no quarto fim de semana, no bar, você dedicou a primeira música a mim, dizendo que era 'pra alguém especial com quem você gostaria de dividir muitos fins de semana mais'. Tive certeza naquele momento: eu estava me apaixonando. Mas quem sou eu pra falar de amor? É melhor assim: eu estava me rendendo. Fomos pra sua casa, você me surpreendeu como sempre e deleitou-me, e as últimas palavras que disse antes de dormir foi: 'fica aqui amanhã pra passar o dia?'. Eu sorri e disse: 'Claro, querido'.

Esperei pacientemente você pegar no sono e depois esperei você dormir mais profundo. Juntei minhas coisas, me vesti, peguei teu celular, apaguei da tua agenda o meu número e, junto, todas as mensagens ou ligações que pudessem contê-lo. Fiz um lembrete mental de nunca mais retornar àquele bar. Depois gravei teu rosto na minha memória, pra poder lembrar enquanto fosse capaz, pra ter um ou outro motivo pra sorrir sozinha. E depois parti, sabendo que você não me acharia mais, e que você nunca mais iria me desestabilizar ou me subjugar com um simples toque. Aquilo pra mim era submeter-me demais.

E isso era eu recuperando o controle.

quarta-feira, agosto 10, 2011

Queria (Carta pra ninguém ler)

É raro eu usar esse espaço para falar de mim, e talvez os sentimentos que me arrebatem nessa etapa de minha vida possam soar repetitivos demais para tanta ânsia de escrever. Mas esse texto _provavelmente como os demais, de qualquer forma_ não contará com forma e, pra maioria das pessoas, sequer com conteúdo. É só um lembrete pra mim mesma de como eu cheguei perto da felicidade.

Eu amo fotografias, e nem preciso dizer que é pela capacidade que elas têm de gravar momentos bons. E foi olhando um amontoado delas que me lembrei de tudo o que eu vivi e, Deus, como eu queria poder reviver aquilo. A essa altura até mesmo o sofrimento, a pena, as noites sem dormir e as lágrimas me soam totalmente valiosas. Eu sei a importância e a dimensão que dei a tudo o que vivi. Mas parece que eu perdi o jeito. Hoje em dia, sob meu olhar, (quase) tudo parece pequeno demais. Talvez eu quisesse mesmo era pegar no tranco de novo e conseguir sonhar, pensar que todo mundo é bom e achar que todos os momentos comicamente idiotas são importantes. Mas por um momento eu queria me sentar com os meus amigos num horário de almoço em volta da mesa do professor e conversar sobre todos os assuntos possíveis, desde as coisas mais substanciais até polêmicas absurdamente triviais. Queria de novo me sentar em volta daquela mesa e ver alguém colocando seu sentimento ou segredo em mesa redonda pra que todos nós soubéssemos e ajudássemos. Era bonito a forma como a gente confiava. E era sincero. Queria ver também a forma como a gente perdia a vergonha quanto estava junto. Como falávamos sem tabus ou hipocrisia. E todo e qualquer assunto se tornava leve. Queria por um momento ser infantil de novo sem me envergonhar e correr pelo corredor da escola com o Cacá, o Titim, o Matheus e o Welton gritando 'Pisa no veeerde, Bia'. Queria dar aquele abraço múltiplo nas meninas e fazer voz de criança dizendo o quanto elas eram lindas. Queria me sentar ao lado do Jojô e junto com a Bia ficar provocando-o até que ele largasse de ser tão polido. Queria ver de novo o Kuem parar a mim ou a alguma outra garota no meio do corredor pra dar suas cantadas ridiculamente engraçadas, ou ver o Luís me parar pra ler um poema pra mim. Queria de novo assistir à aula de alemão com o Ramón de um lado e o Deyvisson do outro fazendo palhaçada. Queria, até mesmo, ter a chance de, de novo, brigar com o Primo com os olhos cheios de lágrimas dizendo que ele não deveria ter feito aquilo por que, por uma tolice, ele estava indo embora agora. Queria ver de novo o Marquinhos e o Rérisson fazendo o protesto da bunda amassada no meio do refeitório, ou o Lucas e o Chuchu me explicando como equilibrar o universo. Queria ver de novo a Nanda trazendo nas costas o violão e eu sabia que o dia ia ser ótimo. Queria tanto brincar de mímica no meio do pátio, ou de Improviso com a Thamiris e o Willy. Queria tanto viver de novo cada Quinta Cultural, fosse ela na quinta, na terça ou na sexta. Cantar aquelas músicas de novo. Queria tanto entrar naquela topic mais uma vez e ouvir as músicas que, sem querer eu já sabia de cor, e todo mundo junto dançar, cantar, gritar, contar piada, fazer bagunça, brincar de troca _menos com o João porque ele era terrível e deixava a gente constrangidos, hahaha_, fazer festa da topic e pensar que nós éramos a melhor turma-de-topic, like, ever! Queria tanto ter compartilhado aquelas dores de novo e sentir que ajudei. Ou quem sabe até mesmo ver o Batata apostando uma Coca que nunca mais falaria comigo. Queria estar na cozinha e olhar pra fora e vê-lo me chamando só pra me abraçar e me pedir desculpas. Queria tanto dançar tango de novo com ele. Queria os churrascos da topic, ou as resenhas pra ver os jogos da Copa. Quem diria, queria até mesmo recuperar e poder dançar com um velho amigo. Ah!, queria que esse velho amigo não tivesse destruído uma de minhas maiores amizades. Essa é a única parte que eu queria que fosse mentira. Queria as viagens de novo. META, Semana C&T, e as melhores, SBQs: Viçosa, BH, Juiz-de-Fora, e por aí vai. A sensação de liberdade e o dia inteiro com vocês. Queria as festas, as confusões, e até mesmo poder brigar de novo com quem bebesse além da conta. Queria de novo ouvir as conversas do Lucas e do Marcel, e só ouvir, pois não aguentava opinar de tanto que ria. Queria jogar UNO de novo com o Paulista só porque ele me cutucava quando ia jogar o 3-bate-a-mão. Queria almoçar Cachorro-Quente com o Maurinho e baconzitos com a Bia. Queria ir na padoca à noite pra comprar picolé de banana. Queria sentir de novo o cheirinho do CEFET à noite. Queria passar de novo horas no laboratório pesando reagentes enquanto o Otávio ria de mim. Queria ver de novo o Gui e o Renan cantando 'Pensa em Mim' e sentar na beira da casa da Bia e ser obrigada a ouvir pagode romântico. Queria incomodar o Fernando enquanto ele dava aula pro segundo ano, e ter longas conversas com ele e chamá-lo de pai enquanto via ele brigar comigo por qualquer pessoa do sexo oposto que chegasse perto de mim. Queria de novo espremer a Patty até que ela me contasse um de seus segredos. Queria bater papo com o Fábio e ouvir sua opinião sobre tudo, além de ter de novo aulas particulares de astronomia ou de relatividade. Ou até mesmo fazer rodinha no meio do refeitório com as meninas e o Sioufi pra falar mal de... bem, não posso dizer. Queria dormir do colo da Fafá. Queria cantar no coral da escola só pra ir nos ensaios e ficar rindo do pessoal e depois chegar em casa à noite e ficar, junto com a Bia, imitando todo mundo da escola e rindo. Queria sair no intervalo, no horário de almoço e até mesmo matar aula pra ficar do lado de fora da escola jogando truco. E depois, poker. Queria entrar naquela sala e me sentir em casa, sentir que gostava de todo mundo e que éramos (quase) um só. Ver que conquistamos afinidade e unidade. Queria dormir no meio da aula e acordar aturdida tendo certeza que, por aquela aula, eu iria me ferrar na prova. Queria tanto escrever cartinhas criativas e comprar chocolate pro amigo-Anjo. Queria fugir em plena terça, ou quinta à tarde pra casa do Filipe pra ver filme e comer porcaria. Queria ter feito mais piqueniques. Queria sair de novo pra Praça, feliz e debaixo do Sol quente pra tomar sorvete. Queria ver todo mundo dar a louca e fugir pra casa da Babu sem saber como, quando e com que dinheiro iríamos voltar pra casa. Queria tantas coisas de volta. Meu mundinho ali fechado, tão bom assim. Por último, mas não menos importante, queria ver os olhos verdes e confortantes da Babu e saber que ela tinha algum conselho certo pra me dar. Queria ver o sorriso de inconsequente da Bia quando eu propunha alguma coisa bem idiota pra gente fazer e a gente morria de rir juntas. Queria sentar ao lado do Juran e fazer palhaçada, só nós dois, enquanto todo mundo ficava incomodado com a nossa falta de preocupação e nossa falta de pressa em relação ao mundo. Queria ouvir o silêncio da Patty, como quem não está nem aí, e depois olhar pro rosto dela e ver que ela estava atenta a todos nós, com um sorriso bem disposto no rostinho e na ponta da língua um 'vamo jogar truco?'. Queria ver o João, diariamente, passar por um processo de quebra-gelo e rir da cara dele quando a gente provocava ele e quando a gente falava coisas que ele ficava assustado. Queria abraçar a Aninha de novo e sentir que ela me amava. Queria passar horas a fio junto com a Nandinha e disputar o violão com ela, dormir na casa dela e conversar até cansar. Queria brigar e abraçar a Fafá e ver de novo o tempo que levou pra ela entender que eu a amava. Queria cantar pro Tim as músicas que ele não gostava e ficar dançando pra ele junto com a Bia. Queria rir de novo da Grazi porque ela me fazia rir muito, e disputar a atenção dela com seus amores. Queria tudo assim, embaralhado e fora de ordem, como queira. Queria de novo tanto amor, no meio do corredor da escola, na escadinha, no refeitório, na varandinha, no chiqueirinho ou na porta da Tia Rose, queria tudo de novo, só porque dessa vez eu ia conseguir gravar tudinho na minha cabecinha e iria lembrar pra sempre, só pra não ter que chorar de novo de saudade.


"... Amigos de verdade olham fotos velhas e os olhos brilham de saudade enquanto o coração dói. E, por vezes, você nem sabe disso . "

Delírio

Ah,
Se a neve abrasasse em meio ao inverno
Se a chuva caísse contra a gravidade
Se a brisa sobre o rosto fosse violenta
E o Sol, sobre a pele, arrefecedor

Ah, se eu tivesse você
Se a tristeza fosse motivo de festejar
E a morte, severa, causa pra sorrir
Se a guerra nos desse gozo e justiça
E a natureza, fustigada, vida e evolução

Ah, se eu tivesse você
Se o mundo virasse de pernas pro ar
Quem sabe assim esse teu coração
Trepidado e invadido por tanto desatino
Decidisse, então, abrigar o meu

Ah, se eu tivesse você

I Better Run

I looked around and for a moment I realized that I don't trust you anymore. Maybe I never did. And maybe I never will. And, since this thought came through my head, I've been loosing every single clue of peace, and during the whole day this feeling crosses my heart and I can't even account. So I should go now so I can have a life again. I want my dignity, I need any drop of pride so I can love again. There's no reasons enough for me to stay and that's enough for me to go. So I'm leaving. I'm sorry if I'm not sayin' goodbye to you, but this letter is cause I better run now, before I lose my courage. Moreover, you don't deserve it at all. You're not that worthy.

sábado, agosto 06, 2011

Sobre Liberdade

Você diz que ama, e que ama tanto que protege. Você não sabe o que é amar. Você construiu uma redoma e ali despejou o objeto de seu amor, convencendo-o de que o nome disso era cuidado. Mas a verdade é que quem ama dá asas, pois o que te pertence não parte enquanto teu. E no frigir dos ovos, não há nada aqui que te pertença. E tudo o que você faz é encarcerar alguém à sua volta por pura insegurança. Tem medo de soltar as amarras e ver esse alguém fugir desesperadamente de ti. Desate o nó. Veja como as pessoas se comportam. As que partirem simplesmente não te querem o bastante. Mas não prenda, deixe que as pessoas se acheguem a você. Não espere que as pessoas se sintam presas a você e que se sintam bem ao seu lado, simultaneamente. É um ou outro. Não busque quem te ame por não dispor de outras opções. Espere por alguém que se entregue a você e que se deixe possuir. Isso, claro, se você se vê merecedor de tal esforço.

Overfeeling

É essa sensação que tenho de dar dimensão extra a minhas sensações, querendo que tudo seja grandioso e que possa servir para outrem. Porque todo bom drama deve ser trágico, todo bom romântico deve morrer de amor, porque todo grande amor só é bem grande se for triste, porque todo bom poeta vive de sentir. E se não sinto, que mais faço? E da pacatez do meu dia-a-dia ressalto as poucas lágrimas que choro e os raros sorrisos carregados de significado. Faço de tudo um bom teatro, mesclo com uma pitada de ironia de mim mesma e isso basta pra minha caneta obediente sobre o papel.

E cá estou eu mais uma vez alimentando essa dor, sentindo-a exageradamente, "overfeeling it", porque de todos os sentimentos o que mais temo é o torpor, a ausência de sentir. Manipulei tudo à minha volta para que pudesse estar, agora, sozinha e completamente sem apoio. Não há uma voz sequer para me confortar num raio de uns três quilômetros. Não há ninguém para quem eu possa ligar a essa hora da madrugada. E é assim que eu gosto de sentir a minha mágoa. Sozinha, sem dividi-la com ninguém. E eu vou destrinchando-a até que se torne insuportável, até que ela entorne em forma de palavras, até que eu aprenda algo com ela, até que eu seja obrigada a virar numa das curvas desse caminho em busca de um retorno mais suave, sem sequer me dar o direito de pedir ajuda. Sofro sozinha esperando que isso me faça crescer. E se eu crescer um dia, do que isto me serviria? De poesia, quem sabe.

Um bom poeta gosta de sofrer, e talvez sinta que é melhor sofrer do que não sentir nada. O sofrimento não é qualquer: é grandioso, é épico. E essa sensação de overfeeling, que me motiva a escrever, faz-me valorizar a minha dor, porque esta me serve de inspiração.

sexta-feira, agosto 05, 2011

Amor por Transferência

Olhei bem e ele tinha o teu sorriso, e essa tua forma torta de fazer piada de tudo, essa inconsequência tão tua no jeito de sorrir. Olhava para ele e só via você. Ele era um estranho para mim, e você, nada mais que meu melhor amigo. Você estava longe, e ele tão perto de mim. Me sentia uma idiota, mas toda vez que olhava pra ele esperava encontrar você. Não consegui fugir por muito tempo e acabei dando jeito de conversar com ele, só pra ver se achava aquela parte que tanto amava em você. Quem sabe ele tivesse as mesmas coisas bonitas pra dizer? Quem sabe ele tivesse as mesma idiotices pra me fazer sorrir? Quem sabe ele quisesse dançar tango comigo no meio da rua? Busquei você. Achei foi muitas lágrimas de tanto lembrar de ti por tantos dias seguidos. Durou tão pouco e eu vi que ele não tinha a tua essência. Só a casca era parecida. Mais uma vez me assegurei de que nunca encontraria alguém como você.

Pronome Possessivo

À noite chamei pelo seu nome, como fazia sempre, enquanto sonhava contigo. Você me acordou, perguntou se estava tudo bem, me abraçou e conversou comigo. De todos os sentimentos que esperava sentir naquele momento, fui invadida pelo mais improvável: saudade. E intensa. Uma saudade forte de você, e de nós dois. Não sei se foi culpa da madrugada ou se era o barulho da tua voz que me impedia de enxergar o que estava havendo, mas desisti de raciocinar e peguei no sono. Na manhã seguinte eu acordei e me esqueci do que havia acontecido. Mais dois dias se passaram sem que nos falássemos direito e estava tudo bem. E então você me chamou pra almoçar e eu saí do escritório com o mesmo humor de quando ia almoçar sozinha. Mas foi só me sentar ao seu lado e olhar fixamente para seu rosto esperançoso que me dei conta: sentia saudade de você. Não quando estava longe, mas quando estava perto. Quando estava longe eu nem me lembrava, e isso era preocupante. E quando estava perto, a saudade no meu peito não era a causa de uma necessidade devoradora e insaciável, que não era atenuada com sua simples presença, como já havia sentido um dia. Era saudade do passado ao qual você me remetia. De quando éramos bons juntos, e de quando você me causava mais arrebatamento do que tédio. Meu olhar estava desfocado e você me chamou a atenção para o presente e me olhou bem no fundo dos olhos. Por essa eu não esperava: você ainda conseguia ler meus pensamentos. Enrusbeci, e me senti como uma criança pega comendo a sobremesa antes do almoço. Olhei em volta, comentei sobre como o bistrô era original e interessante, mas não era uma tentativa de disfarçar _afinal, você já havia lido nos meus olhos_, e sim uma tentativa de adiar a verdade inevitável: era o fim. E pior ainda: já havia passado da hora. De agora em diante não havia opção de saída em grande estilo. Não haveria lágrimas desesperadas, nem ligações no meio da noite, nem flores no escritório com pedidos de desculpas. Sem drama algum. Só uma separação fria enquanto meu coração procurasse por algo novo por que valesse a pena bater.

Lembrei-me então do meu sonho da outra noite. Nele, havia perdido você. Chamava pelo seu nome, mas antes dele não havia mais pronome possessivo.

Estranhos

Regressar depois de algum tempo fez-me sentir de novo uma _quase_ completa estranha. Deparei-me com dezenas de rostos e fiquei surpresa ao dar-me conta de que uma dúzia deles me passou pela cabeça enquanto estava distante, e que de três ou quatro senti saudades sinceras. Não me julgue fria por isso, pois sei que a maioria dos rostos aos quais fui indiferente reservam, internamente, para mim a mesma displicência. E mais uma vez eu me pergunto porque as pessoas demonstram tanto interesse e buscam um afeto tão efêmero de quase-desconhecidos. Isso porque já me flagrei repensando meu dia e percebendo como a maior parte das lembranças, das palavras ditas já eram borrões vagos. Eu não me lembrava do cheiro dos abraços ou das razões dos sorrisos. Não da maioria deles. Só alguns detalhes a minha mente rotulava como importantes e arquivava na minha memória a longo prazo, para que algum dia pudessem me causar uma sensação boa de nostalgia. E eu me sinto envergonhada por sorrir tanto, por ser tão educada, quando na maioria das vezes eu pouco me importo. Como a maioria das pessoas, eu finjo me importar _ só que conscientemente.

Tenho aprendido a me sentir mais à vontade com a solidão e tenho tido o silêncio como boa companhia. Quando ouço as vozes que falam à minha volta, na maioria das vezes desejo não ouvir. Às vezes queria ter um botão de mute. E cada vez mais guardo meu ponto de vista para não desagradar. Porque quanto mais prezo a franqueza, menos disposta me torno a substituí-la por eufemismos.

A verdade diante disso tudo é que por alguns momentos senti falta do início em que todos _salvo algumas poucas pessoas que realmente conheci e que gostaria de ter conhecido muito antes_ me eram estranhos, mas pelo menos eu não tinha que sorrir para eles e estabelecer diálogos estritamente fáticos. Era mais fácil quando éramos estranhos e eu podia agir como tal. Era mais fácil quando eu não precisava sorrir sem querer.

domingo, julho 24, 2011

Tom de Saudade

[...] É inexplicável,
mas parece que encontrei tua essência em um outro alguém
Tenho receio de me confundir
Amor por transferência, já ouviu falar?
Às vezes eu tento acreditar que o bem que você me faz é maior do que o sofrimento que me causa. Então você vem e me faz duvidar disso!

Promessa

Naquela manhã em que eu acordei mais cedo só pra poder te olhar dormindo
Naquela manhã eu quebrei a minha promessa de não me apaixonar
                _Sim, eu estava fadada a sofrer por ti_
Me desculpe, já é tarde demais
No ponto em que estou não há caminho de volta.

quinta-feira, julho 21, 2011

Confesso

Confesso: eu menti quando disse ter certeza. Eu não tenho. Fica chateado não, não quis te enganar. Aliás, quis sim, mas foi sem querer. Sem querer não: foi querendo que fosse verdade! Disse assim, com voz firme, só pra tentar acreditar junto com você. Queria que fosse verdade. Que fosse simples assim. Bastando decidir te amar pra vida toda e fazê-lo. Mas não é. Gosto de pensar. Gosto e não gosto. Não gosto porque penso e não chego a conclusão nenhuma. Mas não consigo parar, é um vício. Então eu te olho e me pego pensando, e fazendo planos pro resto da vida. E depois eu me olho no espelho e me pergunto a quem engano. Às vezes você parece que só finge acreditar. Você acredita em mim? Você acredita quando diz que me ama? Ou nem pensa nisso? Gostaria que pensasse. Queria que tivesse certeza quando dissesse. É querer demais? Talvez se soubéssemos ser honestos com nós mesmos, conseguiríamos ser um com o outro. Eu sou curiosa, quero possibilidades. Me deixa tentar? Mas sem me largar: anda juntinho comigo. Não é que eu não saiba viver sem você, é que tenho preguiça de tentar. É tão bom teu carinho aqui. Tuas mãos quentes no meu rosto, o jeito como a gente encaixa. Responda minhas perguntas? Você não saberia, eu sei. Me beija então? Mas me beija logo, só assim pra minha mente parar de funcionar. Enquanto isso eu vou negar, pois tenho medo do dia em que eu possa acordar não tendo mais certeza nenhuma de você.

terça-feira, julho 19, 2011

O Que Todos Nós já Sentimos

Você se foi. Partiu de mim e não se deu ao trabalho de olhar para trás. Não se despediu, não me olhou nos olhos, não fez questão de um último beijo ou de alguma explicação tola. E eu te vi partir sem poder te gritar de volta, tão longe que fora. Foi assim que me deixou: presa, atada, dependente de ti. E quando se foi tornei-me amarga, fria e vazia. Perdi a vontade de ser agradável ou de ser boa companhia. Perdi a vontade de acordar. Passei a ter medo de gente, do amor e de mim mesma. Quis te matar dentro de mim e comecei um longo processo de autodestruição. Mudei por sua presença e, de novo, mudei por tua ausência. Vê que até estando longe você me transforma? E tudo o que tive de ti foi a falta, a ausência cruel, o silêncio dominante, intercalado por palavras que você jogou sobre mim sem se importar com o efeito: dizia e contradizia, e nunca dava explicações. Enquanto isso eu vigiava sua vida, só pra ter certeza de que ainda respirava pra eu poder dormir em paz. Mas tudo o que fiz foi sonhar com o momento em que você iria voltar pra mim e me beijar, fingindo que não partiu enquanto eu fingia que você não havia me magoado. Algum tempo se passou e eu comecei a procurar em minha memória algo que me dera de bom pra que eu te amasse. Algo de bom que eu pudesse guardar como motivação. Nada! Não encontrei nada além do meu amor irracional e autodestrutivo. Avancei mais um pouco e comecei a esperar pelo dia em que você iria perceber que meu amor era o mais sincero, que nós amávamos as mesmas bandas, que eu era incrível e interessante e que não havia motivo nenhum pra você não me amar. E seria, então, tarde demais. Eu iria te ver se arrastar aos meus pés, gritando todas as palavras que por muito tempo esperei ouvir e implorando pra que eu te amasse só por um pouquinho mais de tempo. Não demorou muito e eu me dei conta de que deveria parar de mentir pra mim mesma, sonhando que aquela pessoa a quem eu mais me doei iria, um dia, se dar conta de todo o amor que quis oferecer e de todo mal que me causou em troca. Sonhando que essa pessoa iria querer o meu perdão por ter ignorado meu amor e minha relevância. Dei-me conta de que as pessoas que eu amo não necessariamente sentem necessidade de mim e de que elas podem nunca olhar pra trás e se dar conta do meu lugar vazio. E você? É só mais um entre esses tantos humanos babacas que não sabem amar. Não deveria, nunca, esperar de ti o melhor. Você jamais seria tão inteligente!

segunda-feira, julho 18, 2011

Recado à Distância

Quis guardar-te umas palavras,
Um bocado delas, na verdade.
Mas tantas eram que poderiam confundir-te
Guardei delas, então, as mais importantes:
Que o vazio da tua ausência me enche e falta espaço
E que o que sinto por ti não tem definição.
Amor é um resumo.
       (Um conceito urbanóide, como diria Lucas Silveira)
Lembre-se, pois: Sinto tua falta. Te quero bem!
Me ame de volta. Volte logo pra mim.
E me beije quando voltar.
Isso é tudo.

sábado, julho 16, 2011

Medo de Cair

Naquela noite em que você saiu porta afora e se despediu com um beijo açodado, peremptória roubei-te um abraço desses de furtar o fôlego. Queria ter gravado melhor o teu sorriso nos meus lábios. Desses que você dava acanhado quando eu te beijava calidamente. Assim que você saiu na direção do aeroporto, me bateu um aperto no peito. Nunca pedi muito da vida. Queria dela tantas coisas, mas sempre me contive em exigir uma ou duas pra ser feliz. Como primeiro da lista, nunca me faltou o vigor para buscar as coisas terrenas. De lambujem ganhei o teu amor. E como viera completo, trazendo outras coisas além do que pedi! Trazendo-me um sentido quando me deitava à noite. Alguém que merecesse o meu afeto, alguém que me fizesse querer bem. Com quem, com muito prazer, diga-se de passagem, dividi meus melhores sonhos e junto de quem transformei meus objetivos para que fossem os mesmos para ambos. Com quem aprendi o significado de 'nosso' e pra quem existi mais do que pra mim. E você partiu naquele momento. Soube, de uma vez só, que estava muito bom pra ser verdade. Talvez por eu não exigir tanto da vida, ela não quisesse me ver satisfeita assim. 'Se queres pouco, menos ainda te darei, só pra fazer-te infeliz como todos os outros cancros que te cercam!'. Tive pavor da queda. De que qualquer coisa mudasse. Que você se perdesse no nosso caminho e não achasse atalho de volta. Tive medo de caminhar sozinha e de que você achasse alguém melhor do que eu. O silêncio fez de mim notívaga. Não dormi. Naquela noite tive medo do sopro, do tombo, e sabia que viria, só não sabia de onde, arrancando-me o chão e me fazendo desabar insistentemente. Não há paz que perdure. Não há felicidade que subsista. 'Agora não', pedi às paredes brancas à minha volta. Era por demasiado cética pra pedir pra além delas. 'Não tô pronta ainda'. Sabia que a vida tramava contra mim, porque eu era frágil e covarde sem ti. E era assim que ela ia me igualar a todos os outros infelizes, desarmando-me de ti. Passaram se três horas e, já muito mal, eu respirava de uma forma insana sem entender de onde viera tanta desconfiança. A madrugada me suprimia sob sua melancolia. De tanto sofrer, cansei-me, e quase consegui dormir quando fui despertada pelo telefone. Era uma voz ignota contando-me que seu avião caíra.

quinta-feira, julho 14, 2011

Romance de uma Casa Noturna

Observava-te enquanto você se desvencilhava educadamente de conversas sem objetivo e dos toques de mãos femininas não-familiares. Introspectivo, atento ao copo de cerveja e absorto em seu próprio conceito de relevância, você parecia um deus intocável enquanto todas as garotas da mesa olhavam fixamente para você. Inclusive eu. Mas me abstive em te olhar e fingi indiferença, esperando que talvez você se interessasse em puxar assunto com a garota-que-não-estava-nem-aí. Ledo engano. Como se sacasse o meu tipinho previsível _como detesto me sentir assim!_, respondeu com a mesma displicência. Comecei a beber então e, junto com a vodka, um conflito interno começou a tomar conta de mim. Tentava me aproximar do único cara que me provocou um lapso de confiança, despertando meu interesse e balançando meu ego? Ou permanecia anônima para ti? Decidi, então, ficar onde estava para que, ao menos, não fosse humildemente comparada com aquelas belezas estonteantes que te cercavam. Não queria nunca, aos seus olhos, ser apenas uma dessas que só prestavam atenção em você pelos seus olhos penetrantes e pela sua beleza incomum. Muito antes preferia que não tivesses consciência de minha existência.

Muitos copos de vodka depois as pessoas começaram a dançar, disputando, na pista, a atenção alheia. Entre corpos fabulosos se movendo e cabelos esvoaçando, você permaneceu negligente, estático e sentado em seu lugar usual, jogando conversa fora com seus botões, como se não desse bola para aquele circo. Meu Deus, como eu te queria. Um a um todos saíram da mesa e restamos eu e você. ‘Droga’, pensei. Estava sóbria o suficiente para ter total consciência de tua presença e bêbada demais para arriscar falar contigo. Decidi permanecer calada. Um bom tempo se passou antes que você dissesse algo, e você começou dizendo: ‘Eu odeio este lugar!’. Droga. Já me senti uma idiota, pois discordava completamente. Mais idiotamente ainda arrisquei ser franca e disse que gostava dali, dando meus motivos que, agora, nem pareciam fazer sentido. Por incrível que pareça você me ouviu com atenção e levou em conta meus argumentos. Como se fosse mesmo uma coisa importante, não é? Mas dali surgiu uma infinidade de assuntos totalmente despretensiosos. Ficamos a noite toda conversando e nem eu nem você demonstramos interesse algum em algo além da conversa que estava tão boa e tão leve. Irrelevante sem ser fútil. Você ouviu atentamente minhas opiniões pessoais, minha visão política e meu gosto musical. E eu tentei me lembrar de qual a última vez em que tive uma conversa tão singela em uma casa noturna. Não consegui. Tentei me lembrar então de algum outro cara que tivesse se interessado em me ouvir sem se importar com o que poderia ter de mim. Nada. E era exatamente isso: você não esperava de mim mais do que as palavras que eu poderia te dar.  Você sequer queria mais do que as palavras. Você as ouvia como se fossem importantes e significassem algo para você. Como se elas mudassem a forma como você me via e fossem desenhando para ti uma forma diferente da que meu corpo transparecia. Me apaixonei, pois, por ti. Tão profundamente que corria o risco de sofrer para sempre se não me amasse de volta.

Me apaixonei pela forma como você não se importava com corpos esculturais ou com rostos bonitos. Amei a importância que deu às minhas palavras e ao que tinha para dizer. Me rendi à tua forma de ressaltar o quanto eu era interessante e ao modo como buscava me desvendar. E agradeci eternamente por encontrar alguém no mundo que quisesse fazê-lo. Desejava mais do que fingir ser alguém interessante para você. Queria SER esse alguém. Você ouviu o que eu tinha a dizer. E eu me apaixonei perdidamente por você.

Podia até não ter de volta o teu amor, mas estava tudo bem, afinal, você era mesmo o único a merecer o meu.

quarta-feira, julho 13, 2011

O Dia em Que Eu te Conheci

Algumas pessoas odeiam as coisas com muita facilidade (eu, por exemplo). E eu odeio muitas coisas, por sinal. Mas eu fico extasiada quando acontece o contrário, muito raramente, quando eu gosto de algo/alguém muito facilmente. Mas você bem que ajuda bastante, né? Não tem como não gostar de você, acontece tão naturalmente quanto respirar. É só conversar contigo por dois minutos e já se tornar apaixonado por você, pelo seu jeito. Bem, a vida tem suas fugacidades. E eu não vejo isso com maus olhos, afinal, não iria querer que as coisas ruins durassem pra sempre, certo? Mas há coisas que a gente queria que durassem pra sempre, ou que pelo menos eu pudesse levar comigo pra todo lado que fosse. É inevitável pensar que ano que vem não mais nos veremos, apesar de estarmos disportas de um longo período a ser percorrido juntas ainda. Mas sabe que eu ainda penso que seu nome vai estar no meu discurso de formatura? Pra agradecer pelo engrandecimento que você tem me feito passar? Parabéns, minha linda, por existir, por sorrir, e por fazer sorrir a muitos que têm o privilégio de te conhecer a fundo. Hoje é um dia importante porque é uma data especial pra você, mas não teria significado nenhum se não houvesse o dia em que te conheci.

De Carolina-com-K Figueiredo para mim. Muito obrigada, minha linda. Acho que não preciso dizer nada além de que amo você.

terça-feira, julho 12, 2011

Nosso

Nós dois conversávamos despretensiosamente na bancada cozinha, e eu te observava, entre um e outro gole de um café forte, com um olhar deslumbrado. Este deve-se ao simples fato de que não poderia imaginar, em momento algum do ano que se passou, que estaria hoje tomando o café da manhã acompanhada e que isso seria tão natural, como se todos os meus passos fossem dados só para me levar até você. Eu me lembro bem de como você era cuidadoso no início. Media bem as palavras sempre buscando a forma mais racional e mais franca de dizê-las. Agora as palavras te escapam. Saem de ti para mim, e é um fluxo natural. Sabe por que? Porque agora sou parte de ti. Estávamos jogando conversa fora, o que torna o contexto desnecessário e, entre um devaneio e outro, você disse mais ou menos: 'Nosso filho vai se chamar assim ...'. Disse assim, preto-no-branco, tão naturalmente que nem se deu conta do peso das tuas palavras sobre mim. Engoli rápido demais o café quente e tentei disfarçar meu desconforto, com medo de que você me interpretasse mal. As palavras te escapam, meu bem, e os teus planos vêm à tona. Dei-me conta de que você deixou de lado o cuidado com as palavras e, junto, todo o receio em se entregar. Te vi sair do controle, e gostei. Me apaixonei por mais um pedaço de você, um que eu ainda não conhecia. Aquele que faz planos pro futuro sem se munir de todas as precauções.

Vê como cada palavra que dizes tem efeito duradouro em mim?

Você sequer se deu conta de que tuas palavras tinham tanto significado implícito, mas eu te leio, meu bem. E há muito tempo estava esperando um sinal teu pra eu poder sonhar com esse momento em que teríamos uma coisa tão minha quanto tua.

sábado, julho 09, 2011

Sobre o Amor

Você me pegou calmamente pelas mãos e me guiou como alguém que apoia uma criança que dá os primeiros passos. A diferença é que não era a primeira vez que eu aprendia a andar. Você me levou consigo sem sequer perguntar meu sobrenome. Seus olhos refletiam a surpresa dos meus enquanto seus braços envolviam meus ombros num gesto suave de carinho do tipo que não espera nada em troca. Não se importou com minha maquiagem borrada, com meu nome estranho, com minha embriaguez tola ou com o fato de eu já não ser capaz de amar. Ao invés disso me guiou adentro de tua sala aconchegantemente desorganizada, e à meia luz _que escondia a frieza constante nos meus olhos_ despiu meus sentimentos. Foi sem querer, eu sei. Você não me perguntou, mas eu disse assim mesmo. Disse, porque você não esperou nada de mim. Porque não me pediu que fosse madura, franca ou racional. E exatamente por isso eu fui contigo o mais honesta que pude. Te contei meus medos, minhas manias, meu primeiro beijo e minha cor favorita. E, até quase o amanhecer, você ouviu cada palavra, sem ousar interromper, com medo de que isso bastasse pra eu me trancar novamente. Não, eu não me escondi, estava frágil demais para tentar fingir ser algo que você pudesse querer. E talvez por isso você tenha gostado de mim. E, principalmente por isso, eu me apaixonei perdidamente.

Na manhã seguinte, ainda deitados, enquanto eu encarava a paisagem na tua janela, você ousou perguntar: 'Qual teu sobrenome, mesmo?'. Eu ri, e pela primeira vez você me viu gargalhar. Você se assustou, mas saiu pela tangente dizendo que meu sorriso era bonito, tamanha tua bondade. Naquele momento eu senti vontade de recomeçar, de caminhar de novo, e quis desesperadamente que o teu beijo cuidadoso e teu carinho protetor da noite passada não fossem conclusões turvas de minha bebedeira.

Na hora de ir embora, 'Teu telefone?', e eu senti uma descarga de adrenalina que fez-me sentir como uma adolescente boboca, pois previ a angústia que viria nas próximas quarenta e oito horas em que você poderia ligar. Para minha surpresa, você ligou daí a duas horas dizendo que era pra confirmar se o número era o certo. Engraçado, levou uma hora e meia no telefone pra confirmar. Muito menos do que isso pra eu ter certeza de que você me queria também.

Logo vi: fomos feitos um pro outro.

quinta-feira, julho 07, 2011

Volta

Tudo o que eu queria era ser aquela primeira pessoa por quem você seria capaz de quebrar todas as suas regras. Queria que, por um momento, você perdesse o juízo e fosse atrás de mim, me dando todos os motivos irracionais que fosse capaz de lembrar, só pra tentar me convencer a ficar, provando que a iminência de minha partida havia te tirado a razão. Queria te ver sair um pouco do controle e que me beijasse ousadamente como nunca fizera antes enquanto me pedia 'volta?'. Tudo porque, em minha mente, completei teu silêncio com as palavras que desejava ouvir. Pra que isso? Pra mais uma vez provar pra mim mesma que expectativas são criadas para serem frustradas. Senti então uma repentina necessidade de que fosse recíproca a ânsia irracional que tinha de ti. Porque só eu sei quantas promessas quebrei para estar contigo. E ninguém mais sabe do quanto eu abri mão. Houve momentos em que cheguei a pensar estar perdendo as rédeas de minha vida, pois me perdi ao te procurar. E eu preciso que, como uma surpresa agradável, em algum momento você perca seu rumo, não saiba para onde ir e me veja, então, como tua direção, para que sinta que você está em minhas mãos tanto quanto eu estou nas suas...

Randômico

Entrei em um jogo perverso onde só tenho a perder, e nessa brincadeira perigosa eu sou fria, calculista e carrego a razão como item de bolso. Simulo desconhecer a tua ausência e faço de conta que a culpa não foi minha. Tento fingir que não te perdi porque tive medo de segurar sua mão e encarar o que poderia vir pela frente. Como se do teu lado o futuro não fosse, sempre, uma boa opção. Cada lágrima que me faz engasgar enquanto explico aos outros porque não está sentado, no bar, na cadeira vazia ao lado da minha_ dando a cada um a justificativa que espera ouvir_ , cada uma destas lágrimas transformo internamente em resignação. A cada tentativa _frustrada_ de ignorar a falta que você me faz, meu coração ri, em tom de zombaria, da minha mente que tenta se iludir, e todo esse teatro beira o ridículo. Seria estupidez negar que a sua ausência desaba sobre mim a cada nova manhã. Mas, enquanto contenho essa dor excruciante, tento fingir que, em momento algum, eu estava abrindo mão da felicidade.

domingo, julho 03, 2011

Vício

Arrasto, há alguns invernos, essa paixão que me adoece. Esse magnetismo que me ata, me torna adepto de outro alguém. Porque meus lábios buscam tão incessantemente estes beijos que os subjugam, deixando-me prostrado? Porque meu corpo busca essas carícias que o submetem, deixando-me viciado? Se bem sei que isso não me basta e só me torna mais vulnerável e dependente? "Deixas de lado essa droga que te inebria e te desorienta", repito a mim mesmo incessantemente, "essa paixão que te entorpece os sentidos, que te deixa enfermo e te põe prostrado mas não te deixa dormir em paz". Porque, desde que meu corpo me tornou subserviente, servo do amor de outrem, assim se traçam minhas noites: frias e febris.

segunda-feira, junho 27, 2011

Possessor

Vem com a tua perfeição sobre-humana
No meio de minha noite mais fria
Surge meu anjo bom de asas negras
Traz consigo meu pedaço de dia

Afasta, com um suave bater de asas,
O que me resta de melancolia
Incauta me despeço de mim mesma
Mergulho em tão profusa fantasia

Teus olhos, cuidadosamente, despem
Minh'alma de todo receio vão
Me entrego já pelo primeiro toque
Possuo teus lábios na escuridão

Tão cedo então se vai meu anjo bom
Deixando, para mim, a nostalgia
Pergunto então: "Meu Deus, porque, meu Deus?"
E apego-me às memorias fugidias

"Oh! Deus, porque me deixaste saber
O gosto de tamanha perfeição?
Me mate, pois, se eu não voltar a ver
O anjo que possui meu coração"

É dele, sim, tudo o que sou ou fui,
Não meu, _ tamanha minha pretensão
Pensar que pertenço a mim! _ é dele:
Do anjo que possui meu coração

domingo, junho 26, 2011

Nonsense

[...] Meu corpo treme,
Oscila entre a falta e a angústia,
Entre a cólera e o afeto,
E, submerso num labirinto inextricável de dúvidas,
Está inapto a responder com a razão.