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domingo, novembro 20, 2011

Partir

Eu cavei minha própria cova e não há nada de romântico nisso. Estou morrendo. Mas diferente das tragédias Hollywoodianas, não há honra aqui. Nenhum pingo de dignidade, ou algo a que os outros possam se agarrar quando eu partir. Apegar-se às boas lembranças seria o mesmo que apegar-se a nada. Deixo pra trás um passado mal-escrito e com muitos rabiscos com os quais eu tentei esconder aquilo de que mais me envergonho. E pro futuro levo uma caderneta simples, cuja capa nada transparece. Começar do zero. E quando eu digo do zero não é de uma boa maneira, como quem busca redescobrir-se. É como alguém que é obrigado a partir e só leva a roupa do corpo. E não resta absolutamente nada pra mim aqui. Mas tanto faz, não é como  se eu tivesse mesmo coisas boas pra levar comigo. No tempo em que estive aqui eu não consegui cultivar nada de que pudesse me orgulhar. Semeei vergonha, traição, vingança, morte. Morte da alma. Mas me surpreendi ao perceber que a colheita é compulsória. E agora eu não estou escolhendo deixar nada pra trás. Os outros fizeram isso por mim. Não vejo nenhum rosto já que todos me viraram as costas. Eu percebi tarde demais que estou morrendo. Eu não trouxe nada pra este lugar, nem vou levar nada daqui. Mas me incomoda é, na verdade, aquilo que eu estou deixando para trás.

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