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quinta-feira, outubro 22, 2015

O amor não tem hora certa

O amor não é uma visita com hora marcada. O amor não é a pizza que você pediu e que tem prazo pra chegar. O amor vem sem hora certa. É aquele convite de última hora, que você quer atender, mas que vai atrapalhar o seu planejamento da semana. É aquela chuva que você está pedindo há dias pra molhar a terra, mas que chegou bem naquela hora que você acreditava precisar do Sol. O amor é uma tempestade. Ele vem em golpes inesperados. E atordoa.
O amor não é uma casa que você compra quando o mercado imobiliário está favorável. Tampouco é um intercâmbio que você escolhe o melhor momento pra fazer. O amor acontece. Ele é aquela oportunidade que surge na sua frente sem você esperar. E é para aqueles que têm a ousadia de agarrá-la. Para aqueles que, ao se deparar com a possibilidade do amor, não têm escolha senão fechar  os olhos e mergulhar, numa aposta corajosa e cheia de fé de que isso vai levar a algum lugar.

quarta-feira, setembro 02, 2015

Rotina (trechos)


"[...] Não me entenda mal, meu bem. Eu não choro à noite porque eu não sei ser feliz se você não está perto. Eu tenho minhas obrigações, sei me divertir, tenho bons amigos. Mas é que quando você dispensa minha companhia assim, vez após vez, é um pouco difícil de acreditar que você não deixou de me amar um pouco. Que você não se cansou de mim, que a gente meio que perdeu a graça pra ti.
Eu fico meio perdida, porque por muito tempo eu acreditei ter clareza das coisas, mas agora sinto que eu fui enganada. Pior. Parece que eu me enganei. Não quis ver.
E de repente fica claro que, há muito tempo, quase sempre partia de mim. Era sempre eu na sua casa. Era a minha roupa na sua gaveta. Era o meu chaveiro com a sua chave. Nunca a recíproca. Sou sempre eu que digo "fica mais um pouco". E eu sequer me lembro qual foi a última vez em que você disse "por favor, fica". É que eu fui parando de perguntar... e fui entrando... e ficando... achando que você queria tanto quanto eu. Mas eu me enganei. A culpa é minha. Eu sei.
[...]
E a história se repete.
Eu com todo meu amor, de novo, perdendo pra essa maldita rotina que faz os outros se cansarem de mim. [...]"

terça-feira, julho 21, 2015

"(...) torno a cair nesse dilema existencial e me pergunto se eu não deveria me fingir de polida, comedida, milimetricamente controlada, racional e compreensiva, apenas pra dar a um cara qualquer o tempo que ele precisa pra me amar tanto quanto eu o amei desde o primeiro momento em que o vi. Então eu começo a rir e penso que eu nunca me contentaria.
Eu sei que só vai ser pra sempre quando ele me amar primeiro, com olhos intensos e mãos afoitas e palavras gaguejadas. E ele irá fazer tudo errado e irá derramar café em mim e me fazer perguntas inadequadas e irá ter pressa de tudo comigo. E irá me amar no sofá e no tapete da sala e irá cuspir um eu te amo no nosso primeiro café da manha juntos. E então eu vou saber."

Mergulho

Vai entender essa mania que a gente tem de fazer perguntas sem estar pronto pra lidar com a resposta, ou, mais bravamente ainda, de fazer perguntas cujas respostas a gente já sabe, mas acha que dá conta de ouvir. A resposta geralmente dói surpreendentemente mais.
Às vezes eu acho que deveria aprender a ser mais como essas pessoas que vivem uma mentira, porque nunca têm coragem de fazer perguntas, de se questionar. As coisas são o que são e não há nada por trás. É... não procura fundo, não, que senão vem merda. Acredite, é melhor assim. Porque as pessoas não sabem lidar.
Eu sou um peso, um fardo pra se carregar. Eu com essas minhas perguntinhas infelizes e uma profundidade que ninguém quis cavar. Eu com minhas inseguranças, dúvidas e com um eterno desejo de que as coisas sejam maiores do que realmente são, grandiosas, merecedoras da minha dedicação.
Eu com uma sede de que exista algo mais profundo do que a casca, com sede de que haja uma palavra suprimida, uma declaração de amor engolida, uma memória nossa eternizada silenciosamente, uma palavra que ficou gravada, uma música que faz lembrar, um jeito que faz arrepiar, e que um dia tudo isso será confessado. Em com um desejo de transparência que simplesmente não convém. Ninguém quer falar sobre isso. As pessoas não querem falar sobre coisas profundas, pra não revelarem que na verdade elas são só isso. Que elas não pensam na vida, no futuro, no que é perene e no que só está aí de passagem. Que suas tão ditas melhores noites são memórias borradas devido ao álcool e à conversa vazia. Elas não querem revelar que, quando algo incomoda, elas se escondem em seus computadores e em seus smartphones e num copo de cerveja, porque essa é a melhor maneira que elas têm de lidar. Que as suas escolhas, suas relações são apenas consequências, sequências de dias vividos a esmo, de sensações mal-sentidas.
Eu cavo. Eu cavo e incomoda. E dói. Ninguém quer nada disso. Então eu vou ter que mergulhar sozinha. É assim, como sempre foi.

segunda-feira, março 09, 2015

Timing

Um dia eu me abri contigo. Um dia eu te pedi pra ser mais do que raso, que deixasse de fazer piada e me dissesse, lá no fundo, o que você sonha pra você. Você disse que não sonha comigo. Mais do que isso, você jurou que não sonha com nada. A turbidez do futuro se faz vencer e você não parece querer tomar as rédeas do que está por vir. 'Seja o que for, não consigo pensar à frente', você me disse, incapaz sequer de me dizer umas palavras doces, só pra acalmar minha ânsia de te ouvir dizer que um pedacinho de você já sonhou com nós dois compartilhando mais do que um sexo casual e uns finais de semana ociosos e um romance fácil e passageiro de juventude. Tudo e nada, pra você, tanto faz.
Mas o que foi dito não se pode desfazer. A ideia que atravessa a mente é como um rio que passa arrastando tudo. Nada mais ocupa o mesmo lugar. As coisas estão bagunçadas e talvez isso não seja reversível. Esse é simplesmente o novo e irrevogável lugar das coisas.
E eu, de volta ao princípio. Retornei a dezenas de incertezas e a uma dolorida descrença em nós dois. Outra vez estou naquele lugar onde vejo, a qualquer momento, emergir o fim. A certeza da despedida se materializa. O vazio de não poder acreditar em nada. Pra que apostar? Gastar meu tempo e energia e lágrimas e toda a doçura que eu sei dedicar, pra um fim categórico? Talvez semana que vem. Talvez mês que vem. Talvez ano que vem. Talvez amanhã. Por que não? Se vai ser assim, de qualquer maneira...
Queria ter esse seu sossego de não espiar o futuro, não conjecturar, de não se deixar levar nem um pouco e, muito menos então, sonhar. Queria que o fim não doesse antes da hora em mim. Queria querer ir praquele país ao invés de querer ficar pra não me separar de você. Queria ser leve. Queria ser você.
Eu apostei em você. E nós. Mas eu tenho lugar neste seu momento. Eu não caibo no seu depois.