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terça-feira, junho 20, 2017

Reserva

A minha partida do seu abraço foi brusca. Mas não tanto quanto a sua mudança de postura diante dos meus primeiros sinais de entrega. É verdade que você foi o primeiro a fazer pequenos planos, a usar a palavra 'amor' e a falar de mim pra sua mãe. Foi você quem me disse pra parar de buscar confirmação de que era isso mesmo: você me queria ali um pouco ou muito mais. Você pediu licença para entrar, e me lembrou de como é valioso se permitir viver as coisas. Sentir sem medir cada consequência. Me falou pra não ter medo. E isso era o que eu mais gostava em nós: o sentir. As vontades não reprimidas. A intensidade transbordando e a gente deixando entornar. Então, quando você fez isso parar... Quando você deu voz ao seu medo e fechou as portas e algumas janelas pra nós, algo em mim desmoronou. Olha, esse texto é sobre mim, não sobre você, porque o medo que eu carrego chegou muito antes de você. O medo que eu carrego vem de todas as vezes em que eu quis me entregar pra alguém, e esse alguém educadamente balançou a cabeça e com um gesto de mão deixou a entender que na verdade, verdade mesmo, não me queria tanto assim. Ele vem de todas as vezes em que me disseram 'calma' quando tudo o que eu estava tentando fazer era amar. Como se desse pra ofender alguém amando demais (Dá?). E eu fui embora de você porque eu estou exausta. Exausta de ter que pedir licença a cada passo que eu dou na direção do outro. Cansada de viver as coisas pela metade. De sentir as pessoas pela metade - e eu te gostava tanto por ser tão inteiro. É que eu nasci pra amar, sim, mas eu não tenho força pra colecionar decepções sem perder a fé no amor. Porque eu ainda me sinto inteira pra amar sem medo. Mas não me parece muito longe o ponto da virada. Eu já não tenho muitas fichas pra queimar. E eu não quero desacreditar. Quando chegar algo verdadeiro eu não quero jogar por água abaixo por estar danificada, submersa em dúvidas, inseguranças. Porque é devastador amar tanto e ao mesmo tempo ter tanta dúvida do outro. O desespero me faz rezar pra um Deus que eu nem sei mesmo se está lá, implorando pra ele mandar logo aquela pessoa que foi feita só pra mim, mesmo sem acreditar que esse alguém sequer exista.
Enquanto isso, há uma parte de mim que eu estou reservando pra me manter forte.