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segunda-feira, março 09, 2015

Timing

Um dia eu me abri contigo. Um dia eu te pedi pra ser mais do que raso, que deixasse de fazer piada e me dissesse, lá no fundo, o que você sonha pra você. Você disse que não sonha comigo. Mais do que isso, você jurou que não sonha com nada. A turbidez do futuro se faz vencer e você não parece querer tomar as rédeas do que está por vir. 'Seja o que for, não consigo pensar à frente', você me disse, incapaz sequer de me dizer umas palavras doces, só pra acalmar minha ânsia de te ouvir dizer que um pedacinho de você já sonhou com nós dois compartilhando mais do que um sexo casual e uns finais de semana ociosos e um romance fácil e passageiro de juventude. Tudo e nada, pra você, tanto faz.
Mas o que foi dito não se pode desfazer. A ideia que atravessa a mente é como um rio que passa arrastando tudo. Nada mais ocupa o mesmo lugar. As coisas estão bagunçadas e talvez isso não seja reversível. Esse é simplesmente o novo e irrevogável lugar das coisas.
E eu, de volta ao princípio. Retornei a dezenas de incertezas e a uma dolorida descrença em nós dois. Outra vez estou naquele lugar onde vejo, a qualquer momento, emergir o fim. A certeza da despedida se materializa. O vazio de não poder acreditar em nada. Pra que apostar? Gastar meu tempo e energia e lágrimas e toda a doçura que eu sei dedicar, pra um fim categórico? Talvez semana que vem. Talvez mês que vem. Talvez ano que vem. Talvez amanhã. Por que não? Se vai ser assim, de qualquer maneira...
Queria ter esse seu sossego de não espiar o futuro, não conjecturar, de não se deixar levar nem um pouco e, muito menos então, sonhar. Queria que o fim não doesse antes da hora em mim. Queria querer ir praquele país ao invés de querer ficar pra não me separar de você. Queria ser leve. Queria ser você.
Eu apostei em você. E nós. Mas eu tenho lugar neste seu momento. Eu não caibo no seu depois.