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sábado, julho 09, 2011

Sobre o Amor

Você me pegou calmamente pelas mãos e me guiou como alguém que apoia uma criança que dá os primeiros passos. A diferença é que não era a primeira vez que eu aprendia a andar. Você me levou consigo sem sequer perguntar meu sobrenome. Seus olhos refletiam a surpresa dos meus enquanto seus braços envolviam meus ombros num gesto suave de carinho do tipo que não espera nada em troca. Não se importou com minha maquiagem borrada, com meu nome estranho, com minha embriaguez tola ou com o fato de eu já não ser capaz de amar. Ao invés disso me guiou adentro de tua sala aconchegantemente desorganizada, e à meia luz _que escondia a frieza constante nos meus olhos_ despiu meus sentimentos. Foi sem querer, eu sei. Você não me perguntou, mas eu disse assim mesmo. Disse, porque você não esperou nada de mim. Porque não me pediu que fosse madura, franca ou racional. E exatamente por isso eu fui contigo o mais honesta que pude. Te contei meus medos, minhas manias, meu primeiro beijo e minha cor favorita. E, até quase o amanhecer, você ouviu cada palavra, sem ousar interromper, com medo de que isso bastasse pra eu me trancar novamente. Não, eu não me escondi, estava frágil demais para tentar fingir ser algo que você pudesse querer. E talvez por isso você tenha gostado de mim. E, principalmente por isso, eu me apaixonei perdidamente.

Na manhã seguinte, ainda deitados, enquanto eu encarava a paisagem na tua janela, você ousou perguntar: 'Qual teu sobrenome, mesmo?'. Eu ri, e pela primeira vez você me viu gargalhar. Você se assustou, mas saiu pela tangente dizendo que meu sorriso era bonito, tamanha tua bondade. Naquele momento eu senti vontade de recomeçar, de caminhar de novo, e quis desesperadamente que o teu beijo cuidadoso e teu carinho protetor da noite passada não fossem conclusões turvas de minha bebedeira.

Na hora de ir embora, 'Teu telefone?', e eu senti uma descarga de adrenalina que fez-me sentir como uma adolescente boboca, pois previ a angústia que viria nas próximas quarenta e oito horas em que você poderia ligar. Para minha surpresa, você ligou daí a duas horas dizendo que era pra confirmar se o número era o certo. Engraçado, levou uma hora e meia no telefone pra confirmar. Muito menos do que isso pra eu ter certeza de que você me queria também.

Logo vi: fomos feitos um pro outro.

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