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quinta-feira, janeiro 05, 2012

Guardei pra depois...

Aquela manhã estava tão cheia de Sol que lembrar de ti foi natural. Me veio a imagem de você na sua casa na praia que eu nunca vi nem foto e na minha mente você fazia pose de dono daquele oceano. E me lembrei da exata cor da sua pele, do seu cheiro e do seu jeito de pegar na minha mão. Me lembrei até da sua tatuagem clichê de um dragão no braço. Me lembrei da sua cor de canela daquele Sol quente da Bahia, do seu cheiro de mar misturado com um aroma de inocência de interior, da sua pegada forte de uma intrepidez de capital.  E você é mesmo tudo isso, essa coisa louca, é tudo em um só, só pra me fazer te querer de todas as maneiras possíveis. Me faz querer tirar o que te sobra de inocência e me desvairar na sua inconsequência. Esse jeito de Brasil afora, essa lábia internacional e esse sorriso que parece de outro planeta. Me lembrei tanto de você que quase me esqueci do que estava falando. Ah!, claro. Me lembrei das madrugadas perdidas em conversas nas quais você me fez perceber o quanto eu não sei nada de nada. Então eu ia dormir me sentindo cada vez mais burra. E me lembrei daquela noite em que você me levou pra caminhar no mar e era madrugada. E eu achei que estávamos caminhando a esmo mas você tinha preparado uma rede pra nós dois, um vinho barato e uma toalha no chão, do jeitinho da nossa simplicidade de ser, e nós falamos de tudo. E aquela noite foi tão longa que eu poderia dizer que ali se foi metade de minha vida. E como durou tanto eu me lembro de muito pouco. Mas eu me lembro de você mexendo nos meus cachos e de fingir que eu era sua. E de fingir que você queria que eu fosse sua. E você, diferente de todos, nunca me tratou como menina, mas como mulher e eu queria ser essa mulher pra você. Você sabia que eu não era assim tão inocente desde sempre. Desde aquela vez que você me chamou de bebê e eu fechei a cara. E desde aquela vez que você disse que eu tava parecendo mulher feita e eu retribui com o sorriso mais sedutor que eu consegui. E desde aquela vez em que eu tirei o vestido e fiquei só de lingerie e fingi que não sabia que você podia me ver, e você, claro, fingiu que acreditou que eu não sabia mesmo, e depois desse dia você nunca mais me olhou do mesmo jeito. Mas nessa noite foi a primeira vez em que você ousou me tocar mais ousadamente, e fez um convite disfarçado, como quem não quer nada 'bora caminhar na beira da praia?'. Mas você sabia que eu iria, é claro que sim. Você sabia o quanto eu te queria desde sempre. E por uma noite só a gente foi um do outro. Eu sabia que você não tinha nada de meu. Você não tinha nada de ninguém. Você nunca foi homem de se deixar pertencer. Eu te conheço há muito tempo, tempo suficiente pra saber mil histórias sobre o quanto você consegue ser canalha. Mas naquela noite eu fui sua. E você foi meu. E eu não me importava de explicar para o mundo que não havia razão de ser, que não havia justificativa plausível, e que nós não tínhamos nada em comum, e que você nunca seria capaz de me amar. E a verdade é que eu nunca seria capaz de lidar com a noção de você me pertencer de alguma forma, eu não saberia dividir você com ninguém, porque eu te gosto de uma forma possessiva, e detesto te ver olhando pra outras mulheres. E por isso mesmo eu não me jogaria num relacionamento tão autodestrutivo. Mas a gente foi tão bom naquela noite. Tão bom. Mas a noite acabou quando mais parecia querer durar pra sempre. E você me pediu pra ficar até o Sol nascer, mas eu te disse que isso não era possível, porque de mulher eu só tinha a vontade de você, e precisava estar na cama quando a casa acordasse. Daí você olhou e me fez jurar que eu guardaria pra ti um por-do-Sol. E hoje eu já sou mulher, pago minhas contas e cumpro com todas as minhas obrigações de gente grande. E estou esperando o dia em que você vai me ligar e pedir pelo Sol que guardei pra depois.

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