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quarta-feira, setembro 12, 2012

Tarde

Eu me lembro de que eu estava quase curada, e eu tinha até outros braços em volta de mim. Eu tinha outros lábios atrapalhando o ritmo da minha respiração. Eu estava lá, um pouco perdida, um pouco deslocada, mas enfim, no meu canto. Então eu dei três passos e me deparei com ele. Eu torci um pouco o nariz, como que pra sinalizar o meu fechamento e a minha reprovação a tudo o que ele (não) havia dito ou feito até ali. Ao mesmo tempo eu mantive minha postura de pessoa sã e socialmente correta e interagi. Um assunto - certamente superficial - não se prolongou por muito tempo, e ele olhou pra mim com um ar um tanto incerto, um tanto indagador, e falou as palavras que eu esperei ouvir por muito, muito tempo. A gente precisa conversar, não é mesmo? Eu assenti com a voz, com a cabeça, com o corpo e com o espírito. E então eu comecei um diálogo interno me interrogando o que dizer e como dizer. É óbvio que não havia nenhum objetivo naquela conversa, mas que mal faz termos sede de entender o porquê das coisas? Todo, alguém diria. Dois segundos eu me retive nestes pensamentos e ele prontamente adiou o colóquio. Deu-me um motivo e pronto. Eu esperei muito por isso, pensei. Tudo bem. Antes tarde do que nunca. Teríamos tempo pra isso.
É (quase) sempre uma pena quando o sono acaba antes do sonho.

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