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segunda-feira, abril 16, 2012

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Eu estou enrolada em dois cobertores e isso não é suficiente porque meu corpo ainda está frio. E isso não é por causa do clima instável ou de uma frente fria inesperada ou por causa do cobertor fino. Isso tudo é porque falta calor em volta dos meus braços trêmulos e em volta das minhas mãos vacilantes sobre esse papel tosco.
Eu fecho os olhos e tento dormir mas a minha memória estúpida insiste em repetir tudo aquilo que parece estar errado e em reprimir todas as memórias que poderiam fazer bem ao meu estômago. Náuseas. Então eu espremo as órbitas tentando esconder a imagem de você sentado à minha frente enquanto eu fazia papel de idiota abrindo meu coração, parecendo uma criança mimada chorando sem motivos e eu sei que eu não sou só isso.
Eu sou mais do que alguém que quer dominar o objeto do seu amor. Eu sou mais do que uma pirralha mimada que esqueceu de amadurecer. Eu sou mais do que alguém que não sabe lidar com responsabilidades ou compromissos. Eu sou mais do que isso. Ou não. (?)
Eu sou mais. Insistentemente mais do que isso. Eu sou alguém que infelizmente ama na hora que dá na telha e que sente saudades na véspera do dia de provas e que quer andar de mãos dadas atrasada pra ir pro trabalho. Eu sou alguém que não se cansa de olhar nos olhos. Eu sou alguém que tem urgência de sentir intensamente e que se importa com demonstrações de afeto. Eu sou alguém que corre pra abraçar.
Então eu te pergunto: porque você insiste em me amar dessa forma tão lamentavelmente pouca e tediosamente sóbria, com hora pra chegar, com olhar cansado, com segundos contados e pressa de partir?
Eu preferi(ri)a te ver uma vez em muito tempo se a cada vez você viesse com pressa de me amar e com lábios urgentes, se você deixasse o mundo de lado e tivesse olhos só pra mim por meia hora. Então porque você insiste em me marcar entre um horário e outro? E porque você está sempre tão ocupado enquanto eu choro de solidão? E porque você insiste em esperar que eu adivinhe de onde é que vem essa droga de amor que você não me conta nem me mostra nem me faz sentir?
Eu não vou ser mais a criança mimada que reclama porque preparou a refeição e comeu sozinha. Ou que chora porque passou o final de semana sem receber uma ligação.
Ao invés disso eu vou tentar ser essa adulta débil e insegura que pensa que não é amada mas que passa maquiagem às 6h da manhã pra conquistar elogios fúteis e se sentir bonita, que almoça com os colegas de trabalho e que sai à noite com o que costumam chamar de amigos, que ri e se diverte, e que dorme na casa de uma garota legal só pra ocupar seu final de semana vazio e infeliz, e que chora à noite porque nada disso é verdade.
Eu vou ser essa adulta que ama se der tempo e que dá carinho quando encaixar no horário e que finge entender essa falta constante de tempo pra tudo e que se ocupa com suas próprias coisas e obrigações só pra abafar a miserabilidade do ser, tudo isso pra não te atrapalhar a viver sua vida tão ocupada e satisfatoriamente preenchida com tudo menos eu.

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