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terça-feira, novembro 20, 2012

Carrega

Quantos passos são necessários pra que eu chegue lá? Quantos dias são necessários para que o passado se feche em si? Quanto tempo leva até que deixemos de esperar que a vida se dê em ciclos fechados? Quanta maturidade é necessária para que aprendamos a enfim lidar com perguntas sem respostas? Quantas vezes é necessário cair até que se levantar não seja doloroso? Eu tenho tentado agir normalmente, andar como andaria, falar como falaria, pensar como deveria. Eu tenho mantras que repito sempre que necessário, esperando absorvê-los e, enfim, colocá-los em prática. Eu tenho um copo que já tem o cheiro do álcool daquela garrafa de vodca que eu bebi todas aquelas vezes em que me lembrar foi dolorido. Eu tenho essa alma saudosista e esse cérebro nostálgico. Eu tenho essa graça esquisita de querer discordar da dor. Eu tenho tudo isso que hoje não me serviu pra nada.
Eu tenho tudo isso e, mesmo assim, dar de cara com esse lembrete infiel de algum passado me tirou um pouco do chão e da minha firmeza nos pés. Eu digo infiel porque ele vem com esse ar atraente de passado, mas com um gosto amargo e desapontador de um presente que se instala, peremptório.
Será que é demais que nessa vida eu peça por clareza? Será que se paga um preço muito alto pra ter respostas? Ainda que seja inútil ter certeza, eu estou aqui disposta a pagar pra ver.
Eu passo tanto tempo sem escrever, sem falar, sem sequer pensar sobre; e de repente a roda gira e troca as imagens na minha cabeça e incomoda um pouco a minha paz, só pra insinuar que talvez os nós não estejam atados. E eu pergunto pra mim mesma: como? Pra quê? Por quê? Na ausência de respostas, eu respiro fundo até que a minha mente se canse e troque de novo as imagens. E vem sendo assim uma vez a cada semana ou a cada mês.
A memória é um tanto traiçoeira, mas é igualmente falha. Daqui a pouco as coisas se ajeitam. Já diz-se por aí que o tempo se encarrega das coisas. Então, enquanto o tempo (se en)carrega (de) você, eu me (encar)rego de mais outra dose daquela vodca que já tem esse estranho cheiro de nós.

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