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domingo, dezembro 02, 2012

Garrafa

Eu tenho do meu lado essa garrafa vazia e eu já nem me lembro de quê. O álcool que eu bebi irrita o meu estômago, me dá náuseas, e mesmo assim eu estou feliz. Eu espero que ele me faça mal o bastante para que eu consiga vomitar tudo. Vomitar você, suas lembranças, sua voz, sua saliva, seu suor, sua risada sarcástica, seu silêncio. Quero vomitar você inteiro, te extrair de cada célula do meu corpo. Faz tanto tempo que estou tentando metabolizar esse veneno que você espalhou no meu sangue, que meu fígado já não aguenta mais. Esse cheiro que você deixou impregnado em todo o meu corpo me cansa e me enoja. Esse gosto que você deixou na minha boca me dá náusea. Essa saudade que você deixou no meu corpo me subjuga. Essa mensagem que você deixou na minha caixa de entrada me faz querer voltar no tempo e fazer tudo ao contrário.
O tempo passa, mas resiste em ficar pra trás. Seu corpo está longe do meu, mas ainda posso sentir os calafrios que o seu toque provocou em mim. Há muito tempo não ouço a sua voz, mas eu ainda tremo só de lembrar.
E tudo isso me dá nojo.
Esse passado insistente, esses regressos intermináveis, essa vida que anda em círculos e que parece querer nos confundir: tudo isso me faz querer pular um mês ou um ano ou uma década de minha vida, só pra alcançar aquele ponto em que o seu nome não vai mais causar absolutamente nenhum efeito em mim.

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