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segunda-feira, dezembro 24, 2012

Descuido

Um toque que desmanchou antigos planos e despertou novas expectativas. Um beijo que dizimou minha cautela e transcendeu barreiras psicológicas. Um abraço que liquidou minha sensatez e tirou o meu controle. Um convite que desmascarou minha maturidade e expôs minha puerilidade. Uma respiração que desmantelou minha resistência e exibiu minha vulnerabilidade.
Eu, de novo, pequena, exposta, inadvertida.
Ele, então, no controle, tomando a maior parte da minha consciência sem sequer se dar conta do estrago.
O abismo cada vez mais próximo, inevitável, atraente. Ele cada vez mais longe, alheio, inatingível.
Tudo tão físico, carnal, superficial. Recheado de ofegâncias, de peles se tocando, de lábios hábeis e corpos colados. 
Filmes, músicas, pessoas, a noite: tudo posto em terceiro plano. E nós dois roubando a cena no meu palco pessoal.
Ao mesmo tempo tudo tão sentido e revivido e idealizado numa mente adolescente - e que beira a infantil.
Todo um diálogo interno sobre cuidados e sobre não cair pela pessoa errada. Todo o autocontrole, adquirido em anos, jogado pela janela do carro. Toda a maturidade emocional pisoteada por seus pés descuidados. Todo um discurso sobre não se envolver esmagado entre nossos corpos.
Eu andei pisando torto. Eu andei fazendo escolhas ruins. Eu estive perdida. E gostei.
Mas agora eu quero o controle de novo. E pra isso você vai ter que partir.

sábado, dezembro 08, 2012

– Vamos lá, me ver não vai arrancar nenhum pedaço – diz.
Como se ainda houvesse algum pedaço para arrancar.
– O que de tão urgente temos a dizer que não possa ser adiado? 

Gabito Nunes

segunda-feira, dezembro 03, 2012

Quatro mil pés

Estou a um passo do abismo, e já deveria ser suficientemente assustador o fato de que eu posso cair a qualquer momento. Qualquer. Se eu respirar errado, se eu tropeçar, se eu me desequilibrar, se eu cair no sono, se eu me distrair, se alguém me empurrar, se passar um vento forte; a qualquer momento eu posso cair.
Mas o mais aterrorizador de tudo isso é que este abismo me é estranhamente convidativo. Esse mar de desconhecido me magnetiza de uma forma que eu mal consigo compreender. Quando me dou conta, já estou com um pé para dentro desse despenhadeiro, jogando com o pouco fôlego de vida que me restou depois de tudo.
Acordo e durmo cercada por este precipício: ele agora ocupa toda a minha visão, e eu já perdi de vista o caminho de volta. As minhas chances estão fora do meu alcance.
Mas será que é o bastante essa consciência?
Será que é o suficiente eu estar vestida com uma armadura, com uma arma empunhada, estar vigil e esperando o ataque? Será que basta reconhecer a queda para que ela não se torne dolorosa? Será que basta perceber o abismo para não cair?
Estou a quatro mil pés da superfície, mas eu quero cair.

domingo, dezembro 02, 2012

Garrafa

Eu tenho do meu lado essa garrafa vazia e eu já nem me lembro de quê. O álcool que eu bebi irrita o meu estômago, me dá náuseas, e mesmo assim eu estou feliz. Eu espero que ele me faça mal o bastante para que eu consiga vomitar tudo. Vomitar você, suas lembranças, sua voz, sua saliva, seu suor, sua risada sarcástica, seu silêncio. Quero vomitar você inteiro, te extrair de cada célula do meu corpo. Faz tanto tempo que estou tentando metabolizar esse veneno que você espalhou no meu sangue, que meu fígado já não aguenta mais. Esse cheiro que você deixou impregnado em todo o meu corpo me cansa e me enoja. Esse gosto que você deixou na minha boca me dá náusea. Essa saudade que você deixou no meu corpo me subjuga. Essa mensagem que você deixou na minha caixa de entrada me faz querer voltar no tempo e fazer tudo ao contrário.
O tempo passa, mas resiste em ficar pra trás. Seu corpo está longe do meu, mas ainda posso sentir os calafrios que o seu toque provocou em mim. Há muito tempo não ouço a sua voz, mas eu ainda tremo só de lembrar.
E tudo isso me dá nojo.
Esse passado insistente, esses regressos intermináveis, essa vida que anda em círculos e que parece querer nos confundir: tudo isso me faz querer pular um mês ou um ano ou uma década de minha vida, só pra alcançar aquele ponto em que o seu nome não vai mais causar absolutamente nenhum efeito em mim.

sexta-feira, novembro 23, 2012

Relief

I faced the most distressful ten-minutes walk ever just to say thank you. Thank you for killing all my hopes. My hopes that there could be any future for us. My hopes that there were any step I could give on your direction. Thank you for killing all our chances, for giving me enough reasons to never look behind.
Thank you for all the times you ignored me, for being always so far and unachievable. Thank you for making it hurt day after day, till I got numbed.
Thank you for not giving a damn for my pain, for my issues, for my questions. Thank you for not answering my messages, my questions or even my expectations.
You made it easier. You made it faster.
Thank you for your unbreakable silence, your monosyllabic speach, your empty words. They've left enough space. And this space I filled with the worst possibilities, occupied it with my own version of the story. And I can swear to you, I've been living with the worst. I've been dealing with the emptiness day after day. I've been feeling lonely enough for grabbing any chance of conection with someone else. I've been so sad, that I get happy when the noises around me get to supress my outcry.
So far there's always something missing. But I really want to thank you 'cause seems to be closer the day in which I'll look at the past with indifference.
It's a climb. A sudden climb. The top is still cloudy. But I'll keep climbing.
The closer you get, the lighter things will be, and I'll get relief.

terça-feira, novembro 20, 2012

Carrega

Quantos passos são necessários pra que eu chegue lá? Quantos dias são necessários para que o passado se feche em si? Quanto tempo leva até que deixemos de esperar que a vida se dê em ciclos fechados? Quanta maturidade é necessária para que aprendamos a enfim lidar com perguntas sem respostas? Quantas vezes é necessário cair até que se levantar não seja doloroso? Eu tenho tentado agir normalmente, andar como andaria, falar como falaria, pensar como deveria. Eu tenho mantras que repito sempre que necessário, esperando absorvê-los e, enfim, colocá-los em prática. Eu tenho um copo que já tem o cheiro do álcool daquela garrafa de vodca que eu bebi todas aquelas vezes em que me lembrar foi dolorido. Eu tenho essa alma saudosista e esse cérebro nostálgico. Eu tenho essa graça esquisita de querer discordar da dor. Eu tenho tudo isso que hoje não me serviu pra nada.
Eu tenho tudo isso e, mesmo assim, dar de cara com esse lembrete infiel de algum passado me tirou um pouco do chão e da minha firmeza nos pés. Eu digo infiel porque ele vem com esse ar atraente de passado, mas com um gosto amargo e desapontador de um presente que se instala, peremptório.
Será que é demais que nessa vida eu peça por clareza? Será que se paga um preço muito alto pra ter respostas? Ainda que seja inútil ter certeza, eu estou aqui disposta a pagar pra ver.
Eu passo tanto tempo sem escrever, sem falar, sem sequer pensar sobre; e de repente a roda gira e troca as imagens na minha cabeça e incomoda um pouco a minha paz, só pra insinuar que talvez os nós não estejam atados. E eu pergunto pra mim mesma: como? Pra quê? Por quê? Na ausência de respostas, eu respiro fundo até que a minha mente se canse e troque de novo as imagens. E vem sendo assim uma vez a cada semana ou a cada mês.
A memória é um tanto traiçoeira, mas é igualmente falha. Daqui a pouco as coisas se ajeitam. Já diz-se por aí que o tempo se encarrega das coisas. Então, enquanto o tempo (se en)carrega (de) você, eu me (encar)rego de mais outra dose daquela vodca que já tem esse estranho cheiro de nós.

quarta-feira, novembro 07, 2012

Linha

Você se lembra daquela vez, aquela primeira vez em que a gente ficou abraçados sentindo o vento que passava varrendo a nossa timidez? E a gente ficou falando de nada, com cara de bobos, e você em algum momento, de propósito, bagunçou meu rabo-de-cavalo. E eu fiquei muito, muito nervosa. Tanto que, mesmo eu tentando disfarçar, você notou... eu não sei o que você achou da minha reação, se achou infantil, exagerada ou fútil, mas eu nem quis me explicar. Como eu iria explicar pra você que o único motivo que me fez ficar irritada com isso era o fato de que isso fazia eu me lembrar de que ele sempre fazia isso? Como eu iria te dizer que essa era apenas uma das pequenas coisas que me fazia sentir saudades de estar com ele? Acredito que, naquele momento, você não gostaria de ouvir nada disso...
Então o tempo passou, essas coisas foram passando e você foi ficando.
Eu achei que você era nada, que a gente era nada, que era só uma coisa sem nome, sem definição...
Sem nomes, sem regras, sem explicações, sem decoro... apenas eu. E você. Eu e você.
Até ontem, quando você estava outra vez abraçado comigo, outra vez nós sendo bobos, e outra vez você bagunçou propositalmente meu cabelo. E eu ri. E isso me fez lembrar apenas de você, e da gente, e foi aí que eu percebi que já é tarde demais, que eu cruzei a linha de segurança, que eu já estou do lado de lá... eu estou apaixonada, eu já me rendi. Não há formas de te tirar da minha vida sem que eu sofra ao menos um pouco; não há como te levar daqui sem desequilibrar um pouco meus passos; se você chega, se você sai, tudo isso afeta minha respiração...
Então tudo o que eu posso fazer agora é esperar.. esperar você se render, esperar você ser meu assim como eu sou sua agora, meu bem.
Então você poderia, agora, segurar minha mão e me dizer que não está sendo em vão?

sábado, outubro 20, 2012

Você chegou com um ar de quem estava só se divertindo... você me pegou de surpresa e roubou um beijo meu. E eu pensei que isso era tudo. Então você quis repetir a dose, e eu, não tão pega de surpresa assim, deixei... eu decidi que, se pela primeira vez em tanto tempo eu quis me envolver, eu faria isso. Mas sem pretensão, sem perspectivas, sem olhar muito à frente. Então 'a gente' não passava de uma coisa casual, até que, de um dia pro outro, você falou de mim pras pessoas, quis andar de mãos dadas, fez planos comigo... as pessoas olham pra mim esperando que eu diga o que é que eu estou fazendo. E a verdade é que eu não sei. E se você sabe, ainda não me contou.
Por que você está dizendo pras pessoas que eu sou mais do que algo casual, se você nunca me disse nada? Hoje eu senti algum medo, medo de estar enganada. Medo de ser pega de surpresa. Porque eu ainda não estou pronta pra nada dessas coisas que escapam do meu controle...

Sobre pertencer

E então eu voltei pra essa cidade fria e vazia, e - não sei se porque eu realmente procurei por isso, e/ou se porque eu precisava disso - eu projetei em você o meu porto-seguro. O lar, aquele que sempre está lá quando você precisa voltar. Aquele que te faz se sentir confortável, e que espera você e o seu momento. A decoração nem era do meu jeito, a fachada nem tinha a minha cara, mas era o meu lar...
Então esse mundinho sacana deu meia volta, sacudiu e te jogou pra fora do meu mundo. Foi pá-pum. Não tive tempo de pensar, de planejar, só vi você chegar sorrindo e comemorando, e tudo o que eu consegui fazer foi dar um sorriso de lábios cerrados e ficar por ali uns cinco minutos, até que eu sufoquei e procurei um canto escuro pra eu poder chorar e chorar e chorar. Por quê? Nossa, quantas vezes eu me fiz essa pergunta. Eu não entendi no início, nem sei se entendo agora. Mas é que, e aí? Você vai embora e eu o quê? Vou dividir com quem minhas coisas? Vou contar pra quem aquelas surpresinhas agradáveis ou não que o dia me faz? Vou cozinhar com quem? Vou ser ouvida por quem? É, a verdade é que agora, mais do que nunca, eu me sinto só. E eu estou, mesmo, só.
Passar a pertencer tem sido um processo trabalhoso demais pra mim...

quinta-feira, outubro 18, 2012

Ninguém se importa*

Enquanto você dorme… ninguém se importa.
O dia amanhece, anoitece, bebemos, ficamos sóbrios… ninguém se importa.
Sou o muro onde o medo se apóia, sou o nada que alguém quer usar… ninguém se importa.
Sou a pedra na rua que você vai chutar,
Sou lixo que quer descartar,
Sou o que você não sabe lidar.
Sou destrato com um confidente,
Sou importante como um indigente,
Sou nada em forma de imponente.
Ninguém se importa.
Sou o que você mal vai se lembrar…
Ninguém se importa.
Especialmente você.

*Texto de Artur Caneda

domingo, setembro 16, 2012

De novo

Abriu as páginas do livro velho - presente ganhado havia anos. Estava amarelado e gasto nas bordas, mas, abertas as páginas, um cheiro particular tomava lugar nos seus sentidos. Escolheu o capítulo que mais lhe marcou. Demorou a achar, mas quando o encontrou, leu-o novamente. E chorou.
Não, o drama que as páginas traziam não era nenhuma surpresa, e ele nem vinha dentro daquela fórmula melodramática e piegas. Era muito sutil - tanto que não chorara da primeira vez; mas a sua alma sofreu com a decadência ali presente, com a ausência do futuro, com o contraste entre a lucidez miserável e o delírio deleitoso; qual seria pior? A alma sofre com essas perguntas.
Mas não foi nada disso que a fez chorar. Foi a memória - que nos prega dessas peças. Foi a memória de uma voz, de um cheiro, de um sentimento, de uns sonhos. Foi a memória de uma época.
Lembrou-se da janela de vidro que dava vista para outra janela de vidro, e as janelas comunicavam melhor que qualquer telefone.
'_Mas não acaba, não. Não acaba nunca. A gente não deixa', falou-lhe um rosto turvo e uma voz um tanto indefinida.
Queria muito e de novo a fé que tinha, àquele tempo, de que podia e iria tomar as rédeas. Sofreu porque a vida, às vezes, não deixa escolhas. E sofreu porque percebeu que, quando a gente percebe, às vezes é tarde demais. Mas parcebeu-o tarde demais.
Tentou relembrar ao máximo, tentou quase reviver umas piadas, umas histórias, umas graças, uns carinhos. E chorava, e chorava, e padecia. Tudo isso até a alma se assentar e se acalmar e respirar.
Abriu, então, novamente o capítulo e começou tudo outra vez.

quarta-feira, setembro 12, 2012

Tarde

Eu me lembro de que eu estava quase curada, e eu tinha até outros braços em volta de mim. Eu tinha outros lábios atrapalhando o ritmo da minha respiração. Eu estava lá, um pouco perdida, um pouco deslocada, mas enfim, no meu canto. Então eu dei três passos e me deparei com ele. Eu torci um pouco o nariz, como que pra sinalizar o meu fechamento e a minha reprovação a tudo o que ele (não) havia dito ou feito até ali. Ao mesmo tempo eu mantive minha postura de pessoa sã e socialmente correta e interagi. Um assunto - certamente superficial - não se prolongou por muito tempo, e ele olhou pra mim com um ar um tanto incerto, um tanto indagador, e falou as palavras que eu esperei ouvir por muito, muito tempo. A gente precisa conversar, não é mesmo? Eu assenti com a voz, com a cabeça, com o corpo e com o espírito. E então eu comecei um diálogo interno me interrogando o que dizer e como dizer. É óbvio que não havia nenhum objetivo naquela conversa, mas que mal faz termos sede de entender o porquê das coisas? Todo, alguém diria. Dois segundos eu me retive nestes pensamentos e ele prontamente adiou o colóquio. Deu-me um motivo e pronto. Eu esperei muito por isso, pensei. Tudo bem. Antes tarde do que nunca. Teríamos tempo pra isso.
É (quase) sempre uma pena quando o sono acaba antes do sonho.

terça-feira, setembro 11, 2012

Em poucas palavras...

Why don't you get the fuck out of my life?

domingo, setembro 09, 2012

Queda

É uma queda vertiginosa, de uma altura muito elevada, desastrosa e constrangedora. Eu tento esconder os vestígios, mas às vezes fica difícil. Eu tento, nem sei por quê. Talvez pra poupar todos que estão por perto, talvez porque a distração é a melhor cura para o pesar. Tem dias que eu me levanto e vejo que preciso sacudir uma poeira da qual pensei ter me livrado. Tem noites em que eu me deito e penso que talvez o tempo - diferente do que diria Nicolas Boileau* - não passa assim tão rápido. Eu tenho vontade de escrever algo, mas eu não sei exatamente o quê, sobre qual assunto e muito menos pra quem ou com qual objetivo. Eu tenho vontade de falar algo, mas as palavras se embaralham no meu estômago, fazem alguma bagunça, sobem pelo esôfago e ficam encravadas na garganta. Eu tenho vontade de chorar, mas eu não sei se há bem um motivo, e é pretensão demais achar que eu posso sofrer assim, sem ter razão. Eu me esqueço dos motivos, eu ponho de lado as memórias, eu ignoro os sinais, e o que resiste, depois de tudo, é uma dor petulante e um vazio insistente.
Foi uma queda muito alta, mas as feridas já começam a parecer cicatrizes.

*"Depressa: o tempo foge e arrasta-nos consigo: o momento em que falo já está longe de mim."   

sábado, setembro 08, 2012

Tanto tempo

Faz tanto tempo desde aquela vez. Desde aquela última vez em que você chegou naquela van - com aquele cheiro tão nostálgico que me faz querer rir e chorar ao mesmo tempo -, e sorriu timidamente, reclamando o seu espaço naquele banco que, por um quarto de hora ou menos, era só nosso. Esse sempre foi o máximo de intimidade, sempre a menor distância entre nós. Eu me lembro bem de como você sorria sempre. Eu me lembro das nossas conversas, sempre com um ar tímido e galhofeiro, pra esconder a profundidade do que a gente dizia. Os seus sinais me confundiram, sempre, mas eu posso ver agora como você me quis. Eu posso ver que quando você me disse que ficou louco quando ouviu dizer que eu tinha alguém, não era brincadeira - no máximo, um exagero. Eu percebo agora que era verdade quando você disse que não via muita graça por lá desde que eu me fui.
Então passou-se um ano ou dois, e eu te encontrei de novo. Você naquela camisa azul de botão, parecia mais homem do que nunca. Parecia mais certo do que nunca. Mais resoluto do que nunca. Você se assustou um pouco quando me viu - talvez porque eu também parecesse mais mulher do que nunca -, e eu me demorei em te observar, como se pedisse timidamente que viesse até mim. E você veio. Você pôs seus braços em volta da minha cintura como nunca ousou fazer antes, você me apertou contra o teu peito, e eu me dei conta de que nunca havia sentido o seu coração - por isso mesmo eu não tinha como saber se o seu ritmo acelerado tinha a ver com nós dois abraçados ou se era sempre assim. Você me abraçou com tanta certeza que eu me apaixonei de novo.
Faz tanto tempo desde aquela vez em que eu sonhei com você, e você me pediu um beijo e eu acordei com o peito doendo pois era tudo mentira. E agora é verdade, quem diria.

sexta-feira, setembro 07, 2012

Foco

"Foco é coisa do passado. No mundo moderno, queremos sentir tudo o tempo todo. Não faz sentido em apenas dar um passeio no parque quando podemos também ouvir música nos fones de ouvido, mastigar um cachorro-quente, vestir solas vibratórias no seu máximo, e observar o carnaval ambulante da humanidade. Nossas escolhas berram o credo de uma nova ordem mundial: estímulo! O pensamento e a criatividade se tornam subservientes à meta singular de saturar nossos sentidos. Mas sou da velha escola. Se você não estiver preparada para se concentrar em mim quando estiver comigo – conversa, toque, nosso momentâneo entrelaçar das almas –, então sai da minha frente e volte para seus 500 canais de vida com som surround." (Neil Strauss)

sábado, setembro 01, 2012

Abismo

Eu estou aproveitando quase todo o tempo ocioso de que disponho pra ser a melhor pessoa do mundo. Fiz mil planos, quero aprender francês, li sobre o nazismo, estudei sociopatia, pesquisei sobre psicanálise, deixei de ser uma analfabeta da sétima arte, li sobre a teoria das cordas, vi documentários, até aprendi técnicas estadunidenses de interrogatório. Tudo isso porque quero ser alguém mais interessante pra mim mesma. É. É isso mesmo: pra mim mesma. Eu quero me sentar com pessoas cultas e ter segurança no que dizer. Eu quero gostar das minhas opiniões e dos meus argumentos. Eu quero ter justificativas pra tudo. Eu quero saber tudo de tudo. Eu sei, sim, que é impossível. Mas eu gosto da ideia de permanecer tentando.
Então, por favor, não venha ocupar meu tempo tentando me amar. Não se aproxime de mim querendo me conhecer. Não me chame pra ver uma comédia romântica no cinema de mãos dadas que hoje eu não tô pra isso. Não me mande uma mensagem dizendo que pensou em mim antes de dormir. Não me pegue pela mão, não faça amizade com meus pais, não conquiste os meus irmãos, não converse com os meus amigos. Não cheire o meu pescoço, nem faça carinho no meu cabelo, porque, olha, eu estou muito ocupada pra isso. Não me ligue todos os dias pra saber como eu estou. Não tente me conquistar. Olha, todo o mundo que fez isso nas últimas semanas ou nos últimos meses só conseguiu de mim um maior abismo emocional.
Me desculpa, eu tô ocupada demais comigo mesma, gostando de mim mesma, cuidando de mim e de alguns amigos, e estreitando aqueles laços que me fazem bem.
Então, por favor, não diga que minha voz é linda, nem que ama a frangrância do meu perfume misturada com o meu cheiro, nem pesquise as minhas bandas preferidas e nem busque formas alternativas de se aproximar. Porque agora eu não tenho tempo pra amar ninguém.

Os opostos se atraem

"Os opostos se distraem, os dispostos se atraem..." Realejo - O Teatro Mágico

Eu me prendi várias vezes nestes versos pensando no que pretendem dizer. Ou se pretendem dizer algo. Não os deixo de admirar pela sua forma, pela maneira como brincam com o ditado tanta vez repetido. Os opostos se atraem. Um tanto cliché, um tanto verdade. Mas me pergunto se aqueles versos (des)pretensiosos não guardam uma verdade grande demais: a de que ficamos perdidos, distraídos, buscando satisfazer-nos em nossos opostos, enquanto apenas os que se põem dispostos a amar algo além das primeiras sensações são capazes de encontrar o caminho para uma relação que, mais do que intensa, é sustentável, e em que haja, mais do que uma atração irresistível, compatibilidade. Será que, na busca por alguém que nos complete emocionalmente, não nos perdemos e nos distraímos numa série de experiências que, talvez por terem tudo pra dar errado, nos parecem excitantes e atraentes e desafiadoras?
Me passa pela cabeça que talvez isso seja uma forma de buscar um relacionamento que já esteja fadado ao insucesso para que, ao final, possa-se culpar as circunstâncias ou o desgaste do tempo ou a vida. Isso nos poupa de assumir o controle das nossa atitudes e, consequentemente, nos poupa de assumir certas responsabilidades. Não culpas, responsabilidades. Isso nos poupa de olhar pra um objetivo e vê-lo como algo a ser conquistado continuamente. Os dispostos se atraem porque estão decididos a lutar e a se esforçar em prol de algo. Porque não culpam as circunstâncias, mas se dispõem a tomar as rédeas da própria vida. Porque se põem a analisar e a fazer as próprias escolhas e a aceitar as consequências delas. E porque diariamente buscam formas de fazer caminhar algo que nunca iria funcionar sem esse esforço. Porque paixão passa, porque a convivência desgasta, porque o tempo extingue. Se não há dispostos buscando atrair-se, todo relacionamento está fadado ao fim ou a um estado lamentável em que a força do hábito e o medo de enfrentar o vazio prendem duas pessoas em uma relação insatisfatória e frívola.

quarta-feira, agosto 15, 2012

Air Crash

I'm flying high now, cause it's time for me to leave. I'm just trying to run away from us and our past. I'm sorry if it sounds weak, but strength it's not my gift, mostly because I have already tried to do my best. I took the first airplane, I left without saying goodbye. It wouldn't make it any easier to look into your eyes, since you told me that we don't match, don't work, don't fit, without showing any will of trying to fix my heart.
Now I'm in the middle of the air crash. I'm three thousand feet above the ground, but I've lost my fears for now. I'm gonna die in a split of second, I did a pray and I'm ready now.
Your face covers my sight, your name is all I know. My chest now is stagnant, and my lung seems so vain. But I can't understand the way I feel in soul. It's more and more calm as the fire washes the pain. But I can see your face just trying to believe it, and, even just for a while, you're going to be sorry for not holding my hands, for letting me to leave, and for a day or two you will revive our story.

segunda-feira, agosto 13, 2012

Uma breve reflexão...*

*Trecho do texto retirado do blog Just Wrapped

"[...] Isso porque apenas na vida real e não na ficção achamos razoável conviver com diálogos que não fazem sentido, pessoas que aparecem e desaparecem sem a menor explicação, eventos que parecem ser importantes mas não dão em nada e gente que passa seis anos reclamando da saudade que sente de alguém mas depois subitamente decide ficar com outra pessoa e dizer que tá tudo bem agora – here’s looking at you, Sayid. Na vida real gostaríamos de ver sentido, organização, arcos fechados com personagens que efetivamente se desenvolvem e terminam num final feliz, mas frequentemente temos que nos contentar com atuações questionáveis, gente agindo fora do personagem e eventos totalmente randômicos que não apenas não se encaixam na jornada do herói como ferem as leis de trânsito e até mesmo a constituição. [...]"

domingo, agosto 12, 2012

Teste

Eu me levantei da cama, mudei um pouco os meus planos, me arrumei, só porque eu tinha uma desculpa plausível pra te ver. Eu não queria te ver porque eu estava com saudade ou porque queria fazer piadas idiotas e te ver rir ou porque queria ficar do seu lado com as mãos nas suas o tempo todo ou porque queria me iludir acreditando que alguma coisa poderia mudar. Eu só queria me testar. E te testar.
Eu queria testar a minha capacidade de aceitação e o meu autocontrole e minha maturidade emocional. Eu queria testar a sua capacidade de ignorar tudo o que eu escrevi para você e sobre você e de olhar nos meus olhos com um sorriso empolgado e dizer um extenso oi. Eu queria testar a sua capacidade de ser totalmente indiferente ao fato de que eu vou voltar praquela cidade estranha e fria sem ter ninguém com quem contar e tendo decidido - de forma hiperbólica - que eu nunca vou recorrer a você, nem que eu esteja morrendo, porque você simplesmente me ignorou enquanto eu sofri. Eu queria ver você agindo normalmente diante de tudo e me tratando como aquela colega de turma de uns dois anos atrás, e eu poderia dizer aqui, pra causar algum efeito no texto, que você fingiu que não havia nada de errado, mas a verdade é que, de fato, você não lamenta por nada, e que pra você, de fato, não tem absolutamente nada fora do lugar.
Bem, você passou no teste. Eu não. Porque depois de tanto tempo e apesar de estar tão bem, eu tornei a chorar, uma ou duas vezes, não sei bem por quê. Talvez pela constatação de que eu tenha me entregado tanto a algo de que alguém se desfez sem sequer lamentar.

Mini-conto #5*

*Do blog Just Wrapped
Nós dois estávamos deitados na cama e ela tinha acabado de contar uma história. Coberta até o pescoço, se ajeitava no travesseiro enquanto eu encostava as pontas dos meus dedos descalços na sola do pé gelado dela, meio fazendo carinho, meio fazendo cócegas, meio fazendo nada. Ela pegou alguma coisa no criado mudo e virou pra mim, sorrindo. Eu sorri de volta e ela, encostando uma perna na minha, me perguntou “o quê?”.
Minha primeira reação foi dizer um “você é linda, sabia?”. Primeiro porque era verdade, ela era sim linda. Os olhos dela me desarmavam, o sorriso dela me deixava a 5 cm do chão, o jeito como o cabelo dela caia na testa mexia com sentimentos que eu nem sabia que tinha e possivelmente relacionamentos duradouros já tinham começado baseados em menos afeto e atração do que eu sentia pelo lóbulo esquerdo da orelha dela, num dia em que ela achava que estava “desarrumada e sem graça”, chegando do trabalho ou coisa assim.
Mas achei que um “linda” não seria certo, por conta das implicações. Afinal, se uma garota ouve de um namorado um “linda” ela acaba lendo naquilo uma mensagem implícita de que a aparência dela está sendo filtrada pelos sentimentos dele, ou seja, é um “você é linda porque eu gosto de você”. O que definitivamente não era verdade. Não que eu não gostasse dela, eu gostava muito, mas eu queria deixar claro que ela era linda como 0 kelvin é frio, os Beatles são bacanas e Mogo é o melhor Lanterna Verde: não era uma opinião, era uma constatação factual, fatal, quase científica. Naquele momento eu queria explicar, mas não soube, que ela seria linda pra um telescópio da NASA, para um visitante alienígena, pra um canoísta maori ou para um observador situado num ponto O, localizado na margem de um rio e que precisa determinar sua distância até um ponto P, localizado na outra margem, sem atravessar o rio. Lógico feito trigonometria.
Pensei em dizer que ela me fazia feliz. Que depois dela eu tinha tido contato com alguns níveis de empolgação, diversão e satisfação que eu só havia lido nos livros, visto nos filmes e observado constrangido nos desenhos dos Ursinhos Carinhos, com a vantagem de que ela tinha um gosto musical muito melhor e nunca precisou disparar raios coloridos em locais públicos, porque isso seria meio chato e constrangedor. Que em momentos assim, quando ela encostava no meu ombro, mordia meu pescoço ou apenas ficava deitada no meu peito, eu me sentia mais tranqüilo do que em casa, mais relaxado do que quando eu bebia, mais feliz do que quando eu fazia gol de bicicleta em noite chuvosa na última queda da pelada de quarta-feira. E deus sabe que gol de bicicleta – bicicleta mesmo, não tô falando de puxeta – é um troço muito foda e se eu fiz uns dois nessa vida foi muito.
E eu pensei em dizer isso. E pensei em dizer que queria que aquilo não acabasse, que a gente devia passar mais tempo assim, que queria tirar logo a carteira de motorista pra poder encontrar com ela no trabalho qualquer dia desses, que provavelmente nunca tinha gostado de ninguém daquele jeito e que eu realmente queria que ela se vestisse de batmoça em algum final de semana desses, ainda que esse tópico fosse totalmente não-relacionado aos assuntos anteriores e só tivesse a ver com o fato de que ela realmente ficaria muito gostosa de preto e com aquela máscara. Mary Marvel podia ser bacana também, se fosse o uniforme vermelho clássico e rolasse a sainha.
Mas quando ela piscou pra mim e, já rindo, me perguntou “ei, o quê?”, tudo que eu consegui fazer foi responder “o que o quê?”. Aí ela devolveu um “o que o que o quê?”, fizemos uma piada boba sobre aquilo ter virado um passa ou repassa e a possibilidade do Celso Portiolli sair gritando “valendooo” de dentro do banheiro. Daí voltamos a conversar e bem…acho que as vezes existem coisas que a gente apenas não sabe como dizer, por mais que queira.
E não, não tô falando apenas do lance da Mary Marvel.

terça-feira, agosto 07, 2012

Estranharte

Conversas cotidianas substituidas pelo tiquetaquear frenético de um relógio silente, aquele que marca o tempo psicológico, e que avança e regride ao longo dos dias, contrariando os nossos desejos mais profundos. O meu relógio parou pelo que pareceu uma década, mas eu devo estar enganada, porque só se passou uma folha do meu calendário. Olhares chegados permutados em ausência. Uma ausência tão real que chega a ser palpável.
Essa ausência que quase chega a ser palpável, por certa década que meu relógio pareceu marcar, substituiu o ar nos meus pulmões, substituiu meu apetite e algumas outras coisas que costumavam ser vitais. Mas tudo isso apenas por um período de desconhecimento e vazio mental. Me deparei com muitas formas do desconhecido, e cresci um pouco, também. Mas você consegue imaginar o quão assustador é você plantar uma tulipa, e regar, e regar, e um belo dia você olhar pra ela e não conseguir reconhecer a flor que você escolheu? Não saber dizer se é uma rosa, ou se é um girassol, ou se morreu, ou se secou? É como se algo muito estranho pairasse sobre ela, obliterando sua visão e te impedindo de chegar mais perto?
Eu nunca pensei que poderia ser tão perturbador olhar em volta e se dar conta de que o que era familiar se tornou obscuro e intocável. E eu tenho cada vez mais terror e medo e desconfiança de tentar alcançar tudo o que te diz respeito. É cada vez mais difícil pensar em você. Em quase todos os sentidos possíveis. É cada vez menos frequente, menos verossimil, menos justificável.
Quando você atravessa minha mente, quando eu me lembro de nós, quando, sem querer, eu me imagino falando com você hoje, tudo soa surreal, improvável, quase impossível. Parece-me que tem muitas peças faltando. Você-ontem, você-hoje, não são as mesmas pessoas pra mim. Daí eu me dou conta de que na realidade são, sim, e me pergunto onde é que eu estou enganada, então? Então passa-se meia dúzia de minutos e eu me canso porque não há nenhum objetivo em chegar a qualquer conclusão. Sim, eu me canso rápido. Porque nada disso me leva a lugar algum.

terça-feira, julho 10, 2012

Pessoas são como roupas

Porque a vida é um ciclo, e os mesmos sentimentos nos tomam mais de uma vez, com diferentes intensidades, eu torno a postar este trecho. Mas, felizmente, assim - ou quase assim - como vêm, os sentimentos vão.

"Não foi fácil ficar sem você. Alguns enjoos e um pouco de vômito me acompanharam no início, mas depois só sobrou a mágoa. E em seguida inveja.
Mágoa por ter desistido tão rápido de mim.
E inveja por ter conseguido."

Por @ma_b. Trecho extraído do texto "Pessoas são como roupas" do blog O Diabo Veste Renner.

segunda-feira, julho 09, 2012

E se...

E o que acontece se eu escolher correr sempre o risco de me arrepender por algo que eu fiz? E se eu nunca mais deixar de fazer o que eu quero ou o que me der vontade? E se eu não hesitar em dizer tudo o que me vem ao peito? Será que é verdade que os dias passam e a gente aprende?

domingo, julho 08, 2012

Outro presente

Toma, eu tô te dando. Pega esse embrulho, vai. Mas não esconde atrás do guarda-roupas, não enfia debaixo da cama. Abra. Abrace. Depois guarde no peito. Toma aí, vai, um pouco da fé que eu tenho em você.

Eu não sei por que você está passando agora. Seria hipocrisia dizer que eu já vivi isso, ou que eu consigo imaginar o que você tá sentindo. Mas se eu pudesse, aqui e agora, juntar toda a fé que eu tenho em você, eu te mandaria por e-mail ou por correio ou levaria comigo e te entregaria pessoalmente. Porque é muito devastadora essa força que eu tenho no peito pra acreditar em você. Você é linda e inteligente e esperta e engraçada e agradável e gentil e amável e interessante e franca e sincera e o que mais eu posso dizer? Que você tem tudo pra ser amada? Sim, você tem. É verdade que talvez as pessoas às vezes nos oferecem  um amor limitado e pouco e mesquinho. E é verdade que as pessoas geralmente amam por motivos errados ou pequenos ou egoístas. Mas também é verdade que há pessoas no mundo que sabem amar de forma completa e que sabem se entregar e que sabem juntar o vazio que têm no peito pra se preencher mutuamente. Neste ponto, meu bem, você está enganada se pensa que é o único exemplar neste mundo. Te amar, pra quem está a sua volta, é quase compulsório. Então apenas deixe. Deixe as pessoas te mostrarem que não acabou. Que não é por ai. Deixe as pessoas se aproximarem, e talvez até te amarem pelo motivo errado, até entenderem, então, qual é o certo. Porque quando elas chegarem onde eu cheguei, quando elas encontrarem você por completo, quando elas alcançarem o lugar que poucos conseguem alcançar, elas não vão querer sair.

(Mas, é claro, eu estou falando daquelas pessoas que sabem amar.)

terça-feira, julho 03, 2012

Desculpa

Você chegou olhando em volta com esses seus olhos profundos e com esses cílios longos e grossos que parecem querem proteger o tesouro que o seu olhar guarda. Porque é sempre sobre os olhos? Mas os seus olhos me prenderam. Eu olhava pra senha. Olhava pro relógio. Olhava pra você. Nossa, como você é charmoso. Você riu com aquele olhar de 'eu já sei disso'. Mas deve ser impressão minha porque eu não falei  isso em voz alta e você estava a uns cinco metros de mim e o barulho na fila do banco impediria que você me ouvisse e você sequer tinha notado a minha presença. Eu te olhei desejando que o cenário fosse outro. Eu te olhei querendo amar. Eu pensei em você o dia inteiro porque eu senti vontade de amar alguém só porque os olhos são profundos e a voz é suave. Eu imaginei você e eu e minhas mãos e seus cachos e uma rede e um vento e o mar diante de nós. Eu desejei você me olhando e não conseguindo fugir do meu olhar e pensando num jeito de pedir meu telefone. E eu te daria mesmo sem você pedir porque eu adoro caras tímidos. Me olha, vai? Me deixa ter uma boa desculpa pra pensar em você assim. Eu sou mesmo uma adolescente babaca que se apaixona na fila de um banco? Ou é só mais um acesso de carência de uma mulher em tensão pré-durante-pós-menstrual? Você passou por mim deixando um cheiro de lavanda e flores. Ou talvez seja só impressão minha. De repente você já estava quase na porta e eu achei que eu estava apaixonada por alguém que não notou minha existência. Mas então você parou, olhou pra trás e me atingiu em cheio com o seu olhar certo e profundo dentro dos meus. Aí você sorriu e se virou e se foi porque não havia nada mais a ser feito. E nada disso faz sentido, mas eu vou dormir pensando em você.

domingo, julho 01, 2012

Antes do tudo, o nada

Antes que se componha uma melodia inesquecível aos ouvidos, faz-se necessário um extenso silêncio pra permitir que a mente vague e que a criatividade repouse divina sobre o artista. Antes de um grande passo, um momento de pausa e de reclusa para que se tome os ares e a coragem para levar a cabo a decisão. Antes de juntar as mãos e prender o coração, é preciso ficar só e dar-se por inteiro a se conhecer. Antes das palmas calorosas e do reconhecimento, a dor sincera no peito que faz sentir-se real a tragédia, que faz valer o drama da peça. Antes da obra-prima que se reconhecerá por séculos, o quadro branco, seco e igual a fitar o artista. Antes da estreia repleta das gentes e dos sorrisos afetuosos e de expectativa, os ensaios fechados e as palavras recitadas ao vento. 
Antes do tudo, o nada. Para que aquele se faça reconhecer.

terça-feira, junho 26, 2012

Posso?

Me desculpa a frase vulgar e pouco original, mas eu quero te conhecer, posso? Me deixa te pagar uma bebida, mas dessas que têm a dose generosa, pra que eu possa ouvir mais tempo sobre você. Mas não me leve a mal. Eu não estou aqui porque o bolso da sua calça denuncia que você pagou muito caro por ela, ou porque seus olhos são os mais lindos desse lugar. Eu estou aqui porque você tem esse ombro curvado de quem pede desculpas por algo, de quem lamenta pela vida, de quem se sente indignado. Estou aqui porque seus olhos azuis acinzentados - difícil definir com essa luz inquieta - se fecham quando você dança. Porque seus olhos não procuram um corpo atraente pra se ajuntar. E eu quero te conhecer, sim. Mas eu não quero saber qual curso você faz, nem qual seu restaurante preferido. Eu quero saber qual a primeira palavra que você disse, e do que você tem mais medo nessa vida. Eu não quero saber quantos anos você tem, nem a cidade em que você nasceu. Eu quero saber se você tinha um balanço no quintal da sua casa, e o que você pensa de pessoas que tiram a própria vida. Eu não quero saber seu endereço, nem o número do seu telefone. Eu quero saber em quem você pensa quando tudo parece meio fora do lugar, o que te tira o apetite e o que te causa calafrios. Eu quero saber quem foi a primeira pessoa que te decepcionou, e o que você acha da morte e da vida. Eu quero saber se você dorme de costas ou de barriga pra baixo e se suas mãos suam quando está nervoso. Eu quero saber se você sai e sorri quando está triste ou se você se esconde. Eu quero saber o que te emudece, e o que te faz ficar sem ar. Eu quero saber se você gosta de café forte ou de sobremesa. Eu quero saber se você fecha os olhos ou se canta alto quando ouve sua banda predileta. Eu quero saber se você segura pelas mãos pensando em nunca deixar partir. E não tem como eu saber nada disso te vendo dançar aqui de longe, ou vigiando suas redes sociais. E é por isso que eu estou aqui, te pedindo: por favor, me deixa te conhecer. Posso?

segunda-feira, junho 25, 2012

Aventura

Estar só é uma aventura. É se sentir desafiado e acordar várias vezes e pensar em todos os motivos que tornam boa a sensação de estar assim. É deitar várias vezes pensando em todos os inconvenientes. É dormir alguns dias angustiado pensando se é mesmo a melhor decisão. E em outros extasiado pelas sensações vividas em tal condição. É ter medo e faltar coragem pra mudar a própria condição. É, às vezes, não querer abandonar a própria solidão pra enfrentar o novo. É duvidar. É se perguntar. E, depois, se tranquilizar porque faz todo o sentido, pois foi sempre melhor assim. É uma liberdade condicional. É uma liberdade que não se pode dividir. Compartilhar. É uma liberdade solitária. É poder sempre experimentar o novo e ainda assim não querer. Mas estar junto não é quase tudo isso, também? Se perguntar, se assustar, suar as mãos e temer o novo? Se acomodar e encaixar a cabeça em outro peito e esperar? Dormir amando e dormir odiando às vezes? Se perguntar, duvidar, e ainda assim faltar coragem pra dar um passo? Eu não sou cética a ponto de achar que não se pode amar ou que um amor bem cuidado não possa durar pra sempre. Mas também não sou ingênua a ponto de acreditar que paixão não tem data de validade, e de achar que -sempre- o amor vem com pisca-pisca e trilha sonora que te sinalizam com toda a garantia de que é a escolha certa. Nem os muros modernos de vidro blindado do seu sonho de lar conseguem cercar as dúvidas que virão, as incertezas que repousarão sobre o seu sono, tornando-o desconfortável. Nem as fotos que você mostra pros amigos e as músicas que você canta no pé do ouvido vão impedir que, em certas noites, o travesseiro pareça pedra debaixo da sua cabeça. Nem sempre quem te ama vai te ligar de madrugada só porque não consegue dormir brigado, tornando os seus pesadelos em sonho bom. Às vezes você vai dormir odiando sua escolha. E apesar disso, vai acordar amando. Ou, no mínimo, esperando o melhor pra si. Mas é sempre assim. É essa eterna insatisfação que permeia o ser. Essa eterna negação de nossa condição limitada. Estar só é uma aventura. Estar junto também. Viver, por si só, basta pra que nos sintamos com um vento de cento e oitenta quilômetros por hora batendo no rosto e pra que sintamos a adrenalina esquentar as veias e dilatar as narinas implorando por mais um pouco de oxigênio, pra termos fôlego pra aguentar a próxima descida dessa montanha russa que é a vida.

Calma

Mais que uma necessidade, importa que o amor seja uma escolha. E que faça bem pra alma. Que venha a enlouquecer sem que faça perder o juízo. Que faça doer, mas que, concomitantemente, venha a ser a cura. Calma, importa que haja calma.

Sonho

Eu não entendo porque você disse pra minha melhor amiga que, além do que nós dois sabemos, o nosso problema era tempo. Não foi três meses nem duas semanas nem cinco dias, mas um ano que a gente enfrentou só com ligações e mensagens de celular e finais de semanas corridos e intensos, e o nosso amor pareceu dar conta, não? Eu não entendo, porque eu nunca te disse que a gente, só, não bastava. Eu não tenho dez anos de idade e por isso não vou dizer por aqui que nada disso me aflige, e nem vou mentir por aí que eu sei amar apenas quem me ama de volta. Eu não vou negar que meu coração doeu várias vezes por dia todos os dias até hoje. Mas é que hoje, pela primeira vez, em meu coração sobrou espaço pra eu sentir um pouco de raiva. Raiva da sua displicência e do seu descaso com esse fim torto e frio. E nem é isto que me incomoda: já faz algum tempo que eu parei de desejar as respostas certas pra minhas perguntas e resolvi seguir em frente. Mas é que você não pode. Não pode dizer que me ama demais e que tem medo de nunca mais amar ninguém dessa forma e logo depois sumir e me magoar conscientemente e depois por um fim em tudo dizendo ter medo de me magoar novamente. Você não pode me ligar no meu aniversário e me desejar os parabéns fingindo que não ignorou a mensagem enorme que eu deixei na sua caixa de entrada contando toda a minha dor. Você não pode ficar aí do outro lado fingindo que não é nada. Não pode porque nada disso faz sentido. Então, faz favor, seja coerente, pega seu celular, me liga e diz: 'há muito tempo eu deixei de te amar, e é por isso que eu não me importei em responder a sms que você me enviou numa madrugada qualquer. Ei, eu não quero ser seu amigo, não. Eu só disse isso naquela conversa porque é isso que as pessoas esperam de mim. E é isso que eu estou fazendo: dizendo às pessoas o que elas querem ouvir. Porque, eu?, eu não me importo. Mas olha, eu não te contei porque não queria te magoar.' E sabe o que eu vou dizer: tá tudo bem. Porque isso assim, claro, preto no branco, isso é mais fácil de aguentar. Hoje, no meu coração, sobrou espaço pra eu achar que o nome disso tudo é fraqueza. Não tem culpa você não me amar, eu posso lidar com isso. Mas não finge que não é nada. Esse texto eu escrevi ontem num papel e ele acabaria aqui, não fosse o fato que eu dormi e sonhei com você. Pela terceira noite seguida, creio eu. Mas este sonho foi mais forte, mais marcante, mais real. E, nesse sonho, você morreu. E eu nem me lembro de ter visto seu rosto ou de ter ouvido a sua voz ou de ter te tocado. Mas eu me lembro que todo ele foi em volta deste fato. E, no sonho, eu chorei na frente de todos sem parar, e até me senti culpada. E sabe como eu acordei? Com os olhos encharcados, com o peito doendo, com uma angústia desesperada e vontade de gritar. Depois de pensar que o sonho não tem nada a ver, eu comecei a achar que ele tem muito a ver. Há o que eu considero muito tempo eu não sei de você, eu não ouço de você, como se você tivesse escolhido morrer pra mim. E eu até me culpei por tudo isso mas eu sei que não devo. E eu chorei e fui fraca e me expus pra quem quisesse ver. E eu não gosto muito de sonhos quando eles parecem muito reais, porque trazem à tona coisas adormecidas. E parece que a gente acredita tanto que é verdade, que todo o sentimento toma conta do nosso coração como se fosse isso mesmo. Mas hoje eu estava andando e pensando nisso, e pensei que, talvez, isso tenha um lado bom. Talvez você esteja desocupando a minha consciência pra tomar lugar no meu subconsciente. E isso vai ser apenas por algum tempo. Daqui a pouco você não vai mais ser meu dia-a-dia, como o tem sido: vai ser lembrança. E depois de mais um tempo eu vou me esquecer de lembrar e, apenas um dia ou outro, alguma música ou um cheiro vai me lembrar de algo que eu não sei o quê. E, no início, eu vou saber que é de você, mas vai chegar o tempo que eu não saberei mais dizer do que eu sinto nostalgia. E vai se passar mais algum tempo até que outros cheiros e outras músicas me façam lembrar de outros momentos bons e de outras pessoas, e até que tudo isso fique  impregnado única e simplesmente nestas palavras que aqui estou deixando como prova. Não há objetivo algum em vir aqui e escrever sobre todas essas coisas. Mas isso me faz mais leve. Já pensei em apagar este blog, pra nunca mais escrever sobre você. Mas aí eu penso que só me faria mal. Perdoe-se me as sucessivas digressões. Mas não há objetivo algum porque você não vai ler nenhuma dessas palavras. Mas é que tem outras pessoas que passam aqui de vez em quando, e é como já dizia a Tati: publicar é uma forma de pedir emprestado o peito do outro porque no meu não cabe essa dor. Pelo menos é assim que eu me lembro das palavras. Mas não importa. Esse texto não tem nenhuma frase final, nenhuma conclusão. Porque esse é daqueles textos que eu não escrevi pra alguém ler ou achar bonito ou gostar de como as palavras soam. Esse texto é pra me servir, pra me esvaziar desses pensamentos, pra me desaturdir. Porque tenho sido muito prolixa quando o assunto é você e eu já me esgotei de falar - acho que eu já disse isso, né?

[...]
"A tristeza me fez um milhão de vidas essa semana. Um milhão de almoços e jantares e projetos. Eu sorrindo, implorando às distrações que me levem, que façam remendos em meu peito perfurado pela violência do ar que não assovia mais os seus sons.
A tristeza me fez cortar o cabelo e pintar de loiro. E me fez aumentar os pesos do pilates. E me fez prometer alguma sedução para alguém que jamais receberá nada de mim. Não existe nada mais triste do que essas coisas de dar a volta por cima e essas coisas de tocar o barco e essas coisas de sacudir a poeira e essas coisas medonhas que a gente fala ou pensa ou ouve. A tristeza são frases vazias e feitas e tediosas saindo de bocas vazias e feitas e tediosas."*

*Trecho do texto Triste, de Tati Bernardi.

sábado, junho 23, 2012

Presente

Veio embalado, e o embrulho era tão bonito que eu tive medo de me decepcionar outra vez. Abri com medo e, não fosse o cartão que dizia ser pra mim, eu não acreditaria. Era melhor do que eu podia esperar. Não. Era muito mais do que isso: era melhor porque eu não esperava. Eu que tinha conseguido colocar a dor num canto seguro do meu coração, eu que já tinha me habituado a ela, que já conseguia dormir em paz apesar dela, que já conseguia andar sem tropeçar no próprio pé, que já conseguia sorrir sem precisar de motivos pra isso, eu achei que estava no cume. Achei que era o melhor que a vida poderia me oferecer. Eu não esperava que a vida, como uma surpresa agradável, te pusesse na minha porta dizendo que queria segurar as minhas mãos e me levar pra algo novo. Dizendo que havia no mundo mais do que meu quarto e meu computador, e que lá fora a vida podia também ser interessante. Não esperava você tentando me convencer de que a vida pode ser mais do que a dor. E que eu não precisava de ser madura para lidar com a dor se você podia me mostrar outra fonte de felicidade. Perdoa o meu medo e a minha indignação. Mas é que ser amada sempre foi demais pra mim. E, se eu tivesse escolha, eu estaria agora rejeitando cada passo que você dá em minha direção. Mas desta vez eu não sou capaz, porque você me prendeu dentro dos seus olhos. E as suas palavras todas parecem querer dizer: vem, que eu tenho algo mais pra te dar. Desculpa, mas é difícil entender que um anjo assim saia do jardim-paraíso e venha só pra me buscar do meu poço fundo. Sorriso bobo no rosto, mãos trêmulas e estômago nauseado, mas tudo, desta vez, por um bom motivo: você. E eu. Você e eu. Por tempo indefinido. Eu não toquei seu rosto. Eu não senti sua boca ainda. Mas vai ser em breve, meu bem. E eu sei que vai ser melhor do que tudo.

Cura

Tenho me tornado monotemática e, o pior, verborrágica. Meus pensamentos são reticentes e meu silêncio, irresoluto. Não é que eu queira falar de você. Na verdade eu não quero. Eu apenas falo e parece ser maquinal às vezes. Hoje eu dei um passo. E, por mais que possa parecer que tenha sido um passo na sua direção, eu sei que o que eu desejava era ir na direção contrária. Como se significasse 'ei, já há algum tempo eu estou pronta pra partir'. Eu quis me dirigir a você. Eu quis falar com você. E quando o quis, desta forma o fiz. E, por isso, sou leve agora. Eu não guardei nem mágoa, nem amor, nem saudade, nem sentimento qualquer destes que encheram o meu peito. Tudo isso o disse da forma como me veio no peito e como me subiu à boca. Tudo isso pus pra fora com muita sinceridade e pouca reserva. Não o fiz por ti. O fiz por mim, creia-me. E, se eu me dirigir a você, não me tome por inconsequente: eu bem sei o caminho das coisas. A minha palavra diz o que quer dizer. Eu, que sempre fiz questão de ser bem interpretada, muito me explico quando se faz necessário. Mas, quando a palavra é pouca, é igualmente pouco e simples o que quero dizer. Eu sei que o mundo pode me tomar erroneamente pela forma como me manifesto. Mas eu conheço as minhas motivações, e isso tem bastado pra minha consciência. Eu tenho dormido tranquila, eu tenho me sentido muito bem só, eu tenho tido apetite e tenho saído do meu buraco escuro. Eu tenho pensado em muitas coisas diferentes de nós. E, quando você me vem à mente, vez em sempre, é com paz que meu coração abarca esses pensamentos.  E eu enfrento a dor, e não a postergo, pois quando o meu passo for na direção de outro alguém, eu sei que vou estar limpa e sem sequer desejar olhar pros lados pra ver se você está ao meu alcance. Eu não tenho procrastinado a minha paz, sequer os meus afazeres. Porque a vida não espera, e é aqui e agora que eu vou me curar de você.

quinta-feira, junho 21, 2012

Fica

Não vai. Fica. Eu sei que eu não tenho sido a melhor companhia nos últimos tempos, mas é só você que me deu esperança de que eu poderia amar novamente. Espera. Senta do meu lado. Entrelaça seus dedos nos meus como costuma fazer, segura firme. Finge que nunca vai soltar. Me olhe nos olhos e me constranja. Eu sei que eu não te amo agora, mas se você me der algum tempo. É só o teu braço quente que eu quero agora, e a sua paciência. Eu sei que você me esperou por dias e meses e anos e eu não posso prometer que chegaremos a lugar algum. Mas eu gostaria de que você esperasse que os meus pés estivessem firmes antes de voltar a caminhar novamente. Pra, quem sabe, assim poder andarmos juntos. Gostaria de que você esperasse que essas feridas no meu peito virassem cicatrizes, e que as cicatrizes virassem passado, antes que enfrentássemos esse vento que ameaça vir. Eu sei, não vai ser fácil, mas eu juro que me esforço. A vida debulhou-me, desfez-me, me pôs em pedaços pequenos. E hoje eu sou tão pedaços que já nem me lembro a razão de assim estar. Mas é que hoje eu olhei nos seus olhos e tive esperança. Esperança de que algo novo e que, ao mesmo tempo, sempre esteve aqui, essa mistura de ansiedade e chão-firme, esperança de que isso, sim, seja a resposta pra o que eu estou sentindo agora. Me dá um tempo e, eu juro, eu sei que posso te amar.

segunda-feira, junho 18, 2012

Caminho em frente por sentir vontade.

Eu estou disposta a esquecer-nos de vez, a deixar pra trás, a ser passado. A ver esse 'nós' como pó de mobília velha, que a gente limpa pra fazer parecer nova. Eu estou disposta porque, mesmo com tudo aquilo que me dizia que poderia não ter sido, eu soube ser. E fui da melhor forma. Eu estive, eu vivi, eu senti. Eu simplesmente fui. Eu não amei com medo, eu não abracei com receio, eu não segurei fracamente pelas mãos. Então sei que não há nada de que eu precise me arrepender agora. Eu estou disposta a nos deixar pra trás, a me lembrar dos momentos bons e desejar tudo isso, de novo, mas com outro alguém. E enquanto não houver outro alguém, eu estou disposta a ser feliz só, sem precisar colocar o seu rosto na minha esperança, sem precisar colocar sua presença no meu futuro. Eu estou tão disposta que está começando a funcionar. Eu estou disposta a não te falar da minha vida, não por acreditar que você não dá a mínima, mas porque eu não dou. Eu estou começando a não desejar dividir com você, a não esperar que você estivesse, a não querer que você fosse.
Eu fiquei tão zonza de tanto pensar em nós dois nas últimas semanas que eu só quero conseguir dar um passo à frente sem tropeçar. Eu me tranquei no meu quarto por tanto tempo, eu me afundei tanto no colchão sem conseguir dormir, que me obriguei a enfrentar cada pensamento meu, por mais dolorido que fosse. Porque eu sabia que não fazia sentido, que a humanidade tem problemas demais, que as pessoas passam por problemas reais, e que eu não poderia não saber enfrentar esse ínfimo desvio de curso, essa dor vulgar. Eu pensei tanto em tudo isso, que as pessoas me perguntam de nós dois e pela primeira vez eu não tenho nem vontade de falar, porque parece que já cheguei a todas as conclusões, e que nem sofrer mais faz sentido. Nem reviver tudo vai fazer melhorar ou doer mais. Não há nenhum efeito ansiolítico nem mesmo em esperar naquilo que fomos. Tem pessoas me cercando e esperando só meu coração se sentir pronto pra amar. Tem pessoas à minha volta tentando me amar e eu não quero nem te contar isso. Tem pessoas querendo me emprestar o peito pra apoiar a dor que eu andei sentindo. E eu só quero sobreviver. E estou disposta a muito, muito mais do que isso.

sábado, junho 16, 2012

Reexistir

A arte pode se revestir de tantas formas aos nossos olhos, ouvidos, aos nossos sentidos. Viver é ressignificar diariamente o que recebemos do mundo. Vivemos em ciclos, e o que muda é a forma como recebemos e como respondemos aos estímulos que a vida nos dá. Se isso não é amadurecer eu não sei o que é. Não basta existir. É necessário reexistir. Hoje ouvi essa música, talvez, pela milésima vez. E ela conseguiu passar pelos meus ouvidos trazendo sensações e significados muito novos:

Eu acho que tenho certeza daquilo que eu quero agora
Daquilo que mando embora, daquilo que me demora
Eu acho que tenho certeza daquilo que me conforma
Daquilo que quero entender, e não acomodar com o que incomoda
Não acomodar com o que incomoda mais
E quando eu vou é quando eu acho que onde é que eu tô é pouco e tanto faz
Seja o que for, seja o que surge e some, seja o que consome mais
Seja o que consome mas... Faz
E a historia que nem passou por nós direito ainda, pra onde é que foi?
"Criado Mudo - O Teatro Mágico"

quarta-feira, junho 13, 2012

O homem que não chorava

Ouvi dizer que não chorava. A mãe morreu quando ainda criança e dizem que ele não derramou nenhuma lágrima. Eu quis ver de perto. Soube mais tarde que a primeira mulher faleceu num acidente e ele é quem dirigia o carro. De novo, nada. Ele se deitou sobre o caixão, beijou o rosto mórbido da amada, e isso foi tudo. Pensei por um momento que fosse talvez frio, sem sentimentos, sem pesar. Pensei também, talvez, que fosse forte. Forte o suficiente pra lidar com a vida e seus espantos. Mas percebi no seu andar, nos braços rígidos ao lado do corpo, na forma como olhava e não via, na forma como a vida passava por ele. Percebi que ele chorava com a alma. O seu rosto se retorcia. Ele não era ninguém. Ou pior, ele era o mesmo menino que perdeu a mãe lá atrás. Era o mesmo homem apaixonado que acabara de perder a jovem esposa. Ele era o revés em pessoa. Pobre homem, não vivia em paz. Não chorava da forma tradicional. Não com lágrimas. Chorava com os olhos, que ficavam perdidos entre os estranhos que atravessavam seu campo de visão. Chorava com as mãos, que se escondiam, acuadas, em seus bolsos o tempo todo. Chorava com o corpo rígido, com a pele pálida, com a derme gélida. Chorava com os pés pesados, com passos irresolutos. Chorava com o coração que, saltado a cada segundo, tornara-se incapaz de amar. De amar pessoas, amigos ou a arte. Chorava com o pulmão que lutava para conquistar o ar oxigenado que vinha de fora. Chorava com os rins que se exauriam tentando sobreviver a noites seguidas de bebedeira. O céu abundado de estrelas e ele tinha os seus olhos firmes no chão cinza e sujo pelo povo que passava descuidado da dor alheia. As ondas gritando, se debatendo por um olhar seu, e ele chutava a areia sem se dar conta. As árvores lhe dando sombra e soprando o vento das folhas e ele caminhava arduamente sob o Sol cálido. Ele chorava com a alma porque escolheu chorar. Porque escolheu olhar pra dentro e se esqueceu de gemer pra fora. Se esqueceu de viver pra frente e escolheu morrer com o passado. E era tão maquinal que já nem se dava conta. Não vivia mais a sua vida. Ao invés disso morria a morte de outrem dia após dia. Seria esse o seu fim?

terça-feira, junho 12, 2012

Passa

Hoje pela primeira vez meu estômago acordou calmo. Hoje pela primeira vez meu cérebro pensou em outras coisas antes de você. Hoje pela primeira vez eu não senti desespero. Talvez uma palavrinha sonoramente até parecida, mas desespero não. Hoje pela primeira vez eu sinto esperança. Não dá pra apostar muito alto no que eu estou sentindo hoje. Acho que eu estar escrevendo sobre você prova a obviedade disso. Mas hoje pela primeira vez eu não tenho pressa de que passe. Paz, eu acho que é a palavra certa. Porque pela primeira vez eu sei que vai passar.

Só (você)*

*Texto de Karolina Figueiredo. Encomendado por mim, risos.

eu amava as mulheres. todas elas. a feminilidade sempre me encantou mais do que um par de belas pernas. a sensualidade de me atrair pelo olhar, pelo toque meigo que apenas uma mão feminina pode oferecer, a voz suave ao acordar, a inteligência emocional, a sensibilidade, o cabelo curto e a franja caindo nos olhos. ou os cabelos longos caindo na boa. a perna arrepiada quando uma mão masculina a toca. eu amei tudo isso. amei os desafios, os jogos sexuais, as transas em lugares inusitados. tanto amei que vivi disso. toda a adolescência impulsionada por relacionamentos fugazes e perigosos. então no verão de uma década qualquer, eu esbarrei na única mulher do bar que não vestia poucas roupas. e ela não sorriu com meu pedido de desculpas, pois nem parecia reparar o mundo à volta dela, então eu insisti num drinque. ela aceitou como quem não tem nada a perder e a partir disso nos tornamos nós. foi a única mulher que me manteve mais interessado no que tinha a dizer do que a mostrar. não porque eu seja um pervertido, não me entendam mal, mas é que conversar eu posso fazer com qualquer pessoa. posso ligar pro meu psiquiatra a qualquer hora que ele me atende, mas eu era viciado em sentir o cheiro das mulheres. vê-las desfilando, se trocando, rindo de alguma piada minha, me tocando, se maquiando. cada uma fazendo as coisas à sua maneira: umas quando bravas controlam a voz quase já não suave, outras lançam olhares ansiosos e aguardam a percepção e bom senso do outro, ou as que, muito bravas, se tornam impulsivas e exalam sua raiva na altura da voz. mas você pela primeira vez me fez imaginar como seria uma mulher brigando com nossos filhos em vez de eu querer saber que som você faz quando atinge o orgasmo. você, com seus pontos de vista avessos e incomuns, me fez encontrar em você mais mulheres do que todas com as quais já dormi. e é claro que eu não descobri isso numa noite apenas. foi necessário te convidar várias vezes pra sair e forjar encontros acidentais. eu que vivia rodeado de mulheres fui atrás de você. mas você não foi suficiente. e não foi necessária muita inteligência da sua parte pra saber que vocÊ não era exclusiva. eu sempre achei que amasse mais as mulheres do que apenas uma. você sabia que eu preferia sua companhia, seu toque, seu sexo oral, sua voz agressiva, sua voz suave me ajudando a escolher a gravata. mas você também sabia que quando eu viajava a trabalho eu procurava outras mulheres, não pra suprir a sua falta física, e sim porque eu não perdia o interesse na pele, cheiro, nuca e mãos das outras mulheres. mesmo eu sabendo que eu preferia tudo em você a de qalquer outra mulher no planeta, eu nunca parei de explorar. também nunca achei uma explicação que me convencesse. até o dia que eu cheguei em casa e liguei a tv, pra te esperar, como eu sempre fazia. tudo que recebi foi uma ligação anunciando o tão fatídico acontecimento: um acidente de carro que resultou na sua morte. eu nunca havia ficado taquicardíaco e mudo, nem quando descobri que te amava, nem quando descobri que seria você com quem eu me casaria, nem quando você me confessou que me amava desesperadamente e isso te assustava. tudo isso me causou um vazio tão grande que ocupou toda a minha existência, em fração de segundos. eu nem precisei de tempo pra digerir a informação e sofrer em doses. eu era totalmente consciente do que você era pra mim. e eu que procurei todas, encontrei em você motivos pra me apegar. e obviamente minha reação natural foi me culpar, me martirizar pelos relacionamentos fora do nosso. e eu sabia que isso não fazia sentido nenhum, que vocÊ já sabia de tudo e me amava mesmo assim e que isso não te traria de volta, porém não consegui não sentir raiva de mim. raiva por ter sido negligente com a obviedade da minha preferência por você e não ter aproveitado o tempo de que eu era disponível pra ficar com você. raiva de quando fiquei com as outras se eu poderia estar com você. raiva do meu egoísmo pensar que eu nunca iria me confortar com a ideia de ter perdido você mesmo que não tenha sido algo sob o qual eu tivesse controle. e não era uma questão universal, eu não amava as mulheres, eu só ainda não tinha encontrado você. faz dois anos desde a ligação que me calaria, e eu ainda não superei meu amor, só amo você.

Mensagem

Ele desceu as escadas do escritório às 16h como de costume. E, como de costume, não voltou pra casa. O celular vibrou. Ele rejeitou a ligação e mandou a mensagem típica: 'Estou em reunião'.

Ela terminou de lavar a louça do almoço nas exatas 16h, como acontecia todo santo dia. Ela olhou em volta. Tédio. Ninguém. Mas que bom, eu tenho alguém que me ama. Isso basta, não? Vou ligar pra ele...

Ele sacou o telefone, ligou pra outra. Chamou, chamou e nada. Então ele entrou no carro e se dirigiu à casa dela, como sempre fazia. Decidiu tentar uma SMS.

Ele estava em reunião. Então ela se sentou no sofá pensando em como a sua vida era vazia. A sua única paz era a presença dele. Apenas. Se acostumara tanto com aquilo que desconhecia qualquer outra forma de vida. 'Só mais umas duas horas até ele chegar, calma...'

Ele digitou a mensagem: "Tô morrendo de saudade, Ju... já tô indo pra tua casa, meu amor... me atende logo. Prepara algo pra comermos que hoje eu posso ficar até mais tarde, falei pra 'ela' que tô em reunião."

Ela recebeu uma mensagem estranha no celular: "Tô morrendo de saudade, Ju... já tô indo pra tua casa, meu amor... me atende logo. Prepara algo pra comermos que hoje eu posso ficar até mais tarde, falei pra 'ela' que tô em reunião."

Ele se deu conta, de repente, que enviou a mensagem pro número errado. 'E agora, o que faço?'. Não tinha muito o que ser feito. Parou o carro, respirou fundo, pensou em alguma mentira satisfatória para o ocorrido... mas estava tão nervoso que não conseguia pensar em absolutamente nada.

Ela se perguntou sobressaltada 'quem é Ju?'. Depois, indignada 'eu sou 'ela', assim, com aspas?'. Enfim, fez a pergunta certa: 'quem é este homem que eu amo?'.

Ele decidiu ligar de volta pra pedir desculpas pela mensagem que o amigo enviou pelo seu celular e esqueceu de assinar e acabou mandando pro número errado e que poderia causar algum transtorno caso ela entendesse mal. Mas ela não atendeu. 

Ela, com sua autoestima no ponto mais baixo da escala internacional de autoestima, com a depressão no seu ápice, se perguntava o porquê. O que tinha feito de tão errado. E agora, o que faria?

Ele deu meia volta no carro. 'Droga, o que eu menos preciso agora é de uma discussão. Nossa, e se todo mundo ficar sabendo vão me crucificar... E meus pais? Droga, na festa de família semana que vem, como eu vou contar pra eles se ela não quiser ir comigo?'

Ela, conclusiva, sentou-se no sofá e começou a repetir 'Eu não posso viver sem ele. Eu não sei. Simplesmente não sei. Mas isso é demais. É demais pra mim. O que eu faço agora?'

Ele, uns vinte e cinco minutos depois, estacionou na porta de casa e nem trancou o carro quando entrou em casa. Gritou por ela desesperadamente. 'Mas ela com certeza foi pra casa de alguma amiga...'. Ele se esqueceu de que ela não tinha amigas.

[...]

Ele, sentado no sofá, apreciando compulsoriamente o silêncio da casa, ouviu gotas de água caindo. De onde vinham? Ele tentou seguir o barulho, chegando rapidamente no banheiro. E lá estava ela, numa banheira cheia de sangue, com os pulsos muito bem cortados, o rosto patético e uma faca de cozinha jogada de lado.

domingo, junho 10, 2012

Visita

Eu olho pro meu prato e penso no quanto minha mãe se esforçou pra me fazer comer. Tem tantas cores nele que, se eu tivesse algum apetite, devoraria tudo sem sequer sentir o gosto. Eu olho pro meu prato mas minha atenção está só parcialmente nele. O telefone toca e meu coração pula enquanto eu viro o meu tronco na direção do barulho. Depois eu rio da minha ingenuidade. É claro que não é ele. Não é como se ele fosse ligar pra avisar que está chegando. Mas eu sei que está. Eu volto os olhos pro prato e brinco com o bife, pico ele em mil pedaços que eu sei que eu não vou comer. E então eu penso que eu nunca deixei de ser criança. Então porque essa dor tão adulta? Mas calma, ele vai chegar, ele já está vindo. De novo meu coração começa a pular antes que eu tome consciência de que um carro atravessa a rua. Mas não é ele, claro. Não é como se ele fosse chegar de carro e buzinar e tocar a campainha e dizer 'oi'. Então eu rio de novo pra mim mesma pensando como seria engraçado se ele fizesse isso. Mas é mais complicado, eu sei. Passo a mão na franja que escapole do rabo de cavalo que eu fiz porque um dia alguém me confessou que gostava assim. Mas faz tanto tempo que eu mal me lembro quem. Então eu junto coragem e engulo um pouco de arroz com salada só pra minha mãe ficar satisfeita. Mas eu estou tão ansiosa esperando ele chegar que eu nem consigo comer. Ele não me disse que viria mas eu sei que vem. E eu sei que vai ser em breve, porque eu tenho esse nó no estômago e esse suor na palma das mãos e essa cabeça avoada e esse coração batendo acelerado e isso só acontece quando ele vem me visitar. E eu não sei nem como ele se chama, cada um chama de um jeito, mas chamo ele do nome mais genérico, com medo de errar. Alguns o chamam de paixão, uns de atração física, outros de pura biologia, outros de irracionalidade, outros de babaquice. Eu... eu o chamo de AMOR, e sei que ele vem me buscar... um dia a gente se acerta e fica em paz pra sempre, e ele vai me levar pra esse ponto na estrada onde haverá alguém me esperando e desejando ser meu.

sábado, junho 09, 2012

Procuro a solidão, como o ar procura o chão.

Meus passos me levam pra onde o silêncio domina. Meus pés caminham na direção onde parece não haver ninguém. Meu corpo prefere o meu quarto escuro e frio, onde eu posso lavar meus olhos enquanto meus pensamentos cegam a minha mente. Meus pensamentos me adoecem. Mas depois me fortalecem, creio eu. O que será de mim, se não puder enfrentar minha própria solidão? Meus arrependimentos, remorsos, meus fantasmas pessoais? Minha dor é minha, minha alegria também. Tenho tesouros, o que se costuma chamar de amigos, e estes, eu creio, se pudessem, carregariam um pouco dela pra mim. Mas não podem. Procuro a solidão, seja ela de tormento ou paz. Procuro a solidão porque preciso reaprender a lidar. Porque à noite, quando tudo escurece, e não há maquiagem, não há vozes, não há máscaras, não há mentiras, não há verbos, sou só eu e mim. E é hoje, como sempre foi. Ou como nunca deixou de ser.

sexta-feira, junho 08, 2012

Sense.

[...] Houve um momento desse nosso amor em que eu apostei meu último fôlego e resolvi esperar pelo dia em que as cartas fossem dadas em meu nome, em meu lugar. E você as deu. Alívio. Depois o desespero, porque foi na hora errada. Eu pensei, amor, que isso pudesse ser daqui a um ou seis anos, quando eu me formasse e eu fosse pra uma cidade muito longe da sua, ou quando a gente achasse que estava cansado um do outro. Eu não sei você, meu bem, mas eu acho que eu nunca iria me cansar de você. Eu acho que nós poderíamos passar todo o nosso futuro pensando que não temos futuro, e ainda assim nós iriamos nos amar. Ia passar um dia e um mês e um ano e um filho e nós pensaríamos ‘será que isso é o melhor?’, mas nós nos amaríamos tanto que não teríamos coragem de arriscar. Eu não iria me esgotar de você, eu iria viver pra sempre nesse limbo entre a incerteza e uma felicidade estonteante porém incompleta. Como explicar? Isso não faria sentido pros meus amigos nem pros seus pais nem pra muita gente nem pra única pessoa que vai ler este texto porque é a única pessoa que sempre lê o que eu escrevo. Mas faz tanto sentido pra nós dois. Eu não posso te culpar porque eu te entendo. Esse é o único ponto onde eu e você não conseguiríamos apostar tão alto, só torcendo pra que desse certo. Esse é o único ponto onde -conscientemente falando- nenhum de nós está(ria) disposto a ceder. E eu vou tentar acreditar que essa é a razão por ora, porque não quero me deixar ser invadida por esses pensamentos que me dizem que eu não significo mais nada pra você. [...]

I want you to notice when I'm not around. I wish I was special.

Você sabe o que é ter a mesma coisa na cabeça vinte e quatro horas por dia? Você sabe o que é ter o mesmo assunto voltando a todo segundo, tomando conta de toda a tua atenção? Você sabe o que é acordar no meio da noite e, antes de tomar consciência de sua existência, estar pensando em alguém, e então não conseguir voltar a dormir? Você sabe o que é, literalmente, sentir o coração acelerar no peito? Você sabe o que é ficar o dia inteiro com um nó no estômago que te atrapalha a comer, e que por isso você só come depois que seu corpo implora, e que te atrapalha a respirar, e que por isso há dias que você só respira superficialmente? Você sabe o que é aceitar com seu cérebro, entender que é racional e que, talvez, seja mesmo a melhor opção, mas ainda assim sentir vontade, a cada minuto, de chorar, e de ser capaz de tomar alguma atitude justificável para mudar o imutável? Você sabe o que é querer voltar no tempo e fazer algo diferente mesmo achando que todo passo seria em vão? Você sabe o que é amar e não se sentir amado de volta? Se sim, então você provavelmente sabe o que é sofrer por amor.

terça-feira, maio 29, 2012

If I could I'd bury your nightmares under my own pillow.

Um dia você veio me contar o seu pior pesadelo. Você que faz piada de tudo. Você que ri de qualquer coisa. Você que faz graça da própria desgraça. Você desabou ali na minha frente sem conseguir manter os olhos nos meus. Eu estava vivendo algo inusitado. Eu ouvi de você palavras como eu não ouvi de mais ninguém. E eu, que sempre pareço ter muito a dizer, fiquei muda. Eu não sabia que reação esboçar. Ou como olhar nos seus olhos. Eu não sabia se eu segurava a sua mão, se eu te abraçava, se eu chorava contigo ou se demonstrava toda a minha indignação. Mas quem sou eu pra falar de indignação diante de você? Te peço uma coisa: não menospreze o seu sofrimento. Há muita gente passando por muitos problemas talvez maiores por aí. Mas não menospreze a sua dor.
Cada vez em que você toca nesse assunto eu tenho vontade de te pedir desculpas trezentas mil vezes. Desculpas por o mundo ser sujo. Desculpas por as pessoas serem sórdidas. Desculpas por ninguém ter te protegido. Desculpas por não haver adivinhado. Desculpas por não poder sarar a sua dor.
É duro demais te ver desabando e não saber como te recompor. É ruim não poder limpar toda a memória e recompor cada pedacinho terso seu. É dolorido não poder fazer nada por você. Mas quem sou eu pra falar de dor?
Olha, tudo o que eu posso fazer é te amar. E isso, eu juro, eu tô tentando fazer da melhor forma que posso. Me desculpa, mas esse texto não saiu como eu planejei. Eu queria saber usar as palavras a meu favor, e te fazer entender o quanto eu sinto muito por só conseguir segurar a sua mão e olhar nos seus olhos e te abraçar e nada mais. Me desculpa por não ser o bastante.

segunda-feira, maio 28, 2012

[...] Isso ainda nem é um fato e eu já chorei desconsoladamente, já me inquietei, já perdi o apetite, já tive enxaquecas, já chorei de novo e já rolei na cama sem conseguir dormir. Isso ainda nem é um fato, mas há palavras, meu bem, que não têm volta quando são ditas. [...]

domingo, maio 27, 2012

Cause when i'm with everyone else I am thinking of you.

Eu vesti o meu melhor vestido - aquele que você disse que gostava-, me maquiei, mas não era você quem estava aqui pra ver. Eu passei meu melhor perfume, mas não foi você quem deitou a cabeça nos meus ombros e quis sentir meu cheiro. Eu arrumei meu cabelo, mas não foi você quem tentou flertar comigo passando os dedos entre os fios. Não foi você quem se inclinou pra me ouvir falar e ao mesmo tempo tentar sentir o meu hálito. Não foi você que me pediu sutilmente um beijo. Eu ensaiei a minha melhor música e não era você quem estava aqui pra ouvir. Não era você que estava em volta o tempo todo buscando uma forma de se aproximar. Meu telefone tocou mil vezes e não era você. Eu recebi centenas de mensagens e nenhuma delas vinha de você. Eu ouvi que eu estava linda como sempre. Ouvi que eu era ponto fora da curva, que eu era incrivelmente inteligente. Ouvi que alguém me desejava não tão em silêncio. Eu ouvi alguém me pedir por carinho. Eu senti os braços de alguém em volta do meu ombro. Mas nada disso veio de você e eu me pergunto se isso é melhor do que nada?

domingo, abril 29, 2012

Desde mi sangre hasta la esencia de mi ser...

Você me olha nos olhos e pergunta de novo 'o que foi'. Eu desvio rápido o olhar, suspiro e digo 'nada'. Você não se convence. Então eu corrijo minha postura, neutralizo minha expressão e repito 'nada, sério', tentando não transparecer meu desespero, tentando não gritar que não é nada e sim tudo. Mas eu não posso te contar. Não posso te contar que eu te amo mais do que meu corpo permite, que eu te amo mais do que meu horário deixa ser. Que eu te quero mais do que todas essas pessoas à minha volta juntas. Eu não posso te dizer que, apesar de que você não foi a razão de eu estar aqui, você definitivamente é a razão de eu não querer estar em nenhum outro lugar. Eu não te conto que todas as pessoas não passam de um bando de babacas fazendo fila pra chegar primeiro no fundo do poço da minha escala de relevância, e que eu nunca prefiro a presença de ninguém à sua nessa cidade. Eu não te conto que eu tenho me forçado a rir com os outros pra que você não pense que eu estou tão só. Ou que eu tenho evitado sorrir pra você pra que você não perceba o quanto eu te preciso.
Meu Deus, como eu te preciso...
[...]

sábado, abril 28, 2012

"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? (jeremias 17.9)"

Coração

Meu estômago revira, meu corpo se recusa a reagir e minha cabeça dói. E eu só consigo me perguntar como é que o meu cérebro consegue me pregar essa peça? Ele não deveria ser racional e preservar o meu físico de toda essa destruição? Mas a dor que eu estou sentindo se espalha por todo o meu corpo. Eu me enrolo, deito de barriga pra baixo, de barriga pra cima, e espero o sono vir. Eu não consigo ficar em pé, eu não consigo estudar, eu não consigo fazer nada do que eu tenho que fazer. Eu estou com fome e até agora não comi. Mas o meu cérebro não me deixa dormir. O sono não vem. Estou prostrada mas não consigo dormir em paz. 
Eu não consigo enganar meu corpo porque ele sabe que já chegou o fim. Ele vê isso nos seus olhos. Ele sente isso na forma como você me toca.
E ele me subjuga. Eu não vou dar nenhum passo porque eu não saberia como. Se eu tentasse, eu tropeçaria no meu próprio pé. E como eu iria explicar aos outros que eu soltei sua mão porque escolhi soltar? Depois de te amar tanto e de continuar amando? Te amando e sendo amada por você de forma tão intensa e simplesmente escolhendo que não deveria ser assim?
É verdade, sim, eu te amo. Sei disso porque eu ando na rua mas eu só me importo com o olhar que você dirige a mim. Sei disso porque eu conheço um tanto de caras legais mas é só de você que eu sinto solidão. Sei disso porque cada gesto bonito seu me deixa inebriada. Porque eu passo a semana ocupada mas quando chega a sexta feira a noite meu corpo procura avidamente por você. Sei disso porque quando você me abraça eu não tenho pressa de mais nada.
Sei disso porque sei com cada célula do meu corpo.

segunda-feira, abril 16, 2012

Agenda

Eu estou enrolada em dois cobertores e isso não é suficiente porque meu corpo ainda está frio. E isso não é por causa do clima instável ou de uma frente fria inesperada ou por causa do cobertor fino. Isso tudo é porque falta calor em volta dos meus braços trêmulos e em volta das minhas mãos vacilantes sobre esse papel tosco.
Eu fecho os olhos e tento dormir mas a minha memória estúpida insiste em repetir tudo aquilo que parece estar errado e em reprimir todas as memórias que poderiam fazer bem ao meu estômago. Náuseas. Então eu espremo as órbitas tentando esconder a imagem de você sentado à minha frente enquanto eu fazia papel de idiota abrindo meu coração, parecendo uma criança mimada chorando sem motivos e eu sei que eu não sou só isso.
Eu sou mais do que alguém que quer dominar o objeto do seu amor. Eu sou mais do que uma pirralha mimada que esqueceu de amadurecer. Eu sou mais do que alguém que não sabe lidar com responsabilidades ou compromissos. Eu sou mais do que isso. Ou não. (?)
Eu sou mais. Insistentemente mais do que isso. Eu sou alguém que infelizmente ama na hora que dá na telha e que sente saudades na véspera do dia de provas e que quer andar de mãos dadas atrasada pra ir pro trabalho. Eu sou alguém que não se cansa de olhar nos olhos. Eu sou alguém que tem urgência de sentir intensamente e que se importa com demonstrações de afeto. Eu sou alguém que corre pra abraçar.
Então eu te pergunto: porque você insiste em me amar dessa forma tão lamentavelmente pouca e tediosamente sóbria, com hora pra chegar, com olhar cansado, com segundos contados e pressa de partir?
Eu preferi(ri)a te ver uma vez em muito tempo se a cada vez você viesse com pressa de me amar e com lábios urgentes, se você deixasse o mundo de lado e tivesse olhos só pra mim por meia hora. Então porque você insiste em me marcar entre um horário e outro? E porque você está sempre tão ocupado enquanto eu choro de solidão? E porque você insiste em esperar que eu adivinhe de onde é que vem essa droga de amor que você não me conta nem me mostra nem me faz sentir?
Eu não vou ser mais a criança mimada que reclama porque preparou a refeição e comeu sozinha. Ou que chora porque passou o final de semana sem receber uma ligação.
Ao invés disso eu vou tentar ser essa adulta débil e insegura que pensa que não é amada mas que passa maquiagem às 6h da manhã pra conquistar elogios fúteis e se sentir bonita, que almoça com os colegas de trabalho e que sai à noite com o que costumam chamar de amigos, que ri e se diverte, e que dorme na casa de uma garota legal só pra ocupar seu final de semana vazio e infeliz, e que chora à noite porque nada disso é verdade.
Eu vou ser essa adulta que ama se der tempo e que dá carinho quando encaixar no horário e que finge entender essa falta constante de tempo pra tudo e que se ocupa com suas próprias coisas e obrigações só pra abafar a miserabilidade do ser, tudo isso pra não te atrapalhar a viver sua vida tão ocupada e satisfatoriamente preenchida com tudo menos eu.